Portugal no topo
Já passaram 15 anos desde que se iniciaram os mal chamados «resgates» bancários que ocorreram em Portugal, envolvendo BPN, BPP, BES, BANIF, BCP, BPI e ainda a CGD (esta em moldes distintos dos da banca privada). No entanto, as suas consequências, que marcaram as condições de vida do povo português neste período, ainda se fazem sentir.
O balanço feito todos os anos pela Comissão Europeia no âmbito do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE) indica que, ainda em 2023, os cofres públicos voltaram a ter perdas significativas, agora com os «restos herdados» do Banco Português de Negócios (BPN) e os chamados activos por impostos diferidos (DTA) do Novo Banco (ex-BES): 919,9 milhões de euros e 117 milhões de euros, respectivamente. Quem o diz é a Comissão Europeia, quem noticia é o Jornal de Negócios de 6 de Maio.
Aliás, acrescentam que Portugal é o país que mais foi penalizado em 2023 (em relação ao seu PIB) por esta circunstância, com um «impacto acumulado» nas contas públicas de 31 mil milhões de euros desde 2007. Qualquer coisa como duas «bazucas», se fizermos do PRR uma unidade de medida. Portugal, uma vez mais, no topo da UE.
Enquanto isso, estamos a assistir em 2024 ao banquete da distribuição de dividendos entre os accionistas da banca, a partir dos mais de 4,4 mil milhões de euros de lucros que alcançaram em 2023 à custa de uma política de crédito que esmaga as famílias (habitação) e as pequenas e médias empresas. Uma vergonha, um escândalo, uma «traição à pátria», como alguns afirmam a todo o momento, mas que não merece a mínima atenção ou reparo nestes tempos de gritaria. E atente-se ainda que a lenga-lenga de que não há dinheiro, repetida até à exaustão quando se trata de melhorar a vida dos trabalhadores e do povo, nunca se aplica (como nunca se aplicou), quando se trata de servir os interesses do grande capital.
É a esta política, com um indisfarçável conteúdo de classe, que querem continuar a amarrar o País. Bancos cujos buracos da corrupção e gestão privada foram cobertos com dinheiros públicos, que foram nacionalizados (alguns) e privatizados novamente e que agora estão a acumular lucros escandalosos que vão parar aos bolsos da mesma gente que os levou à falência. É o mundo ao contrário! É a política de direita, é a integração capitalista na UE em todo o seu esplendor, com a qual é preciso romper.