- Nº 2655 (2024/10/17)

Grande desfile em Lisboa em solidariedade com a Palestina e pela paz no Médio Oriente

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A jornada nacional de solidariedade «Palestina Livre! Paz no Médio Oriente» culminou no sábado com um grande e emocionante desfile em Lisboa. Ao longo de 10 dias tiveram lugar 19 acções noutras tantas localidades do País: em todas se exigiu o fim do genocídio na Faixa de Gaza, da repressão na Cisjordânia, da invasão do Líbano, dos bombardeamentos à Síria e ao Iémene, das provocações contra o Irão; a libertação de todos os presos; o fim da ocupação e da impunidade de Israel; a garantia dos direitos nacionais do povo palestiniano; a paz no Médio Oriente.

Estas exigências prosseguirão, pois a jornada terminou mas a solidariedade continua. Ainda mais forte.

A solidariedade não esmorece, por mais dura que seja a realidade – e a que por estes dias se vive na Palestina e no Líbano não tem paralelo, pelo menos nas últimas décadas. A cada nova escalada de guerra concretizada por Israel (com o mal disfarçado apoio dos EUA, da NATO e das principais potências da União Europeia), são mais os que juntam as suas vozesàs dos que exigem a paz no Médio Oriente e uma Palestina livre.

O desfile de Lisboa, que no sábado culminou a jornada que desde dia 2 percorreu o País, mostrou isso mesmo: milhares, muitos milhares, percorreram as ruas da Baixa de Lisboa, unindo a Praça do Martim Moniz à do Município, denunciando os crimes de Israel, exigindo um cessar-fogo imediato e permanente, saudando a resistência dos povos palestiniano e libanês.

Muitos fizeram-no integrados nas suas organizações, com as quais todos os dias desenvolvem a luta pela paz e a solidariedade. Outros trouxeram de casa os seus próprios cartazes, com as suas razões, no essencial semelhantes às que enquadravam aquela acção: «cessar-fogo já»; «parar o genocídio»; «Paz no Médio Oriente, Palestina independente»; «parem de armar Israel»; «fim à ocupação»; «Israel mata, Portugal cala»; «parem a guerra contra as crianças»; «e se fossem os teus filhos?» – foram apenas algumas delas.

Criatividade e determinação
Ao longo do percurso, animado com palavras de ordem, canções e grupos de bombos – em particular os Ritmos da Resistência –, foram muitas as expressões de solidariedade por parte de quem passava naquela concorrida zona de Lisboa: trabalhadores, imigrantes, turistas. Solidariedade essa que até se expressava em alguns semáforos – «STOP Israel», na luz vermelha; «Free Gaza», na verde. Houve até “cabeçudos” – de Netanyahu, Biden e Von der Leyen – a denunciar os criminosos e seus cúmplices.

Para além das quatro organizações promotoras da jornada – o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e o Projecto Ruído – Associação Juvenil –, muitas outras se juntaram ao desfile e às suas reivindicações: associações juvenis e estudantis, estruturas sindicais, organizações anti-racistas, antifascistas e de defesa dos direitos humanos, grupos culturais.

Na Praça do Município, para onde confluíram todas estas vozes – que a uma só voz repetiram «Palestina vencerá!» e «Paz sim! Guerra não!» – tiveram lugar as intervenções: de Ilda Figueiredo, do CPPC; Tiago Oliveira, da CGTP-IN; Carlos Almeida, do MPPM; Inês Reis, do Projecto Ruído; da palestiniana Noor Tibi; e de Alan Stoleroff, do Colectivo Judeus pela Paz e a Justiça.

De Norte a Sul, no Continente e nas Ilhas
Não foi só em Lisboa que a exigência de paz no Médio Oriente e a solidariedade com os povos palestiniano e libanês se fez sentir por estes dias. No próprio sábado, em Vila Real, houve uma concentração, que nem a chuva impediu. Na véspera, 11, no Funchal, o artista plástico Francisco Simões pintou um mural alusivo à situação no Médio Oriente e, em Faro, uma sessão uniu a poesia de Rogério Cão, Sara Martins e Rollin Rachele à música de ZH & VIL, Domingos, Genoveva Faísca e Peyoti for President. Em Sines, realizou-se um debate.

No dia 10, uma manifestação em Braga começou e terminou no Largo de São Francisco, percorrendo as ruas do centro histórico da cidade, e em Espinho teve lugar uma concentração. No dia 9, em Beja, houve um desfile pela paz e em solidariedade com o povo palestiniano, com a inauguração de um mural e a leitura de testemunhos de palestinianos que há décadas são sujeitos à opressão e humilhação. No mesmo dia, houve um outro desfile, mas em Viana do Castelo.

A segunda semana da jornada (da primeira demos nota na anterior edição) iniciou-se no dia 8, com duas acções: uma concentração em Leiria, com a participação solidária dos artistas Kartek (DJ e produtor), Gualter S (bailarino), e Luis “Frio” (pintor), que elaborou uma tela; e uma acção pública na Guarda.

Em todas estas iniciativas houve intervenções de representantes das organizações promotoras.

 

PCP solidário

A meio da Rua do Ouro, uma delegação do PCP saudava os participantes no desfile e os motivos que mais uma vez trouxera tanta gente às ruas. Em declarações aos jornalistas, o Secretário-Geral, Paulo Raimundo, denunciou o massacre que desde há um ano mata milhares de pessoas, desde logo crianças, e alertou para as proporções que o conflito hoje assume: «não se imagina o que pode vir a acontecer.»

«É preciso exigir que Israel e os Estados Unidos parem este massacre, que a UE deixe ser cúmplice e hipócrita deste massacre e que o Governo português, de uma vez por todas – sem que isso resolva tudo – reconheça o Estado da Palestina, como um contributo decisivo para pressionar Israel a acabar com este massacre que está em curso», salientou, colocando o Governo perante um dilema: ou «continua calado e cúmplice do que está a acontecer a esta hora em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano e no Médio Oriente, ou toma a iniciativa de tomar iniciativa».

Paulo Raimundo colocou duas questões fundamentais: impor o fim da transferência de armamento para Israel e reconhecer o Estado da Palestina. «Não há nenhuma justificação para que não o faça», acrescentou.

 

Vozes resistentes, solidárias e determinadas

“Queremos e sabemos que é urgente e necessário recolocar a paz no centro da agenda mundial, reafirmar o primado dos princípios da Carta da ONU e do direito internacional. É necessário o respeito e o cumprimento dos direitos nacionais do povo palestiniano, com a criação do Estado da Palestina nas fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém, de acordo com as resoluções da ONU. (…) A luta pela paz contém em si a luta pela liberdade, pela justiça social, pelo progresso, por um mundo melhor.”

Ilda Figueiredo, CPPC


“Israel comete estes crimes com o apoio da União Europeia, dos Estados Unidos da América e seus aliados da NATO, que continuam a apoiar militar e financeiramente a máquina de guerra israelita e a fomentar a escalada de tensão e armamento por todo o mundo. Aos trabalhadores não nos serve a guerra. Aos trabalhadores só serve a resolução política e pacífica dos conflitos, a cooperação entre os povos, a paz.”

Tiago Oliveira, CGTP-IN


“E aí temos, de novo instalada, a banalidade do mal. Em Gaza como em nenhuma parte do mundo, em algum momento da história, morrem jornalistas, médicos, professores, funcionários das Nações Unidas. Em Gaza, acumula-se o maior número de crianças amputadas da história moderna, disse-o há dias uma alta funcionária da ONU. Em Gaza, foi criada uma nova categoria de pessoas: ‘crianças feridas sem familiares sobreviventes’.”

Carlos Almeida, MPPM


“É urgente denunciar um genocídio em curso praticado por Israel, mas também os que, por acção e omissão, têm nas mãos o sangue da juventude e do povo palestiniano. Os que, entre pseudo-apelos frouxos pela paz, lhes vendem armas e que cooperaram para a aniquilação de um povo e pelo alastramento da guerra a todo o Médio Oriente. Sim, falo dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, da União Europeia (…).”

Inês Reis, Projecto Ruído – Associação Juvenil


“Eu não vou relembrar os horrores do último ano: a limpeza étnica, o massacre, as mutilações e a fome de toda uma população – crianças, idosos, mulheres grávidas, profissionais de saúde, jornalistas. (…) Todos nós sabemos. O mundo sabe. Os israelitas gabam-se disso – os membros do governo, os apresentadores de televisão, até os soldados que exibem os seus crimes no TikTok, sem vergonha e com total impunidade.”

Noor Tibi, palestiniana a viver em Portugal


Esta é a passagem mais vergonhosa da história do nosso povo, do povo judeu, e da memória das vítimas da Shoah [Holocausto]. Estamos lado a lado com as nossas irmãs e irmãos palestinianos gritando palavras de ordem como ‘Nunca mais é agora!’. Escolhemos o caminho da vida, da liberdade e da solidariedade, escolhemos juntos o caminho da paz e da justiça para todos.”

Alan Stoleroff, Judeus pela Paz e a Justiça

(excertos das intervenções proferidas no final do desfile de Lisboa)