Defender os direitos do povo, a soberania e independência nacionais

«Avan­çamos para a ba­talha elei­toral do Par­la­mento Eu­ropeu (PE) cons­ci­entes das di­fi­cul­dades e dos pe­rigos que o povo e o País en­frentam, mas também com a de­ter­mi­nação de quem luta em todas as frentes pelos di­reitos do povo e pela so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais, em de­fesa de uma Eu­ropa de co­o­pe­ração entre Es­tados so­be­ranos iguais em di­reitos, de pro­gresso so­cial e de paz», afirmou João Oli­veira, ape­lando ao povo por­tu­guês a que use, «com co­ragem, o poder de trans­for­mação que tem».

Por­tugal elege 21 de­pu­tados para o PE

«Mesmo na noite mais triste; Em tempo de ser­vidão; Há sempre al­guém que re­siste; Há sempre al­guém que diz não». Pa­la­vras de Adriano Cor­reia de Oli­veira, na canção, «Trova do vento que passa», que eco­aram, quinta-feira, 4, no au­di­tório JJ La­ginha no ISCTE – Ins­ti­tuto Uni­ver­si­tário de Lisboa, na de­cla­ração de João Oli­veira, pri­meiro can­di­dato da CDU às elei­ções para o PE de 9 de Junho.

Num cartaz à en­trada, ou­tras pa­la­vras, de «Força de Abril. A co­ragem de sempre!». Ali es­ti­veram pre­si­dentes de câ­maras mu­ni­ci­pais e ou­tros au­tarcas, sin­di­ca­listas, mu­lheres e ho­mens da cul­tura, de­pu­tados e ex-de­pu­tados, di­ri­gentes po­lí­ticos, como Je­ró­nimo de Sousa e Carlos Car­va­lhas, muitos in­de­pen­dentes, es­tu­dantes, entre ou­tras per­so­na­li­dades de di­versas áreas. A en­trada do Se­cre­tário-Geral do PCP, Paulo Rai­mundo, foi sau­dada de pé, com uma sau­dosa salva de palmas, acom­pa­nhada da pa­lavra de ordem «CDU», re­pe­tida inú­meras vezes.

No palco, com um fundo azul e os sím­bolos dos par­tidos que in­te­gram a CDU, es­tava a ban­deira de Por­tugal. Cha­mada por Car­lona Silva, que pre­sidia à sessão, Ma­riana Silva, da Co­missão Exe­cu­tiva do Par­tido Eco­lo­gista «Os Verdes» (PEV), co­meçou por avançar com a ne­ces­si­dade de eleger de­pu­tados para o PE, como os da CDU, que «de­fendam a so­be­rania ali­mentar, pro­mo­vendo as prá­ticas agrí­colas mais amigas do am­bi­ente, li­vres de pes­ti­cidas e de pe­gada am­bi­ental» e que «se batam pela pro­moção de uma mu­dança total na Po­lí­tica Agrí­cola Comum (PAC), pri­o­ri­zando a agri­cul­tura fa­mi­liar e pro­mo­vendo prá­ticas que pro­tejam a água, as se­mentes e a cul­tura que en­cerram, di­zendo não aos or­ga­nismos ge­ne­ti­ca­mente mo­di­fi­cados», sempre «com a pri­o­ri­dade no bem-estar animal e a se­gu­rança ali­mentar, evi­tando o trans­porte animal em longas dis­tân­cias».

Des­tacou uma questão que é «muito sen­sível» para o PEV: a pro­tecção do lobo ibé­rico, es­pécie que quase se ex­tin­guiu e cujo es­ta­tuto a União Eu­ro­peia (UE) quer re­duzir. «Por muitas pro­messas de pro­tecção da bi­o­di­ver­si­dade, por muitas cam­pa­nhas de pro­tecção do am­bi­ente, por muitas metas que se im­po­nham aos países para a des­car­bo­ni­zação, na re­a­li­dade es­co­lhem sempre ir pelo ca­minho mais fácil e de adaptar as leis ao in­te­resse co­mer­cial, de impor mais con­sumos, da ex­plo­ração dos re­cursos na­tu­rais de forma de­sen­freada, des­truindo solos e len­çóis freá­ticos, es­pé­cies pro­te­gidas, como os so­breiros, em nome de uma tran­sição que tem apenas como ob­jec­tivo prin­cipal o lucro de poucos», apontou a eco­lo­gista.

Enu­merou, de se­guida, ou­tras pri­o­ri­dades da CDU, como «uma tran­sição ener­gé­tica ne­ces­sária, mas justa», um «com­pro­misso» que «tem que deixar de estar plas­mado no papel e passar à prá­tica». Deu como exemplo «o in­ves­ti­mento ou a falta dele no trans­porte pú­blico co­lec­tivo. «Apesar de todos os re­la­tó­rios e es­tudos in­di­carem a fer­rovia como o trans­porte menos po­lu­ente, mais se­guro, com todo o po­ten­cial para con­tri­buir para a des­car­bo­ri­zação da Eu­ropa, a ver­dade é que Por­tugal está sem li­gação de com­boio à Eu­ropa desde a pan­demia», sa­li­entou Ma­riana Silva.

Novos ata­ques
Num ba­lanço à adesão de Por­tugal à então CEE, em 1986, Paulo Rai­mundo, Se­cre­tário-Geral do PCP, in­formou que «os fundos co­mu­ni­tá­rios e as cla­madas “ba­zucas” não com­pensam, como nunca com­pen­saram, tudo aquilo de que se ab­dicou e se está a ab­dicar no nosso de­sen­vol­vi­mento». «Com o euro, o País só co­nheceu es­tag­nação eco­nó­mica, con­tenção sa­la­rial, menos ser­viços e in­ves­ti­mento pú­blico», cri­ticou.

O di­ri­gente co­mu­nista deu ainda a co­nhecer uma «nova di­rec­tiva que dá à Co­missão Eu­ro­peia plenos po­deres para impor ao País ritmos para a re­dução da dí­vida, maior aperto sobre a des­pesa pú­blica para as fun­ções so­ciais do Es­tado, menos in­ves­ti­mento, mais cortes nos ser­viços pú­blicos, mais pri­va­ti­za­ções, ata­ques ao di­reito do tra­balho e à pro­tecção so­cial, mais con­tenção sa­la­rial».

«A UE está ao ser­viço do grande ca­pital e é este quem de­ter­mina o rumo das po­lí­ticas e a ver­dade é que se estão nas tintas para os tra­ba­lha­dores, os povos, os imi­grantes, para a na­tu­reza e o am­bi­ente», de­nun­ciou.

Quase a ter­minar, dando «o pon­tapé de saída para a ba­talha de grande im­por­tância para a luta que aí está e que é de­ter­mi­nante para cons­truir, dia a dia, a al­ter­na­tiva que se impõe», Paulo Rai­mundo, apelou ao re­forço do PCP e da CDU no PE, para «dar força à de­mo­cracia, à paz e à so­be­rania».

Es­co­lhas im­por­tantes
Muito acla­mada foi, igual­mente, a in­ter­venção de João Oli­veira. «As es­co­lhas a fazer nestas elei­ções para o PE não podem estar des­li­gadas dos pro­blemas na­ci­o­nais», assim como «da si­tu­ação in­ter­na­ci­onal, em es­pe­cial da UE», co­meçou o can­di­dato, pe­dindo a re­flexão dos por­tu­gueses «sobre o ca­minho que con­duziu Por­tugal à di­fícil si­tu­ação que atra­vessa, com os olhos postos na al­ter­na­tiva que o País pre­cisa» e para ter «cons­ci­ência de que vai ser pre­ciso juntar forças entre os povos para travar o mi­li­ta­rismo e a guerra, para fazer pre­va­lecer a paz, para con­cre­tizar um ca­minho de pro­gresso e jus­tiça so­cial, para con­tra­riar o as­censo de forças an­ti­de­mo­crá­ticas, re­ac­ci­o­ná­rias, de cariz fas­ci­zante e der­rotar o seu dis­curso de ódio e as po­lí­ticas de re­tro­cesso, in­jus­tiças e de­si­gual­dades ao ser­viço do grande ca­pital que pre­tendem agravar».

Com «co­ragem», a CDU «con­ti­nuará a contar de­ci­si­va­mente na luta por uma terra onde toda a gente trata toda a gente por igual», as­se­gurou o can­di­dato, que es­pera uma «ba­talha elei­toral exi­gente». «A al­ter­na­tiva que afir­mamos as­sume-se como her­deira e con­ti­nu­a­dora dos va­lores da Re­vo­lução de Abril que abriu Por­tugal ao mundo, que pôs os olhos do mundo neste País e deu ao povo or­gulho no fu­turo que estão cons­truía», sa­li­entou o can­di­dato, as­se­gu­rando que «são os povos que têm nas suas mãos o poder de trans­formar as suas vidas e os seus países, de trans­formar a re­a­li­dade do con­ti­nente eu­ropeu».

O mo­mento en­cerrou de forma emo­tiva, sen­tida, com todos os pre­sentes a cantar, a uma só voz, a «Grân­dola Vila Mo­rena» e «A Por­tu­guesa».

 

Ca­minho in­sus­ten­tável

Se­gundo João Oli­veira, «o ca­minho para onde Por­tugal tem sido em­pur­rado é in­sus­ten­tável». «A su­jeição de Por­tugal ao pacto de agressão das troikas e a pan­demia con­fir­maram de forma dra­má­tica o grau de su­bor­di­nação do poder po­lí­tico, de fra­gi­li­dade da nossa eco­nomia e a ex­tensão da nossa de­pen­dência», afirmou, dando outro exemplo, mais re­cente: «a su­bida das taxas de juro de­ter­mi­nada de forma im­pla­cável re­vela com crueza a quem serve o Euro e o Banco Cen­tral Eu­ropeu (BCE)», mas também «o grau de ali­e­nação de so­be­rania que atin­gimos». «Aos mi­lhares de fa­mí­lias e de micro, pe­quenas e mé­dias em­presas (MPME), su­fo­cadas com a su­bida das pres­ta­ções do cré­dito, res­pondeu a pre­si­dente do BCE, Ch­ris­tine La­garde, di­zendo que a con­tenção dos sa­lá­rios é um dado “en­co­ra­jador”, mas ainda não chega», re­cordou o can­di­dato, cri­ti­cando essa «in­di­fe­rença com o povo, ti­tular da so­be­rania».

 

Sem he­si­ta­ções entre a guerra e a paz

A in­ter­venção de João Oli­veira abordou, igual­mente, «as ques­tões da guerra e da paz», que são «de­ci­sivas para os povos do mundo e em es­pe­cial para os povos da Eu­ropa», pe­rante as quais «não há da parte da CDU qual­quer he­si­tação».

«Na Ucrânia, na Pa­les­tina ou nou­tros pontos do globo onde os povos sejam mar­ti­ri­zados com a guerra, a po­sição da CDU será a única que serve aos povos: a de­fesa da paz», re­forçou.

Ma­ni­festou-se ainda contra «as po­lí­ticas que negam aos re­fu­gi­ados e mi­grantes o re­co­nhe­ci­mento da dig­ni­dade da sua vida e o di­reito a que ela seja me­lhor», de­fen­dendo co­e­ren­te­mente «a so­li­da­ri­e­dade, a fra­ter­ni­dade e o hu­ma­nismo com que se tem de cons­truir a so­ci­e­dade nova que é o fu­turo da hu­ma­ni­dade».

«O ra­cismo, a xe­no­fobia, a dis­cri­mi­nação e o ódio são in­cul­cados por quem se ali­menta da ex­plo­ração, be­ne­ficia dos con­flitos entre os povos e, por isso, os es­ti­mula de­li­be­rada e ar­ti­fi­ci­al­mente», cri­ticou o can­di­dato, lem­brando que «du­rante muitas dé­cadas os povos eu­ro­peus pro­cu­raram nou­tros pontos do mundo as con­di­ções de vida que não en­con­travam nos seus países ou o re­fúgio face às guerras e às di­ta­duras nazi-fas­cistas».

«Hoje, na Eu­ropa, têm de pre­va­lecer os va­lores de so­li­da­ri­e­dade, fra­ter­ni­dade e hu­ma­nismo com que os povos eu­ro­peus foram então aco­lhidos», frisou, acres­cen­tando: «Por­tugal, no quadro das suas ca­pa­ci­dades, pode e deve aco­lher imi­grantes e re­fu­gi­ados as­se­gu­rando os seus di­reitos la­bo­rais e so­ciais como deve as­se­gurar a todos os ou­tros tra­ba­lha­dores em Por­tugal, cri­ando con­di­ções para a sua in­serção e re­cons­trução das suas vidas, com­ba­tendo a de­su­ma­ni­zação e a ex­plo­ração de que são alvo».

 

Pro­postas da CDU con­tra­riam ori­en­ta­ções e im­po­si­ções da UE

# Va­lo­rizar sa­lá­rios e pen­sões e me­lhorar as con­di­ções de vida do povo;

# Con­tratar os tra­ba­lha­dores que faltam nos ser­viços pú­blicos e va­lo­rizar os seus sa­lá­rios, car­reiras e con­di­ções de tra­balho;

# As­se­gurar o in­ves­ti­mento pú­blico na saúde, na ha­bi­tação, na edu­cação, na cul­tura e na ci­ência, na mo­der­ni­zação de infra-es­tru­turas e equi­pa­mentos;

# Defender a pro­dução na­ci­onal e os sec­tores pro­du­tivos, pondo o País a pro­duzir, cri­ando ri­queza e em­prego;

# Garantir um de­sen­vol­vi­mento as­sente numa re­lação har­mo­niosa e sus­ten­tável entre o ser hu­mano e a Na­tu­reza e as trans­for­ma­ções eco­nó­micas e so­ciais que este exige.

 

(…) «Por­tugal é hoje um País em­po­bre­cido por dé­cadas de po­lí­ticas de de­sa­pro­vei­ta­mento das suas ca­pa­ci­dades e po­ten­ci­a­li­dades, que têm des­va­lo­ri­zado o tra­balho e os tra­ba­lha­dores, pro­mo­vido a con­cen­tração da ri­queza e ali­e­nado a so­be­rania na­ci­onal, que negam o cum­pri­mento das res­pon­sa­bi­li­dades do Es­tado na efec­ti­vação dos di­reitos con­sa­grados na Cons­ti­tuição, que acen­tuam o do­mínio do ca­pital mo­no­po­lista sobre a vida na­ci­onal.

(…) «Um País que, po­dendo pro­duzir muito, é go­ver­nado para pro­duzir pouco e obri­gado a com­prar fora grande parte da­quilo que há de mais es­sen­cial à so­bre­vi­vência in­di­vi­dual e à vida co­lec­tiva, dos ce­reais à carne e ao peixe, dos equi­pa­mentos hos­pi­ta­lares aos me­di­ca­mentos, dos equi­pa­mentos elec­tró­nicos a com­boios e au­to­carros», em «que a acção go­ver­na­tiva há dé­cadas se ca­rac­te­riza pela su­bor­di­nação do poder po­lí­tico ao poder eco­nó­mico.»

(…) «Uti­li­zando os mais va­ri­ados ar­ti­fí­cios, a UE tem vindo a in­tervir de forma cres­cente em áreas de com­pe­tência na­ci­onal, mesmo em do­mí­nios tão sen­sí­veis para a de­mo­cracia como a li­ber­dade de im­prensa e a cen­sura, entre ou­tros, em óbvio con­flito com a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.»

(…) «Nas suas re­a­li­za­ções e avanços, a Re­vo­lução de Abril con­firma a de­fesa da so­be­rania e da in­de­pen­dência na­ci­o­nais como ele­mentos es­sen­ciais para a adopção de uma po­lí­tica de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial que res­ponda efec­ti­va­mente aos pro­blemas e às ne­ces­si­dades do povo e do País, para uma po­lí­tica ex­terna de paz, ami­zade e co­o­pe­ração com os povos do mundo, para a eman­ci­pação dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês.»

(…) «É pre­ciso in­verter esse rumo de em­po­bre­ci­mento e cons­truir a al­ter­na­tiva, rom­pendo com a po­lí­tica de di­reita, con­cre­ti­zando uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda, en­fren­tando os obs­tá­culos, li­mi­ta­ções e con­di­ci­o­na­mentos que ve­nham a co­locar-se, sejam in­ternos ou ex­ternos».

(…) «Para que possa con­tri­buir para uma Eu­ropa de co­o­pe­ração entre Es­tados so­be­ranos iguais em di­reitos, de pro­gresso so­cial e de paz, Por­tugal terá de fazer frente às po­lí­ticas ne­o­li­be­rais, fe­de­ra­listas e mi­li­ta­ristas da União Eu­ro­peia.»

(…) «Contra o desvio de re­cursos fi­nan­ceiros dos Es­tados para o be­li­cismo, para o ne­gócio bi­li­o­nário da in­dús­tria do ar­ma­mento, para a guerra, a CDU de­fende a uti­li­zação desses re­cursos para dar res­posta ao di­reito à saúde, à edu­cação, à ha­bi­tação, aos trans­portes, não dei­xando de as­se­gurar os meios para que as Forças Ar­madas por­tu­guesas cum­pram a sua missão cons­ti­tu­ci­onal de sal­va­guarda da in­de­pen­dência e da so­be­rania na­ci­o­nais.»

Ex­tractos da de­cla­ração de João Oli­veira