Festival «Dêem uma Oportunidade à Paz»

Defender Abril e lutar pela Paz ontem, como hoje, são objectivos da juventude

Centenas de jovens acudiram ao apelo da Plataforma pela Paz e o Desarmamento, e participaram, em Melides, Grândola, de 19 a 21, no Festival «Dêem uma Oportunidade à Paz», sob o lema «Em cada rosto igualdade». Na «vila morena», a juventude lembrou o evento homónimo que decorreu no Carvalhal em 1983 e comemorou os 50 anos da Revolução de Abril.

A juventude é «semente da esperança de Abril» e, no que depender dela, «não voltaremos atrás»

«Há 50 anos era, e continua a ser, o povo quem mais ordena. 50 anos da data que marcou o fim dos 48 anos da longa noite fascista, de miséria, fome, analfabetismo, trabalho sem direitos, repressão e guerra», declarou José Pinho, do Projecto Ruído, em nome da Plataforma pela Paz e o Desarmamento, na abertura do Festival, antes da noite de música que juntou milhares de pessoas da região.

E continuou: «essa linda palavra, Paz, transformou-se em vida com Abril. Mas, hoje, ouvimos cada vez mais o rufar dos tambores dos senhores da guerra, que se apressam a abafar todos aqueles que falam dela».

«Por mais sombrio que pareça o amanhã», exclamou, «acreditamos e sabemos que a juventude é semente da esperança de Abril, e que por muito que tentem, somos livres e não voltaremos atrás»!

Ainda na abertura, tomaram a palavra Bruno Mateus, presidente da Junta de Freguesia de Melides,que recordou a importância do movimento associativo, e António Figueira Mendes, presidente da Câmara Municipal de Grândola, que sublinhou que a autarquia, terra onde Abril ganhou a banda sonora, irá continuar a apoiar a luta pela Paz.

O que falta para cumprir Abril?
A encerrar o Festival, decorreu, na tarde de domingo o debate «Em cada rosto igualdade», sobre os 50 anos do 25 de Abril, com a moderação de Francisco Aguiar, do Projecto Ruído, que destacou a importância da Revolução para a juventude em áreascomo a saúde ou a educação.

Julie Neves, do CPPC, lembrou, sobre a relação entre Abril e a luta pela Paz, que «o fim do fascismo veio de mãos dadas com o fim da guerra colonial», e que a solidariedade e a pressão internacionais foram «armas muito poderosas».

Quanto ao que falta cumprir, foi clara: falta cumprir a Constituição, nomeadamente o seu artigo 7.º, que pugna pela solução pacífica dos conflitos ou a dissolução dos blocos político-militares, como a NATO.

Por seu lado, Inês Jorge, da AEFCSH, transmitiu a «perspectiva dos estudantes», referindo como data fundamental o Dia Nacional do Estudante, que anualmente se assinala a 24 de Março, marco histórico na luta unitária dos estudantes contra o regime. No entanto, apesar das conquistas, ressaltou inúmeros retrocessos, como as propinas, o processo de Bolonha ou o incumprimento do PNAES.

Por fim Gonçalo Paixão, da Interjovem, relembrou as «gritantes injustiças e desigualdades sociais» no fascismo, bem como a acção unitária dos trabalhadores em greves, manifestações ou organizações. Apesar do que se conquistou com Abril, constatou, ainda há muitos direitos por que lutar (dos salários à contratação colectiva).

A música também serve a paz
O Festival contou com dois dias de espectáculos, com centenas de jovens participantes e muitos habitantes de Melides e das redondezas.

Sexta-feira, a abertura coube ao Grupo Coral Vila Morena, seguido de um concerto de Toy que, entre músicas, cantou, de improviso: «os portugueses são todos, mas todos, a favor da paz».

E assim, entre conhecidas canções (e gritos de «Toy sim, guerra não»), deixou, ainda, uma mensagem de solidariedade para com o povo palestiniano.

No dia 19, actuaram,ainda, XTinto e, em frente à bandeira da Palestina, o jovem DJ Santi.

Já no sábado, o destaque é merecido à animação da banda Samba do Serginho que, nas duas horas de concerto, fez todos os presentes dançar alegremente ao som das mais conhecidas músicas brasileiras.

Além do grupo, actuou o cantor João Maia Ferreira, cabendo a Violet fechar a noite com uma rave.



Desporto, lazer e muita animação
Comemorar Abril e as suas conquistas é, também, celebrar (e exercer) o direito à cultura, ao desporto e ao lazer. Foi com este espírito que as centenas de jovens participaram no Festival.

Convívio e diversão foram palavras-de-ordem, desde a ida à praia de Melides, aos muitos torneios e jogos de futebol, vólei, sueca, xadrez, ping-pong ou basquete, passando, ainda, por um workshop de pombas da paz.

A alegria também se fez sentir no acampamento, localizado no recinto, onde a amizade e companheirismo se expressou em animados serões.

De Melides a Rafah, Palestina vencerá!
«A situação que se vive na Palestina é de extraordinária gravidade. O governo israelita, suportado pelos EUA e seus aliados, leva a cabo um massacre», recordou Maria João Falcão, da Interjovem, no acto de solidariedade com a Palestina, no final de sábado, destacando, ainda, a luta dos jovens trabalhadores palestinianos, impedidos de trabalhar e conseguir viver dignamente.

Julie Neves, por seu lado, lembrou que quer há um ano, naquele parque, como então, em 2024, as mesmas questões, continuam a impor-se, agora, infelizmente, com o acentuar do «nível do massacre» (mais de 38 mil mortos, 87 mil feridos e milhões de desalojados).

Por fim, Carlos Almeida, do MPPM, sublinhou que «estamos a completar um ano de um massacre» permanente e televisionado, que só encontra precedentes no nakba de 1948, designando-o pelo nome que lhe é merecido – «um genocídio» -, e frisando que, em Gaza, não há um único lugar para onde fugir.

Espaço aberto
Durante os três dias, diversas organizações estiveram presentes com bancas no recinto, promovendo as suas actividades, designadamente a Comissão de Finalistas da Escola Profissional de Grândola, a Associação de Patinagem Artística Litoral Alentejano (ADPALA) e a Basket Santo André, contactando os participantes e vendendomerchandise, comida ou bebida.

Os participantes puderam, ainda, contar com exposições temáticas sobre o 25 de Abril (da CGTP-IN e do Projecto Ruído) e acerca da luta do povo palestiniano (do MPPM).

O Festival foi, verdadeiramente, um espaço aberto a todas as organizações que encontraram a sua união num mesmo propósito: defender Abril e lutar pela paz.

 

Um nome com história…

Com o mesmo espírito do Festival realizado em 1983, também em 2024 (e após inúmeros acampamentos em anos anteriores) a Plataforma pela Paz e o Desarmamento organizou este evento, sabendo que, se é certo que os tempos mudaram, a vontade de lutar pela paz e o progresso continua.

 

Swim with Gaza

A tarde de sábado foi passada na praia de Melides, onde nem o sol tórrido que se fazia sentir impediu que os jovens participantes pudessem demonstrar a sua solidariedade com a Palestina, na acçãoSwim with Gaza (nadar com Gaza), promovida pelo MPPM.

O acto é simples – mergulhar na água e, ao sair, empunhar uma bandeira, faixa ou cartaz alusivo ao povo palestiniano –, mas o gesto tem um imenso significado: desde 2007 que o povo de Gaza, preso, tem como único local de lazer o mar, situação agravada pelo escalar da agressão.

 

Ambiente é tema de conversa

A guerra (o maior poluente dos nossos dias), a ambição imperialista, o sacudir de responsabilidades (de que a COP 28 é exemplo), a acumulação de capitais, a responsabilização individual, a apropriação de recursos naturais… destroem o ambiente.

Com estas ideias-chave decorreu, no centro da vila de Melides, uma conversa sobre o ambiente, moderada por Tomé Quadros, da AEFCSH, que lembrou que a questão tem assumido um «carácter premente entre a juventude». Também a intervir esteve Jéssica Sá, activista ambiental, que desenvolveu o tema em conjunto com as intervenções do público, vincando, igualmente, a problemática das alterações climáticas.

No fim da iniciativa, os participantes plantaram uma árvore no centro da vila, símbolo da luta da juventude em defesa da preservação da natureza.

 

Democratizar a cultura é urgente

No sábado, dezenas de jovens participaram numa conversa sobre cultura que, moderada por Úrsula Ventura (membro de grupos culturais), contou com os artistas João Maia Ferreira e Dinis Santiago (DJ Santi).

O primeiro lembrou a necessidade de mais ajuda pública para a criação cultural, afirmando que «se um género musical não movimenta dinheiro», também não recebe apoios do Estado.

Já Dinis Santiago recordou o 25 de Abril como um marco histórico para a cultura, pondo fim a décadas de entraves à criação e fruição culturais. Mas, lembrou, que ainda hoje não se conseguiu cumprir a «concepção daquilo que deveria ser a democracia», também na sua vertente cultural.

 

Por Abril, pela Paz, todos juntos!

Foram dezenas as organizações, de todo o País e com os mais diferentes objectivos e formas de actuação, que subscreveram o apelo do Festival, mostrando que quando o propósito é justo, é possível edificar verdadeiros momentos de unidade:Associações de Estudantes das Escolas Secundárias de Campos Melo (Covilhã), Quinta das Palmeiras (Covilhã), Anselmo de Andrade (Almada), Santos Simões (Guimarães), António Arroio (Lisboa), Tenente Coronel Adão Carrapatoso (Vila Nova de Foz Côa), Quinta das Flores (Coimbra), Conservatório de Música de Coimbra,FCSH (Universidade Nova de Lisboa), FLUL (Universidade de Lisboa) e ESAD (Caldas da Raínha);Projecto Ruído; MPPM; FAR; ACR; Pioneiros de Portugal; APPA; Art Jump; Academia Recreio Artístico; BOTA; Macaréu; CPPC; JCP; Clube Recreativo do Feijó; Interjovem; MDM; Associação Caboverdeana; Real República Rás-Teparta (Coimbra); Sociedade de Debates da Universidade do Porto; Tektonika; SR Aldeia da Serra; Filarmónica 15 de Agosto Alfarelense; AAPC; Youth Academy Condeixa; Inoportuna; Ateneu de Coimbra; Lúcia-Lima; CISMA; CR «O Grandolense» (Grândola); Associação em Honra de Santo Amador; ADPALA; Basket Santo André (Grândola); Juventude Desportiva Melidense (Grândola); Arte Cor Geração; Semivitae; Comissão de Finalistas da Escola Profissional de Grândola; Núcleos de Estudantes da FCSH (História, Filosofia e Ciência Política e Relações Internacionais) e FLUL (História).