Pobreza é problema social que tem de ser combatido e erradicado
Fernanda Mateus, da Comissão Política, proferiu, pelo Partido, uma declaração sob o mote «A pobreza é um problema social: não basta mitigar, é preciso combater e erradicar», no dia 4, na sede da Soeiro Pereira Gomes.
Pensões e salários baixos e desinvestimento em serviços públicos são esteio da pobreza
«A pobreza é um grave e persistente problema social que permanece na sociedade portuguesa», começou por afirmar a dirigente comunista, para quem o «combate e prevenção da pobreza não tem resposta no prosseguimento da política de direita». Estas opções, afirmou, continuam o caminho do fomento, reprodução e aprofundamento das desigualdades sociais, resultantes da desvalorização de salários e pensões e do desinvestimento nos serviços públicos e funções sociais do Estado.
«É nesta realidade social que se encontra o esteio da pobreza, nas suas múltiplas dimensões, associado ao empobrecimento de amplos segmentos dos que têm como única fonte de rendimento o seu trabalho ou a sua pensão», destacou.
Soluções alternativas
Fernanda Mateus alertou para as «recorrentes palavras de preocupação com a pobreza» por parte de sucessivos governos e das forças da política de direita, que mais «não passam de lamentações inconsequentes», pois o verdadeiro combate e erradicação da pobreza tem de passar, necessariamente, pela «ruptura com a política de direita».
Têm de ser implementadas, sublinhou, «soluções alternativas que articulem a urgência em quebrar a espiral de pobreza sem saída (em que milhares de trabalhadores, reformados, crianças e jovens se encontram), romper com as desigualdades na distribuição da riqueza pelos que a produzem ou produziram […] e garantir que as funções sociais do Estado asseguram o acesso de todos a direitos sociais básicos, como a saúde, educação ou o direito a viver numa habitação condigna».
Apesar de frisar a importância do sistema público de Segurança Social na redução do risco de pobreza, Fernanda Mateus lamentou, ainda, os baixos valores das prestações sociaisdo regime não contributivo, que «estão sujeitas a apertados critérios de condição de recurso que se traduzem em montantes muito baixos para quem as recebe e na injusta exclusão de acesso de muitos cujos rendimentos os colocam numa situação de pobreza».
Pobreza é para acabar
Quanto às medidas de mero pendor assistencialista e caritativo visando mitigar a privação de bens e serviços essenciais, a dirigente comunista mencionou que estas ignoram verdadeiras soluções de alcance social e político na promoção da autonomia económica e social dos atingidos por essa condição. Estas medidas «não são saída para libertar os muitos enredados na espiral de pobreza», vincou.
Há problemas...
Assistimos, em Portugal, a diversos dados que comprovam uma situação preocupante de empobrecimento da população, que mostram o descaso da política de direita em lidar com este problema social.
Na população portuguesa como um todo...
20,1% em risco de pobreza monetária (rendimentos
498 000 em privação material e social severa
17% em risco de pobreza após transferências sociais
Mais 0,6% que no ano anterior
Seriam 41,8% sem qualquer transferência social do Estado
20,7% das crianças e jovens em risco de pobreza
Noutros factores…
7,5% não consegue fazer uma refeição por mês com família ou amigos
6,9% não consegue substituir roupa usada por nova
10,6% não consegue participar regularmente numa actividade de lazer
Bem como nas casas dos portugueses...
12,9% sobrelotadas
6% sem condições de habitabilidade
20,8% sem conforto térmico
No entanto, a situação é bem mais vasta do que o que estes números traduzem, porquanto muitos, com rendimentos acima dos 591 euros, vivem situações de privação e empobrecimento.
Entre os trabalhadores e desempregados, os valores são igualmente alarmantes, fruto de baixos salários (o SMN é, apenas, de 820 euros, e o salário médio é de 1640) e de baixos níveis de protecção social.
Estão em risco de pobreza…
10% dos trabalhadores
46,7% dos desempregados
Mas, também, entre os trabalhadores…
20,3% recebe apenas o SMN
Quase 840 mil trabalhadores
Além disso, na população portuguesa, por falta de rendimentos…
30,5% não pode pagar despesas inesperadas
10,1% não pode gastar, por semana, dinheiro consigo mesma
A situação é também preocupante entre os reformados, pensionistas e idosos, que representam cerca de um terço da população portuguesa, dos quais uma parte significativa vive com pensões de miséria.
Dos reformados, pensionistas e idosos…
+1 milhãovive com menos de 510 €/mês
15,4% está em risco de pobreza
A situação também não se avizinha positiva nos serviços públicos e funções sociais do Estado, importantes instrumentos para a superação de desigualdades e injustiças sociais, e, portanto, o combate e erradicação da pobreza e do empobrecimento.
Tanto nos lares e centros de dia, como em creches e outros equipamentos e funções sociais, é notável o descaso do Estado, que se traduz numa falta de resposta pública.
Há apenas…
12% de taxa de resposta de lares e centros de dia
51% de taxa de cobertura de creches
Para 233 mil crianças de 0 a 3 anos, há 120 mil vagas em creches
Mas, também, noutros serviços públicos, como na saúde, onde…
50% do orçamento irá para os grupos privados
Face à ausência de reforço de profissionais do SNS
Já as despesas públicas com abono de família correspondem a…
1,5% do PIB
A média na UE é de 2,3%
Fontes: INE, PORDATA, EDUSTAT e Carta Social
...mas também há soluções!
Tal como afirmou Fernanda Mateus, a «pobreza não é uma fatalidade histórica ou cultural, mas consequência de opções políticas que continuam a marcar a vida do País». Nesse sentido, realçou, o PCP (tal como tem feito até agora) intervirá no debate do OE 2025 com propostas que contribuam para dar combate à pobreza, das quais se destacam:
• Actualização de todas as pensões em 5%, não inferior a 70 €
• Aumento das pensões mínimas do regime previdencial e criação de dois novos escalões
• Aumento para 14 meses do pagamento do complemento solidário para idosos
• Melhoria da prestação social de inclusão e aumento em 70 € da sua componente base
• Redução do IVA para 6% na electricidade, gás e telecomunicações
• Criação de uma rede pública de creches com 100 mil vagas até 2028
• Abertura de pelo menos mais 150 salas de educação pré-escolar
• Universalidade do abono de família, alteração dos limites de apuramento dos rendimentos e reposição do pagamento do 4.º, 5.º e 6.º escalões
• Criação de uma rede pública de lares da Segurança Social com 80 mil vagas até 2026
• Reforço da rede de equipamentos e serviços de apoio a idosos
• Promoção efectiva da habitação social pelo Estado