Milhares no Piquenicão do MURPI dão força à luta dos reformados, pensionistas e idosos

Sob o lema «Cultura, alegria e luta», cerca de 3500 reformados, pensionistas e idosos participaram, domingo, 16, no 27.º Piquenicão Nacional do MURPI, que este ano completou 46 anos de luta pela conquista de direitos.

Envelhecer com direitos, qualidade de vida e dignidade

Este ano o Piquenicão realizou-se no magnifico espaço do Parque do Cabeço de Montachique, no concelho de Loures, que proporcionou momentos inesquecíveis de convívio, com o encontro e reencontro de novos e velhos amigos, de Guimarães, Braga, Vale do Ave, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Leiria, Marinha Grande, Peniche, Aveiro, Coimbra, Loures, Amadora, Sintra/Belas, Évora, Pavia, Montemor-o-Novo, Campo Maior, Vendas Novas, Portalegre, Beja, Cabeção, Mora, Redondo, Couço, Setúbal, Seixal, Paio Pires, Pinhal Novo, Barreiro, Baixa da Banheira, Almada, Faro, entre outras localidades.

Para quem não trouxe farnel, no local havia porco assado no espeto. Com uma organização exemplar, as senhas [também para bebidas e café] podiam ser adquiridas num pavilhão, onde também havia o jornal «A Voz dos Reformados», livros, talegos e outros materiais.

Nos três palcos (verde, amarelo e azul) actuaram 52 grupos, de norte a sul do País, mostrando que os reformados e as suas associações, filiadas na Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos – MURPI, têm vitalidade e capacidade de manter e transmitir uma «herança» cultural importantíssima. Além dos corais e instrumentais, que levaram muitas vezes os participantes a um pezinho de dança, houve demonstrações de grupos de ginástica, iniciativas que promovem o bem-estar e contribuem para a socialização e prevenção de doenças. Pela primeira vez no Piquenicão esteve o Grupo de Bombos Rebimbomalho, de Coimbra, que percorreu todo o recinto e cujas percussões deram cor e vida à ocasião.

A iniciativa contou a participação de uma delegação do PCP, que se fez representar por Fernanda Mateus, da Comissão Política do Comité Central (CC), António Filipe, do CC e deputado na AR, eleito pelo distrito de Lisboa, José Pereira, do CC e da Direcção da Organização Regional (DOR) de Setúbal, e Elisabete Santos, da DOR de Lisboa. Presentes estiveram igualmente eleitos da CDU nos órgãos autárquicos do concelho de Loures, entre os quais os vereadores Gonçalo Caroço e Elisabete Santos, e representantes da Inter-Reformados/CGTP-IN.

Momentos marcantes
No Piquenicão não foram esquecidas as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, com o palco «verde» a arrancar a sua programação declamando o soneto «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.» e a estrofe 28 do Canto IX de «Os Lusíadas», tão actual: «Vê que aqueles que devem à pobreza; Amor divino, e ao povo, caridade; Amam somente mandos e riqueza; simulando justiça e integridade.»

Mas as homenagens não se ficaram por aqui. No palco «amarelo» foi celebrada a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, com «A paz sem vencedor e sem vencidos», e o poeta Papiniano Carlos, com «A queimada». No «azul» evocou-se José Gomes Ferreira, com «Vivam, apenas», Eugénio de Andrade, com «Urgentemente», e Luís Veiga Leitão, com «Manhã».

Quando se comemoram os 50 anos da Revolução de Abril, os três palcos encerraram com a «Grândola, Vila Morena», com todos, unidos, a assegurarem que a luta vai continuar, como aconteceu no dia seguinte, 17, com a entrega da petição «Por uma rede pública de lares e serviços de apoio nas diversas valências de apoio domiciliário», promovida pelo MURPI e pela Inter-Reformados/CGTP-IN. O documento foi lançado na plataforma da Assembleia da República (AR) no dia 20 de Abril e conta com mais de oito mil assinaturas recolhidas em todo o País. «A falta de lares residenciais, com condições condignas, destinados à residência de pessoas idosas, numa situação de dependência e na ausência de apoio para que possam continuar a viver nas suas casas, é uma carência que se agrava no plano nacional e que mobilizou milhares de pessoas à volta desta petição», [que continua a recolher apoios] esclarece o MURPI, em nota de imprensa.

Na sexta-feira, 14, a Confederação exigiu que o actual Governo PSD-CDS faça publicar, com a possível urgência, a portaria de revalorização das remunerações para todos os que se reformem ou aposentem no corrente ano.

 

A voz do MURPI fez-se ouvir pela concretização das suas reivindicações

No período das intervenções, com a Direcção do MURPI a ser chamada ao palco, José Núncio, da Federação de Lisboa, teceu fortes críticas à Câmara Municipal de Loures, que só colocou «dificuldades e recusas» à realização do Piquenicão. Por outro lado, destacou o trabalho «inexcedível» dos trabalhadores do Parque e o apoio das juntas de Freguesia de Fanhões e Loures, da União de Freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal, bem como do Posto Territorial de Bucelas da GNR. Só desta forma «fomos capazes de concretizar o evento, dignificando as associações e os seus grupos corais», que «contribuem para o envelhecimento activo e com qualidade, promovendo as mais diversas actividades culturais, desportivas e dinamizando as mais diversas vertentes de convívio». Dirigiu ainda «uma palavra de apoio e confiança aos dirigentes das associações de reformados», que, «com o seu esforço e dedicação, muitas vezes sozinhos, têm mantido a funcionar as organizações de reformados, garantindo os seus compromissos financeiros, sem os apoios do Estado».

Reivindicações urgentes
No mesmo sentido, Isabel Gomes, presidente da Direcção do MURPI, salientou ser «necessário continuar a exigir a criação de uma linha específica de financiamento das associações de reformados, pensionistas e idosos em todo o País para a criação de novos grupos culturais e para apoiar a actividade dos existentes». Avançou com outras reivindicações, como «alargar, a todos os dias da semana, a gratuitidade na entrada nos museus, palácios, recintos desportivos e monumentos nacionais», «criação de um passe gratuito de transportes em todo o País» e «aumento dos recursos humanos e materiais no Serviço Nacional de Saúde».

Porque «não há espaço para a fruição saudável dos tempos livres e para um envelhecimento activo e com qualidade de vida, quando o quotidiano é marcado pela instabilidade e incerteza perante o dinheiro que falta para comprar a alimentação e pagar as despesas básicas como habitação, gás ou electricidade», Isabel Gomes considerou ser da «maior justiça social» assegurar em 2024 «a todos os reformados e pensionistas a garantia de um aumento de 7,5 por cento, num mínimo de 70 euros».

Sobre as medidas tomadas pelo Executivo PSD-CDS relativamente ao Complemento Solidário para Idosos, a dirigente lamentou o facto de chegar apenas a uma parte da população (160 mil reformados). As ultimas palavras desta intervenção foram de apelo à luta «contra a guerra e pela paz».

No final foram sorteadas três cestas de rifas, com materiais recolhidos pelas associações de reformados, que tiveram como destino o Porto, Setúbal e Peniche.

Todos os que participaram nesta acção redobraram energias na justa luta por um envelhecimento com direitos, com melhores pensões, mais saúde fruição saudável dos seus tempos livres.

 

Razões de luta

Os milhares de reformados, pensionistas e idosos presentes no 27.º Piquenicão do MURPI mostraram o valor que atribuem à fruição saudável dos seus tempos livres, o orgulho que têm nos grupos culturais das associações de reformados, exigindo a criação de uma linha específica de financiamento para as actividades de índole recreativa e cultural das associações, reclamando melhores pensões que se traduzam num aumento extraordinário das reformas e pensões em 2024. E ainda na exigência que a Assembleia da República venha a discutir os objectivos que norteiam a petição «Por uma rede pública de lares e serviços de apoio nas diversas valências de apoio domiciliário», promovida pelo MURPI e pela Inter-Reformados/CGTP-IN, já entregue na AR.