- Nº 2650 (2024/09/12)
Concerto sinfónico

Divulgar com brilhantismo a música portuguesa

Festa do Avante!

O concerto de abertura da Festa do Avante!, desde que se optou por ser de música sinfónica, tem sempre por referência um sucesso histórico e/ou musical que dão o tema do programa. Este ano dois centenários comemoram-se, Joly Braga Santos e Carlos Paredes, músicos com lugar cativo na história da música portuguesa. O primeiro um erudito que compunha obras que, «não desdenhando as conquistas do século XX, falassem para o homem comum com simplicidade e clareza», como afirmava nas suas variadas intervenções de divulgação. O outro porque, com extremo virtuosismo, descobria sons e combinações de sons que elevaram a guitarra portuguesa a patamares nunca antes ouvidos. Era evidente que o concerto teria duas partes distintas e que seria necessário não haver descontinuidades. A fórmula encontrada foi feliz. Na primeira parte tocaram-se o Nocturno para Orquestra de Arcos, a Abertura Sinfónica n.º 3, a suite de bailado Alfama, uma boa mostra da vastíssima produção musical de Joly Braga Santos, impossível de sintetizar num único concerto. De Carlos Paredes foram orquestrados muitas das suas composições, com natural relevo para Verdes Anos que, de algum modo, universalizou o génio de Carlos Paredes já inscrito na história da música portuguesa, com óbvio destaque para a guitarra portuguesa muitíssimo bem entregue à execução de Paulo Soares.

A sublinhar neste concerto a audição do trabalho de três jovens compositores, Francisco Tavares, Luís Cardoso e Tiago Derriça, os orquestradores da música de Paredes e a da jovem maestra Constança Simas a quem o fundador, director e maestro da Orquestra Sinfonieta de Lisboa, Vasco Pearce de Azevedo cedeu a batuta na direcção de algumas das obras. Um belo gesto de um consagradíssimo maestro de uma não menos consagrada orquestra a dar palco às novas gerações de músicos que marcam a música erudita contemporânea portuguesa. Compositores, músicos, cantores que têm marcado presença em várias edições deste concerto inaugural da Festa do Avante!, numa inequívoca demonstração da funda actividade cultural do PCP, da sua juventude que não se deixa vencer pelos seus muitos anos de existência numa afirmação da sua frescura a emergir do pântano de maquilhadas tretas velhas e relhas onde patinam outros partidos.

Foi sem surpresa mais um belo concerto promovendo uma consonância notável entre os milhares de espectadores e os excelentes músicos que cumpriram com brilhantismo um programa de divulgação da música portuguesa. Uma última referência para a qualidade informativa e pedagógica das notas sobre a programação de música sinfónica insertas no Programa da Festa que são um guia essencial para a compreensão não só da música que se vai ouvir como dos objectivos subjacentes às escolhas programáticas.