Brutal injustiça não serve e tem alternativa

Em vez da «brutal injustiça», que os resultados dos principais grupos económicos vieram pôr em evidência, o Secretário-Geral do PCP insistiu na necessidade de uma mais justa distribuição da riqueza, no quadro de uma política alternativa, ao serviço da maioria, que cria ou criou, com o seu esforço físico e intelectual, essa mesma riqueza. O tema foi levantado por Paulo Raimundo na sexta-feira, dia 9, em Odivelas, e, no dia seguinte, em Fronteira.

Os milhares de milhões de euros de uma minoria devem ser usados para a maioria

No total dos maiores bancos e das empresas cotadas na Bolsa, que já divulgaram os resultados do segundo trimestre de 2024, os grupos económicos acumularam, de Janeiro até Junho deste ano, lucros de 29 milhões de euros por dia. «Ao mesmo tempo, cada um de nós enfrenta, todos os dias, o brutal aumento do custo de vida» e «quase três milhões de trabalhadores recebem um salário bruto inferior a mil euros por mês», protestou o dirigente comunista, no final do almoço promovido pela Organização Regional de Portalegre do PCP.

Naquele valor estão incluídos 12 milhões de euros de lucros diários da banca, enquanto «milhares e milhares de pessoas enfrentam o drama das prestações, para garantirem a sua habitação, e muitas não conseguem».

Por outro lado, o Governo «procura justificar a recusa do aumento dos salários», mas prepara-se para «entregar mais 4500 milhões de euros, na baixa do IRC, aos grandes grupos económicos, nos primeiros quatro anos de aplicação da medida» que tem em marcha.

Paulo Raimundo voltou a criticar a opção de, no Orçamento do Estado, recusarem que 1600 milhões de euros vão, como defende o PCP, para o aumento das reformas, observando que «não há 1600 milhões de euros, para entregar a mais de dois milhões de reformados e pensionistas, mas há os mesmos 1600 milhões de euros, para entregar, em benefícios fiscais, àqueles dos 29 milhões de euros de lucros por dia».

Rejeitando «esta brutal injustiça», o Secretário-Geral do Partido defendeu «uma distribuição da riqueza mais justa e, principalmente, dirigida a quem cria a riqueza, a quem se esforça todos os dias, a quem põe o País a funcionar, e àqueles que criaram riqueza, dirigida a quem trabalha e a quem trabalhou uma vida inteira», porque «esses, sim, merecem uma vida melhor».

O PCP recusa aquele caminho e assegura «combate a uma política que cria cinco mil novos milionários, por ano, e, ao mesmo tempo, empurra mais 40 mil crianças para o risco de pobreza». «Por mais propaganda que façam dela», tal política «não responde aos problemas e não serve o País, mas quer, rapidamente e em força, responder aos interesses dos grupos económicos», alertou Paulo Raimundo.

Milhões que fazem falta
Com os governos que têm seguido esta política, «para os trabalhadores, para as populações, para a juventude, para os reformados, para os micro, pequenos e médios empresários e agricultores, para os utentes do SNS, há sempre justificações, há sempre medidas pontuais, há sempre “cenários macro”, há sempre “a crise” que já foi, a que está aí ou a que vai vir, há sempre “contas certas” e “nem mais um cêntimo” para as opções e a vida de cada um».

Mas «para a minoria, sobram sempre oportunidades de negócio, apoios e a garantia de todos os milhões que forem necessários para os seus objectivos», protestou o Secretário-Geral, notando que «são milhões que tanta falta fazem na escola pública, no SNS, nos salários, nas reformas, nas creches públicas».

Não se trata de «um problema de dinheiro», mas sim de «um problema de opções, saber a quem se dirige os recursos do País». E nesta matéria, «não há meias tintas: ou se opta por governar em função dos interesses dessa minoria, que vai acumulando riqueza à custa de todos nós; ou se opta por governar, com medidas e políticas concretas, ao serviço da maioria, que, com o seu esforço físico, com o seu suor, e com o seu esforço intelectual, cria e criou a riqueza que existe».

Para o PCP, «a opção do Governo PSD/CDS está clara: é acelerar tudo aquilo que foi negativo, da maioria absoluta do PS, com o Chega e a IL nunca satisfeitos e a quererem levar sempre mais longe a ofensiva brutal do Governo».

Também não deve deixar dúvidas a posição dos comunistas, reafirmada por Paulo Raimundo, quanto a tal política. «Cá estamos, para lhe dar combate, para alargar a luta e a exigência daquilo que se impõe: travar esta política e abrir caminho para as necessidades de aumentar salários e reformas, proteger a habitação, salvar o SNS, salvar a escola pública, investir nos serviços públicos, recuperar o controlo público dos sectores estratégicos, apostar na produção nacional, defender a soberania, defender a paz, a solidariedade, a cooperação e o respeito pelos povos; sem «hipocrisias nem lágrimas de crocodilo».


Urgência na Saúde

«A solução urgente, imediata, para resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde, é valorizar os trabalhadores do SNS, é respeitar os médicos, os enfermeiros, os técnicos, dar-lhes condições de trabalho, valorizar as suas carreiras, dar-lhes condições salariais», sublinhou Paulo Raimundo, em Fronteira. Esta «opção de fundo» ficou «completamente ao lado das opções do governo anterior e das opções acentuadas no actual, cuja única preocupação é garantir que a doença se transforme num negócio», para isso utilizando o desmantelamento do SNS, a falta de médicos, de enfermeiros, de técnicos, «a degradação da saúde de cada um de nós».

Ao PS são imputadas «grandes responsabilidades, na situação a que o SNS chegou», uma vez que «a maioria absoluta do PS abriu campo ao desmantelamento do SNS, empurrou médicos, enfermeiros e técnicos para fora do SNS». Mas os 70 dias do programa que este Governo decidiu para a Saúde «não só não vieram contrariar esse caminho, como vieram acentuá-lo».

O Secretário-Geral do PCP reafirmou que «só o SNS está em condições de responder pelo acesso de todos à Saúde, independentemente da idade e do dinheiro que cada um tem na conta bancária».

Para lá de visitas e inaugurações, «precisamos é que a doença seja tratada, e o melhor possível». «Não precisamos de que a vida das mulheres grávidas seja uma insegurança e uma inconstância permanentes», há é que «garantir todas as urgências pediátricas e de obstetrícia abertas, ao serviço de quem precisa delas e não deve ter de andar por esse País fora, para trás e para a frente, na intermitência e na insegurança».

Paulo Raimundo frisou que a mudança «não é um problema de dinheiro, nunca foi», de outra forma «não se entregava praticamente metade do orçamento do SNS àqueles que fazem da doença um negócio».

 

Portalegre precisa de desenvolvimento

Com a participação de 130 pessoas, vindas de vários concelhos do distrito de Portalegre, o almoço em Fronteira teve lugar no Centro Polivalente de Actividades Sociais, em funcionamento há pouco mais de um ano. Para as intervenções políticas, foram chamados ao palanque: Marina Costa, do Secretariado da Direcção da Organização Regional de Portalegre do PCP, responsável pela Organização Concelhia de Fronteira; Rogério Silva, membro do Comité Central, responsável pela OR de Portalegre; Ângelo Alves, da Comissão Política do CC; e o Secretário-Geral, Paulo Raimundo.

Marina Costa, a primeira a usar da palavra, abordou os problemas e as lutas distritais, no contexto da situação nacional. Reafirmou «a necessidade de continuar e intensificar a luta pelo desenvolvimento justo e necessário do distrito de Portalegre». Para tal, exige-se «políticas e acções que garantam a possibilidade de alcançar esse futuro e que passam pelas acessibilidades, por emprego digno e rendimento justo», tal como «pela garantia de transportes rápidos e seguros», «pelo reforço urgente do SNS e pela melhoria da prestação de cuidados de Saúde», «pela garantia da gestão e exploração pública da água e o aumento da capacidade de recursos hídricos». Há que concretizar, entre outros projectos, o perímetro de rega do Abrilongo, em Campo Maior, e a barragem do Crato-Pisão.

Fez questão de valorizar e saudar as lutas dos trabalhadores das misericórdias, da Administração Local, da Saúde e da Educação, da hotelaria, da grande distribuição, das indústrias alimentares, dos sectores eléctrico e corticeiro, da Hutchinson e do pessoal não docente, em Campo Maior.

 

Reforma com 40 anos de descontos e aumento de 7,5 por cento para todos

Sexta-feira, o ambiente foi de grande camaradagem, fraterno e solidário, entre as cerca de 200 pessoas que participaram num jantar da Organização do Partido de Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião, com Paulo Raimundo. Numa banca podiam adquirir diversos materiais, como t-shirtse sacos tiracolo com as mensagens «Abril é mais futuro». «Engrenagem», de Soeiro Pereira Gomes, era outra boa opção.

Ali, o Secretário-Geral do Partido esclareceu que a recente «evolução» no Complemento Solidário para Idosos, «uma medida com impacto positivo para cerca de 140 mil reformados», deixa, no entanto,de fora 1,3 milhões de pensionistas, com reformas até 591 euros por mês». Insistiu ainda na ideia da reforma aos 40 anos de descontos para a Segurança Social e do aumento extraordinário de todas as reformas e pensões em 7,5 por cento, num mínimo de 70 euros.

Entretanto, «vão soprando ideias de que na melhor das hipóteses o aumento das pensões vai ficar abaixo dos três por cento» em 2025, o que a concretizar-se seria «gozar com quem trabalhou uma vida inteira», reforçou Paulo Raimundo. Dizem que «não há 1600 milhões de euros para o aumento extraordinário das pensões, mas há 1600 milhões de euros para dar em benefícios fiscais aos grandes grupos económicos, para não falar já do que se prepara com a golpada do IRC», acrescentou.

Concelho desprezado
Nuno Almeida, do Executivo da Direcção da Organização Regional de Lisboa (DORL) e da Comissão Concelhia de Odivelas do PCP, descreveu«um concelho refém da construção desenfreada para servir os interesses da especulação imobiliária» e com os serviços públicos degradados, nomeadamente na área da saúde, com «cerca de 40 mil utentes sem médico de família» e as «urgências do Hospital Beatriz Ângelo frequentemente encerradas ou a funcionar com 12 horas de espera para utentes com pulseira laranja».

No palco estiveram também Helena Veiga, Alexandra Gonçalves, do Executivo da Comissão Concelhia de Odivelas do PCP, e Ricardo Costa, da Comissão Política do Comité Central e responsável pela DORL.