- Nº 2647 (2024/08/22)
Bruno Pernadas

«Fiquei maravilhado com a dimensão e oferta musical da Festa do Avante!»

Festa do Avante!

Compositor, guitarrista, multi-instrumentista, produtor. São muitas as formas de descrever Bruno Pernadas, que regressou há pouco de uma extraordinária digressão pelo Brasil. Em Setembro, volta à Festa do Avante!, onde já antes esteve, como músico e, desde jovem, como participante. Da primeira vez que lá foi, nos anos 90, recorda como ficou «maravilhado com a dimensão, oferta musical e com a multiculturalidade tão bem representada a nível artístico».

O ano passado o Bruno Pernadas subiu ao Palco 25 de Abril para receber os aplausos pela composição de O Governo do Povo, uma peça feita para as celebrações oficiais da Revolução e que foi interpretada no concerto sinfónico que celebrou os 50 anos dessa conquista. Este ano volta à Festa do Avante! para liderar um espectáculo que passa pela interpretação de temas seus. Em qual das duas situações se sente mais à vontade?

Foi uma sensação fantástica ouvir a Orquestra Sinfonietta com o coro Cantat interpretar a minha peça, bem como o restante repertório. Foi um momento de grande alegria, mais uma vez obrigado pelo convite. Em relação à sua pergunta, devo dizer que ambas as situações representam vários desafios, no caso do meu ensemble talvez seja um pouco mais simples a comunicação e a resolução de algum problema que possa surgir.

No espectáculo deste ano vai tocar músicas suas gravadas na última década, que mostram estilos musicais muito diferentes como, citando o seu website, «jazz, pop da era espacial, folk, world music e electrónica». Esta variedade não é muito habitual na construção de uma carreira artística com sucesso e generalizado aplauso da crítica, como é a do Bruno. Esta excepcionalidade, esta diversidade musical foi intencional ou casual? Como é que foi construída?

Muito obrigado. No fundo, está muito relacionado com toda a música que ouço e com os compositores que admiro, uma vez que de uma forma genérica é bastante eclética. Quando comecei o meu percurso musical pensava pouco na carreira a longo prazo, e fiz escolhas das quais me arrependo hoje em dia, mas nada de muito grave. Portanto, posso responder que foi casual.

Quando repega em composições feitas há muitos anos e as mistura com composições actuais, reconhece coerência nesse percurso ou olha para trás e pensa «se fosse agora tinha feito isto de outra maneira»?

Talvez pequenos detalhes mas, de forma geral, reconheço essa coerência e respeito a honestidade da composição. Ainda há uma semana interpretei temas originais meus de 2012/13 e soou tudo bem. É engraçado perceber como é que o sentido criativo funcionava naquela altura, as pequenas resoluções, as ideias melódicas, etc.

Este ano fez uma tour pelo Brasil durante o mês de Maio, depois de em Portugal ter dado uma série de espectáculos de celebração dos 10 anos do seu primeiro álbum. Como é que tudo isso correu? Como é que os brasileiros o receberam?

As apresentações da celebração dos 10 anos de how can we be joyful in a world full of knowledge correram muito bem, o espectáculo esgotou algumas salas que eu não estava à espera, o balanço foi muito positivo e foi bom recordar o alinhamento sem interrupções tal qual a ordem do disco. Também houve tempo para criar novos arranjos propositados para esta digressão, bem como preparar um espectáculo com luz e vídeo, como nunca tinha tido oportunidade de o fazer.

O público brasileiro sempre se mostrou muito entusiasta e curioso em relação à minha música, portanto esta tour tinha de acontecer um dia. Demorou muito mais tempo do que estava à espera, por falta de apoios a digressões internacionais, mas finalmente conseguimos. Tocámos no Rio de Janeiro e em São Paulo, com imenso público, público esse que reagiu de forma muito emocional e eufórica com uma energia contagiante, maravilhoso mesmo. Ficou a faltar o concerto do Instituto Ling, em Porto Alegre, que foi cancelado devido à triste catástrofe ambiental que aconteceu no estado do Rio Grande do Sul. Fica para uma próxima oportunidade.

Outra faceta da sua carreira é a da composição para cinema, teatro e dança. É mais difícil compor para um enredo ou para um argumento?

Depende do realizador, dramaturgo ou encenador, quando a comunicação é honesta e clara, ambas as partes respeitam o processo criativo e a composição, normalmente corre bem.

Que opinião formou sobre o papel cultural da Festa do Avante! no nosso país, cujo programa ao longo dos anos tem uma característica comum com a carreira do Bruno: o trabalho com uma grande diversidade de estilos musicais e com diferentes formas de arte?

Comecei a frequentar a Festa do Avante! na adolescência, e lembro-me perfeitamente da primeira vez que estive presente, ainda na década de 90. Fiquei maravilhado com a dimensão, oferta musical e com a multiculturalidade tão bem representada a nível artístico. Depois é maravilhoso assistir à dedicação de todas as pessoas envolvidas, incluindo os voluntários que todos os anos se propõem em investir de forma pessoal e emocional de modo a garantir o sucesso da Festa do Avante!.