Começa hoje «semana» por salários melhores e direitos

O movimento sindical unitário faz convergir nos dias 20 a 27 de Junho o maior número de plenários em empresas e locais de trabalho, greves, tribunas e concentrações, incluindo acções de âmbito distrital. Tem de se ouvir mais alto a exigência de aumentos salariais, que permitam recuperar e melhorar o poder de compra, diminuir a desigualdade e a injustiça na distribuição da riqueza, contrariar a tentativa patronal de aumento da exploração. A CGTP-IN salienta que é possível uma vida melhor.

«Não podemos aceitar a ideia de que, para os trabalhadores, basta “poucochinho”»

Sob o lema «Aumentar salários, garantir direitos, combater a exploração e as desigualdades», esta «semana de esclarecimento, acção e luta» abrange todos os sectores, distritos e regiões autónomas.

«Já está a acabar o mês de Junho e ainda estão muitos processos reivindicativos abertos», assinalou Ana Pires, da Comissão Executiva da CGTP-IN, em declarações ao Avante! anteontem. Apesar de persistirem as dificuldades da maioria dos trabalhadores, perante o aumento do custo de vida, «o bloqueio patronal agigantou-se» nas negociações para a revisão salarial anual, pois «o patronato sente-se respaldado pelo Governo e pela acentuação da política de direita».

Assim, explicou a responsável pela área da Acção Reivindicativa na confederação, a falta de resposta à necessidade de melhores salários tem origem no facto de, nuns casos, não ter havido acordo nas negociações sobre a actualização salarial. Noutros casos, os aumentos salariais aplicados há meses já ficaram desactualizados, por terem sido insuficientes.

«Não podemos aceitar a ideia de que, para os trabalhadores, basta “poucochinho”, não se pode continuar a relativizar a urgência do aumento dos salários», frisou Ana Pires. A quem procura deslocar o foco para outras questões, como a produtividade, a CGTP-IN contrapõe que «a riqueza que hoje é criada pelos trabalhadores permite que todos possamos viver com dignidade».

O grande obstáculo, salientou a dirigente, é «a distribuição da riqueza estar profundamente desequilibrada». Para obter avanços, no sentido de maior justiça, é determinante a luta organizada dos trabalhadores.

Durante esta «semana», vão ocorrer várias greves, forma de luta que constitui «momento alto da luta e do confronto». Ana Pires acrescentou que «esclarecer é fundamental», chamando a atenção para a importância dos plenários e de todo o esforço de esclarecimento, unidade e mobilização, «alavanca essencial para a continuação da luta».

Reivindicações comuns

Nas reivindicações comuns à generalidade dos trabalhadores, às quais esta «semana de esclarecimento, acção e luta» vem dar força, a confederação destaca o aumento geral e significativo dos salários em, pelo menos, 15 por cento, nunca inferior a 150 euros. O salário mínimo nacional deve ser estabelecido em mil euros, ainda este ano.

Valorização das carreiras e profissões; revogação das normas gravosas da legislação laboral, para reposição do direito de contratação colectiva; redução do horário de trabalho semanal para 35 horas, para todos, sem diminuição de salário; e fim da desregulação dos horários de trabalho são outras exigências em que a CGTP-IN insiste.

A confederação reclama ainda a erradicação da precariedade dos vínculos laborais, que atinge mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores, o que equivale a 29 por cento do total de assalariados.

Os objectivos da «semana» incluem igualmente o aumento das pensões de reforma e o reforço do investimento nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado.

 

O que vai acontecer aqui?

Para estes oito dias, estão anunciadas lutas em empresas, sectores e distritos. O quadro diário será divulgado de véspera pela CGTP-IN, de forma sistematizada. O que foi já divulgado pelas estruturas sindicais permite-nos descrever o que irá acontecer um pouco por todo o País.

Hoje, dia 20, a partir das 10 horas, na Avenida da República, trabalhadores do comércio manifestam-se em Vila Nova de Gaia, percorrendo lojas do Continente, Pingo Doce, El Corte Inglés, Lidl, Aldi e Mercadona, até à sede desta empresa. Vão exigir a negociação do contrato colectivo de trabalho, bloqueada há oito anos pela associação patronal APED. A presidência desta é exercida pelo Pingo Doce e, denunciando a responsabilidade desta empresa, vai realizar-se também uma acção de denúncia frente à loja da Guia, em Cascais.

Com vários plenários agendados em locais de trabalho, nos demais dias, o CESP marcou para dia 26, em Lisboa, marchas entre lojas do Continente, Minipreço e Pingo Doce (Av. Duque de Ávila, onde decorrerá uma vigília por 24 horas). Para dia 27 foi convocada greve nacional nas empresas da distribuição comercial.

Greves, totais ou parciais, foram marcadas para hoje, em empresas como a Carris, as oficinas da CP no Norte, a Sovena (até dia 27), a Tesco, a Acciona (VW Autoeuropa); estão agendados plenários no INEM em Lisboa, na Caetano Auto e Formula (distrito de Setúbal).

Junto da sede da associação patronal da metalurgia e metalomecânica (AIMMAP), no Porto, realiza-se hoje, à tarde, uma concentração de trabalhadores destes sectores.

Para amanhã, a FNSTFPS convocou greve nas Misericórdias e na UMP, incluindo uma manifestação em Lisboa, às 15 horas, no Campo Pequeno. Estão ainda marcadas greves para empresas como a Exide e a Parmalat (21 a 27). Haverá plenários no Hotel Tivoli e nos refeitórios da Universidade Católica e dos hospitais Fernando da Fonseca e Santa Cruz, no SUCH (Vialonga).

A FESAHT iniciou ontem uma série de duas dezenas de plenários e contactos no sector das conservas de peixe, que se prolonga até dia 26.

Os trabalhadores da Administração Local fazem greve, no dia 25, e manifestam-se em Lisboa, às 10h30, do Rato para a AR. Nessa terça-feira, fazem greve trabalhadores do comércio e de IPSS na Ilha Terceira, e também da TST, da Auto Sueco, da Fico Cables.

Estão marcadas acções convergentes em Portalegre e Beja, no dia 21, na Guarda e em Seia, dia 25, em Setúbal, Leiria e Braga, no dia 26 e, no dia 27, no Funchal, em Viseu, Faro, Porto e Lisboa (manifestação às 15 horas, do Campo Pequeno para o Ministério do Trabalho).

 

Plenário produtivo na Casco Pet

Quase todos os trabalhadores da Casco Pet Portugal, na Várzea (concelho de Lousada) compareceram num plenário, a 6 de Junho, no qual estiveram em discussão as propostas reivindicativas a defender, no âmbito da revisão da tabela salarial do Acordo de Empresa.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira e a FEVICCOM/CGTP-IN informaram que foi ratificado o pré-aviso de greve ao trabalho suplementar, a vigorar desde o dia 13. Houve novas sindicalizações no STIV e foram eleitos novos delegados sindicais.

A administração da empresa de desenho e fabrico de soluções para alojamento de animais, destinadas a instalações de retalho, educacionais e alojamentos clínicos veterinários marcou uma reunião de negociação para a semana seguinte.

 

Greve forte na Valorsul

A greve na Valorsul (da EGF, Grupo Mota-Engil), nos dias 14 (24 horas) e 15 (oito horas), «correu bem e teve uma adesão elevada, sobretudo entre os trabalhadores operacionais», e «todos os centros, com excepção do Cadaval, estiveram com a produção completamente parada». Mário Matos, dirigente do SITE CSRA e da FIEQUIMETAL/CGTP-IN, citado pela agência Lusa, realçou a necessidade de valorizar os salários, na empresa e no sector do ambiente e tratamento de resíduos, onde quase deixou de haver diferença entre a remuneração no início da carreira e o valor do salário mínimo nacional.

Depois de enviar novo pedido de reunião à administração, o sindicato colocará aos trabalhadores o que deverá ser feito com a resposta que vier.

 

Comprometer EDP e prestadoras

O Governo deve tomar medidas políticas que contribuam para que as administrações da EDP e das empresas que são suas prestadoras de serviços cheguem a «compromissos que visem a melhoria dos salários e direitos dos trabalhadores».

A exigência foi entregue no Ministério do Trabalho, esta segunda-feira, dia 17, por uma delegação de trabalhadores das empresas que asseguram, em subcontratação, o funcionamento de centros de contacto e lojas da EDP. A entrega foi feita durante um dia de greve, por 24 horas, que «registou uma grande adesão e provocou perturbação nos centros de contacto de Lisboa, Elvas e Seia e lojas da EDP Comercial, E-Redes e SU, numa importante demonstração de unidade entre os trabalhadores dos vários serviços», como afirmou a FIEQUIMETAL/CGTP-IN. Num comunicado que emitiu no dia seguinte, a federação e os seus sindicatos SIESI, SITE Norte, SITE CN e SITE CSRA responsabilizaram a EDP por continuarem alguns milhares de trabalhadores «na corda bamba», pelos seus vínculos laborais, e com «salários que rondam o mínimo nacional», enquanto o Grupo EDP registou, no ano passado, lucros superiores a 1300 milhões de euros.