Israel intensificou os bombardeamentos na Faixa de Gaza e ameaça levar a cabo uma operação militar contra Rafah. Na Cisjordânia aumentam os ataques de colonos e forças militares israelitas contra os palestinianos. No Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA vetaram a admissão da Palestina como membro de pleno direito.
Os EUA vetaram no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no dia 18, a proposta para que a Palestina fosse admitida como membro de pleno direito da ONU. O projecto, apresentado pela Argélia em nome do grupo de países árabes, recomendava à Assembleia Geral das Nações Unidas, com 193 países membros, para que a Palestina fosse admitida como membro de pleno direito (actualmente tem o estatuto de Estado observador).
Lusa
A resolução recebeu, além do veto norte-americano, 12 votos favoráveis e duas abstenções, do Reino Unido e da Suécia.
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, anunciou que o seu governo vai reconsiderar as relações com os EUA e qualificou como «vergonhoso, irresponsável e injustificado» o veto de Washington no Conselho de Segurança. A recusa dos EUA em aceitar o ingresso da Palestina como membro por inteiro das Nações Unidas «constitui uma agressão flagrante contra os direitos do nosso povo, a sua história, a sua terra e um desafio à vontade do mundo», disse à agência Wafa o dirigente palestiniano.
Abbas acusa Washington de apoiar a ocupação israelita, de se recusar a «obrigar esse país a parar a guerra de genocídio contra Gaza» e de continuar a fornecer-lhe «armas e dinheiro». Os EUA, acrescenta ainda o presidente palestiniano, «violaram todas as leis internacionais e quebraram as suas promessas respeitantes à solução de dois Estados e à conquista da paz na região. Mas os norte-americanos devem entender que o Médio Oriente não logrará a paz sem uma solução justa para a questão palestiniana, insistiu.
Além da Autoridade Palestiniana, o governo, partidos, instituições e representantes palestinianos condenaram o veto dos EUA. O presidente do Conselho Nacional Palestiniano, Rawhi Fattouh, considerou que o uso do veto demonstra a «hipocrisia» da administração Biden. E o representante permanente da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, lembrou que o direito palestiniano à autodeterminação nunca esteve sujeito a negociações» e destacou que é «um direito natural, histórico e legal viver na nossa pátria, a Palestina, como um Estado independente, livre e soberano».
Ataques bárbaros
As forças armadas israelitas mataram, no domingo, 21, na Faixa de Gaza, mais 16 palestinianos, incluindo nove menores de idade, em novos bombardeamentos.
Num dos mais graves, diversas pessoas perderam a vida, entre elas cinco crianças e duas mulheres, em ataques contra habitações na cidade de Rafah, que alberga 1,4 milhões de pessoas, a maioria deslocadas de outras zonas daquele território palestiniano.
Por sua parte, a Defesa Civil palestiniana anunciou a descoberta de centenas de cadáveres enterrados numa vala comum, depois de assassinados pelas tropas israelitas no interior do Complexo Médico Nasser, localizado na cidade de Khan Yunis.
Segundo dados oficiais palestinianos, mais de 34 mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza e outras 76 mil ficaram feridas desde o início de Outubro, quando recruscederam os ataques militares israelitas no território. A maior parte das vítimas são mulheres e crianças palestinianas.
Entretanto, no fim-de-semana, o exército israelita assassinou mais sete palestinianos, feriu 12 e agrediu um número indeterminado deles no decorrer de ataques ao campo de refugiados de Nur Shams, no norte da Cisjordânia. A sociedade Crescente Vermelho informou que as suas equipas de socorro tentaram aceder à zona mas foram impedidas de o fazer pelas tropas ocupantes. Apoiados por blindados e cães-polícias, militares israelitas ocuparam vários pontos da localidade, «disparando sobre quem tentasse entrar ou sair do campo» e destruindo tudo à sua volta. A agência Wafa denunciou que escavadoras israelitas demoliram ou danificaram numerosas infra-estruturas e propriedades, incluindo habitações, uma padaria, lojas e automóveis.
Poetas e artistas apelam
Um total de 1027 poetas, artistas e intelectuais de 141 países divulgaram uma carta aberta, dirigida a 18 presidentes e primeiros-ministros, em que apelam a um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Os subscritores da missiva pedem também que seja garantida assistência humanitária urgente à população do enclave e mostram-se alarmados com o número de vítimas palestinianas e com os ataques indiscriminados contra «mulheres, crianças, provedores de serviços médicos, jornalistas e trabalhadores humanitários». Além disso, denunciaram o derrube de habitações, hospitais, escolas e espaços públicos, bem como o bloqueio da assistência humanitária.
«O povo palestiniano de Gaza converteu-se em prisioneiro no seu próprio país e está privado de alimentos, água, habitação e serviços de saúde. Negam-lhe os seus direitos básicos à vida e dignidade», acrescenta a carta. Nesse sentido, lembra que se trata de «uma clara violação das leis internacionais de direitos humanos e humanitárias».
«Como poetas, escritores, artistas e seres humanos, que partilham a casa comum, o planeta Terra, temos a responsabilidade colectiva de ser testemunhas deste atroz crime contra a humanidade», sublinham, instando à protecção do direito à vida e à dignidade do povo palestiniano e defendendo que os conflitos devem «resolver-se por meios pacíficos e diálogos mútuos».
Destruição de património cultural e histórico
As forças israelitas destruíram de forma total ou parcial 32 instituições culturais, incluindo 12 museus, na Faixa de Gaza, nos últimos seis meses, denunciou fonte palestiniana em Ramala.
Num comunicado por ocasião do Dia do Património Mundial, o Ministério da Cultura palestiniano precisou que os contínuos ataques israelitas destruíram também 195 edifícios históricos, a maioria localizada na cidade de Gaza. A lista inclui ainda nove sítios patrimoniais e 10 mesquitas e igrejas históricas.
A entidade pediu às organizações internacionais para proteger o património cultural palestiniano e obrigar Israel a cumprir os termos dos acordos relacionados com a defesa desses sítios. «Atacar centros culturais é uma vergonhosa violação do direito internacional», realçou.