2003 – História do aborto séc. XIX e XX

A obra sobre a história do aborto publicada há mais de duas décadas pelas historiadoras Catherine Valenti e Jean-Yves Le Naour permanece uma referência nesta matéria. O livro aborda as posições face ao aborto, acidental ou provocado, nas sociedades ocidentais desde a Antiguidade até aos nossos dias, sublinhando o facto de, antes dos avanços da medicina moderna, ser quase impossível distinguir um falso parto de uma interrupção voluntária da gravidez, pelo que durante muito tempo a questão foi ignorada e/ou ocultada, em particular durante a Idade Média. Os textos mais antigos mostram que o aborto era visto como um atentado ao direito à propriedade do páter-famílias, o “pai de família”, que detinha o poder de vida e de morte dos seus filhos, os quais podia mesmo abandonar em caso de adultério ou quando uma filha solteira engravidava. Ao contrário do que procuram fazer crer alguns dos actuais opositores do aborto, não se tratava de proteger o feto, que ninguém considerava um ser vivo. Após muitos avanços e recuos e muitas lutas feministas, os primeiros sinais de emancipação surgem no início do séc. XX e ganham forma após a Primeira Guerra Mundial. Em 2024, a França torna-se o primeiro país do mundo a inscrever o direito ao aborto na Constituição.