A Guerra dos Seis Dias (1967) e as acções armadas das organizações da OLP colocaram de novo o foco na questão palestiniana. A unidade da OLP e a correlação de forças mundial então existente (apoio dos países socialistas e do movimento dos países não-alinhados) deram-lhe lugar central na ONU. Nas Resoluções 3210 e 3236, de 1974, a Assembleia Geral das Nações Unidas reafirmou o direito do povo palestiniano à independência e soberania e ao regresso dos refugiados, reconhecendo «o direito do povo palestiniano a reconquistar os seus direitos por todos os meios». Reconheceu a OLP como «a organização representativa do povo palestiniano».
Foi neste contexto que Arafat e a OLP aceitaram a criação dum Estado independente da Palestina apenas na Margem Ocidental e Faixa de Gaza, com Jerusalém Leste como capital, ou seja, em apenas 22% do território histórico da Palestina, deixando para já de parte a exigência histórica da criação dum Estado único para todos os habitantes do território histórico da Palestina.
O reconhecimento internacional da legitimidade da causa palestiniana teve expressão no Portugal saído da Revolução de Abril. Em Novembro de 1979, Lisboa acolheu a Conferencia Mundial de Solidariedade com o Mundo Árabe e a sua Causa Central, a Palestina, dinamizada pelo CPPC. Yasser Arafat veio a Portugal, participando num memorável comício de solidariedade no Pavilhão dos Desportos de Lisboa. Arafat foi recebido pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes, pela primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo e por Álvaro Cunhal, Secretário-Geral do PCP. Tratou-se da primeira recepção oficial de Arafat e a OLP pelas mais altas instâncias dum país da Europa capitalista (o apoio das potências imperialistas a Israel tem uma longa história).
Foram Israel e o seu eterno padrinho, os EUA, que impediram que a “solução dos dois Estados” se concretizasse. Eternizaram-se a ocupação, a guerra e a repressão. O bloqueio do processo originou a primeira Intifada (revolta popular) palestiniana (1987-93).
A situação agravou-se com a ofensiva do imperialismo no final do século XX. Sob a hegemonia dos EUA, foram impostos os Acordos de Oslo (1993 e 1995), com que a OLP reconhecia Israel, mas Israel apenas reconhecia a OLP e uma Autoridade Palestiniana com competências limitadas, e não um Estado palestiniano soberano. Oslo foi causa de divisão e ruptura no seio da OLP e alimentou o ascenso das forças islâmicas que o rejeitaram. Mas foi Israel que recusou cumprir os Acordos que assinara. A oposição a Oslo não foi apenas a rampa de lançamento da ascensão política de Netanyahu, actual primeiro-ministro de Israel. Esteve na raiz do assassinato pelo extremismo sionista, em 1995, do Primeiro Ministro israelita que os assinou, Yitzhak Rabin.
Em 1996 Arafat foi eleito Presidente da Autoridade Palestiniana, com 88,2% dos votos. Mas o bloqueio por Israel de qualquer processo político ficou simbolizado pelos cercos israelitas que o mantiveram refém na sua residência presidencial de Ramalá. A saúde de Arafat deteriorou-se. Morreu num hospital militar em Paris, em 2004. Um diagnóstico completo das causas da sua morte nunca foi oficialmente divulgado. As suspeitas de que terá sido envenenado por Israel são generalizadas. E encontram sustentação no comunicado oficial do governo israelita de 11.9.2003, que afirma: «Arafat é um obstáculo completo a qualquer processo de reconciliação [...]. Israel trabalhará para remover este obstáculo da forma, e no momento, da sua escolha». Para que não restassem dúvidas, o vice-Primeiro Ministro Olmert esclareceu dias depois à comunicação social que «matar Arafat […] é seguramente uma opção».
O que Israel diz e faz hoje com os dirigentes do Hamas e de outras organizações da resistência ao genocídio não é diferente de como tratou o grande dirigente palestiniano que aceitou encetar um processo político e reconhecer a existência de Israel. Israel nunca aceitou reconhecer os direitos nacionais do povo palestiniano. E qualquer dirigente que permaneça fiel aos interesses do seu povo, como foi o caso de Arafat, é confrontado com a violência e terror sionistas.
Ao assinalar os 20 anos do falecimento de Yasser Arafat é oportuno lembrar a solidariedade de sempre do PCP com a causa nacional palestiniana e que entre o PCP e a OLP e as suas diferentes componentes se estabeleceram sólidas relações de amizade e solidariedade. Álvaro Cunhal e Yasser Arafat encontraram-se em várias ocasiões, em Portugal e no Líbano, e a histórica saudação de Arafat à Festa do Avante!, realizada em 2003, é de inestimável valor e significado internacionalista.
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As reportagens existem nos arquivos da RTP (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/visita-de-yasser-arafat-a-lisboa/) mas, por alguma razão, estão actualmente «indisponíveis».
https://electronicintifada.net/content/full-text-israels-cabinet-communique-citing-removal-arafat/4765
https://www.cbsnews.com/news/killing-arafat-an-option/