- Nº 2644 (2024/08/1)
Paulo Furtado, The Legendary Tigerman

«Acho que é o melhor momento de sempre para me verem ao vivo»

Festa do Avante!

Paulo Furtado dá corpo a The Legendary Tigerman, cujo álbum mais recente, Zeitgeist, exigiu do próprio uma «reinvenção muito grande». Admitindo que seja também o seu trabalho mais «político», garante que este é o melhor momento de sempre para o ver ao vivo.

Leonor Ribeiro

O álbum Zeitgeist, que é o seu último trabalho, é apresentado como sendo uma mudança profunda no trajecto do Paulo Furtado e do projecto The Legendary Tigerman. Do ponto de vista musical pode explicar como se concretizou e se expressa essa mudança?

O Zeitgeist é o meu primeiro disco onde dois universos muito presentes na minha vida artística (o da música popular e da música para cinema) se juntam pela primeira vez sob o nome The Legendary Tigerman, o que me exigiu uma reinvenção muito grande… O disco foi escrito em Paris, em 2019, e trabalhado ao longo de três anos em sessões um pouco distantes do ponto de vista temporal, o que permitiu um olhar distante e constante que normalmente não é possível ter. Talvez por isso o considero um dos álbuns mais consistentes (para mim, claro) da minha carreira. O facto de ter composto fundamentalmente recorrendo a sintetizadores modulares e não a guitarras teve um peso muito grande no resultado final, também. Era esse outro dos grandes desafios, conseguir fazer rock’n’roll sem guitarras.

Nos espectáculos ao vivo essa mudança é também profunda, ou o trabalho com outros músicos e/ou a interpretação de músicas mais antigas atenua esse efeito?

Creio que ao vivo talvez ainda seja mais profundo… o facto de haver quatro synths em cima do palco é reflexo não só do álbum mas também do modo como as canções têm crescido e mudado ao vivo. Honestamente, acho que é o melhor momento de sempre para me ver ao vivo, a banda é exemplar e sinto-me afortunado por pisar o palco com gente tão talentosa.

Como sabe, Zeitgeist é uma palavra alemã que poderemos traduzir por «espírito do tempo» e foi usada frequentemente na filosofia alemã. Como é que o «espírito do tempo» dos nossos dias motivou a mudança que fez nesse disco?

O álbum é de facto um álbum peculiar na minha carreira, não só pelas razões já referidas, mas também porque nasceu como um disco pessoal que de alguma forma, pelo passar do tempo e vivência de diferentes espaços, se tornou mais ou menos universal.

O título pisca os olhos a muitos conceitos e ideias, mas de facto creio que a mais é importante é a de que, de algum modo mais ou menos inexplicável, o espírito dos tempos (e do meu universo ) ficou profundamente cravado nele.

O Paulo Furtado tem feito muito trabalho para cinema e fotografia. Quais são os momentos mais marcantes desse percurso?

É impossível não referir o trabalho com Gus Van Sant em Trouble, ou o filme Fade Into Nothing, feito com o Pedro Maia e a Rita Lino, que se desdobrou em livro de fotografia.

Mas quero sempre acreditar que o melhor está para vir, e neste momento já trabalho num documentário sobre William Boroughs (de Aaron Brookner e Rodrigo Areias) e em breve na próxima longa metragem de Sara Driver, The Odd Enchantment of Madam P.

Este álbum tem uma componente política relevante em algumas canções. A Festa do Avante! é um bom local para as cantar?

Este álbum talvez seja o meu álbum mais político, sim.

Sempre gostei de tocar na Festa do Avante!, acho que é perfeito para este concerto.