Nas paisagens de Hogan o luxo da solidão é o espelho da harmonia do mundo. É um mundo de paisagens expurgada de acessórios, reduzida às suas formas essenciais em que se explora as suas arquitecturas raras vezes interrompidas por uma toalha de água, em que o céu quando surge é superlativo. Pintura de equilíbrios dos poliedros cromáticos, denunciando a solidez da ordem invisível da natureza como se quisessem fazer soar os movimentos de translação do arco ferindo as cordas do violoncelo, fazendo voar o sonho nos pentagramas das rochas, desocultando a pulsação da vida na organicidade dessas paisagens que quando as contemplamos são janelas onde aplainamos as nossas iras e as nossas alegrias, as nossas vivências e os nossos falecimentos, os nossos enganos e desenganos, as urgências das nossas paixões.
Hogan, que como ninguém pintou o silêncio da terra, irá uma única vez cortá-lo com um grito brutal. Homem socialmente empenhado, comunista convicto, invectiva bem alto o seu espanto, indignação e raiva em «Morte no Alentejo» com os corpos de Caravela e Casquinha a derramarem na aspereza da terra os anos que não mais viverão.
A terra silente travessando equinócios e solstícios irá retornar às suas telas que, parafraseando Oscar Wilde quando escreveu que o nevoeiro não existia antes de Turner, permitem afirmar que as paisagens não existiam antes de Hogan.
É este Hogan que podemos admirar numa pequena mas significativa exposição no Panteão Nacional até 1 de Dezembro, com 12 obras, produzidas entre 1957 e 1975, em papel e tela, em xilogravura, água-tinta ou óleo, e ver o documentário «Hogan – O Pintor», realizado por Teresa Martha, produzido pela Fundação Calouste Gulbenkian, que lhe dedicou uma exposição antológica em 1992.