- Nº 2654 (2024/10/10)

Valores de Abril ganham vida em mural no centro de Lisboa

PCP

No âmbito do projecto Cumprir, será inaugurado, no dia 13, um mural colectivo de azulejos em Lisboa. Nesse sentido, o Avante! foi conversar com Miguel Januário, responsável pela direcção artística da iniciativa.

Na Calçada do Carmo, no dia 5, entre andaimes, já se avistava o resultado final: 924 azulejos, das mais variadas cores, representando conquistas, direitos, valores…enfim, Abril.

Ali, Miguel Januário, 43 anos, designer e artista plástico, membro do PCP, revelou-nos a origem do projecto: «parte do Partido, que me desafiou a fazer uma curadoria de murais pelo País com artistas, para os 50 anos do 25 de Abril».

No entanto, disse, a ideia foi mudando, ganhando forma num desafio à comunidade em geral, que pintou azulejos para se integrarem em painéis alusivos ao cumprimento de Abril e da Constituição da República Portuguesa (CRP).

«Aí surge o nome do projecto», afirmou.

Um ano de oficinas

Vendo os azulejos de perto, era difícil perceber o percurso que os levou até ali, no que fomos esclarecidos: um ano de oficinas, coma primeira na Festa do Avante! 2023. «Foi incrível, tivemos cento e tal pessoas a participar», recordou.

«Depois, começámos a fazer oficinas no Porto e Lisboa», onde,disse, «se cumpriu, também, essa coisa tão democrática da reflexão, do pensamento, da troca de ideias».

O artista referenciou, por exemplo, os stencils com artigos da CRP, utilizados na pintura, que obrigaram «as pessoas a irem consultar as constituições de bolso que tínhamos nas oficinas, e a ir ver o que é que significavam», em dimensões como a habitação, trabalho ou igualdade.

«No fim», afirmou, a rir, «desapareciam sempre algumas constituições, o que é muito bom, porque as pessoas queriam levá-las para casa e tê-las como objecto de consulta».

Quanto aos artistas, vincou, não ficaram de fora. Mas, referiu, que «mais bonito ainda é teres ao lado do azulejo de uma criança ou de um senhor de idade, o azulejo de um artista».

Imagem que se avista

Questionado sobre a imagem que, de longe, é formada no mural – um cravo e a palavra «CUMPRIR», com letras inacabadas, símbolo do Abril ainda está por cumprir –, o designer afirmou que esse foi o seu trabalho de direcção artística, «conceptualizar o projecto» e, depois, «olhar para os azulejos, separar por cores e começar a pensar o que é que se podia fazer com isto».

Espaço (que deve ser) de todos

Miguel Januário vincou, ainda, uma ideia essencial do projecto: «reclamar o espaço público, que é cada vez mais tomado pela publicidade e pela privatização». Exemplo disso, são as cidades, «onde está tudo mais caro, como a habitação, e com um espaço tornado cada vez mais luxuoso e difícil de ser nosso. E esta reclamação do espaço público é, também, importante, porque o espaço é nosso, é das pessoas».

Também no Porto, será inaugurado (apesar de ainda sem data e local definidos) um mural integrado no projecto. Ambos os murais são ofertas do PCP às cidades de Lisboa e do Porto e assinalam os 50 anos da Revolução de Abril.