A ONU declarou o dia 10 de Novembro como Dia Mundial da Ciência pela Paz e o Desenvolvimento, o que actualmente assume particular importância: seja pela quantidade de conflitos que a Humanidade enfrenta, seja pela corrida aos armamentos cada vez mais sofisticados a que assistimos, seja até pelas mudanças climáticas que provocam deslocações forçadas, refugiados e mortes e que podem ser origem e consequência de mais conflitos, a que também se pode acrescentar a evolução da Inteligência Artificial.
É certo que o conhecimento científico e os desenvolvimentos tecnológicos que permite têm, desde sempre, estado associados à evolução dos meios militares, armas e sistemas de armamento. É disto exemplo o surgimento da bomba atómica/nuclear e o seu uso há quase 80 anos, mantendo-se as preocupações que conhecemos. Tal como é o desafio que a Inteligência Artificial está a provocar, envolta em anseios e receios, com escassez de respostas para as inúmeras questões e dilemas éticos que suscita, incluindo em termos de ciber-seguranca, sendo certo que a ciência deve estar sempre ao serviço da Humanidade.
Sabemos que ao longo dos anos muitos cientistas se têm preocupado com a utilização do conhecimento científico e das tecnologias, sobretudo em conflitos armados, tendo em conta que as potências mais poderosas acabam por dominar, provocando a destruição e morte de populações, para impor as suas regras e os seus interesses utilizando o desenvolvimento científico e tecnológico.
Conflitos multiplicam-se
Os conflitos multiplicam-se, envolvendo dezenas de países em diversos continentes, mas onde é notório o domínio dos EUA/NATO e das potências europeias seguidistas, agindo cada vez mais ao arrepio ou mesmo frontalmente contra o direito internacional. Isto é escandalosamente claro no apoio directo a Israel, que mantém a ocupação, colonização e destruição da Palestina, o genocídio do povo palestino, e bombardeia impunemente diversos países, incluindo Líbano, Síria, Iémen, pondo em causa a paz no Médio Oriente e ameaçando o próprio futuro da Humanidade.
Entretanto, com o arrastar do conflito na Europa – sem que a União Europeia se assuma como uma construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu –, na África e no Médio Oriente, como o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, salientou: «a tecnologia (do “Ocidente”), que marcou o progresso e globalizou o mundo, sozinha não basta; e muito menos bastam as armas mais sofisticadas, que não representam investimentos para o futuro, mas empobrecimento do verdadeiro capital humano que é a educação, a saúde, o Estado social.»
Na verdade, os EUA mantêm mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo e encabeçam uma renovada corrida aos armamentos nucleares, envolvendo colossais meios humanos, materiais e financeiros. Actualmente, os decisores políticos americanos e os seus seguidores europeus tendem a esquecer o aviso de Jonh Kennedy, no famoso discurso da American University (10/3/1963): «as potências nucleares devem evitar confrontos que coloquem o adversário perante a escolha entre uma retirada humilhante ou uma guerra nuclear.»
Apelo à paz e ao desarmamento
Por isso, se considera da maior importância simbólica a atribuição recente do prémio Nobel da Paz à organização japonesa Nihon Hidankyo, de sobreviventes das bombas atómicas de Hiroxima e Nagasáqui, e a petição lançada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) a insistir na assinatura e ratificação por Portugal do Tratado de Proibição das Armas Nucleares.
Importa aqui referir o apelo à paz, desarmamento e cooperação que a Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos lançou no passado mês de Agosto, afirmando ser essencial para tornar viável um futuro para a Humanidade, que «o risco de possível eclosão de uma guerra nuclear total não pode ser excluído, com as terríveis consequências que teria para a sustentabilidade da vida na Terra, à excepção, possível, das mais primitivas formas de vida. Admitindo a possibilidade, hoje real, de um tal desastre, apelamos a todos os Trabalhadores Científicos para que se envolvam num debate livre e sério sobre as origens da ameaça e as medidas que devem ser tomadas para a evitar».
A cultura da paz e a educação para a paz visando o diálogo, a cooperação e a solidariedade entre os povos e os Estados, são essenciais para a mobilização popular na defesa da paz, o maior desafio do nosso tempo, a que o CPPC procura dar a maior atenção na exigência do cumprimento do direito internacional e da Constituição da República Portuguesa.