Há 83 anos, a 14 de Abril, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, assinou um decreto-lei a proíbir as mulheres de praticar desportos “incompatíveis com as condições da sua natureza”. O texto não especifica quais as modalidades abrangidas, mas a proibição do futebol está implícita. Segundo a historiadora Giovana Capucim e Silva, na sua dissertação de mestrado sobre o assunto, defendida em 2015 na USP, a decisão assenta na visão conservadora e patriarcal do papel da mulher na sociedade, fomentada pela ditadura. “Segundo os médicos da época, o potencial materno das moças podia ser prejudicado”, diz, lembrando que às mulheres competia “a geração de filhos fortes para a nação”. E cita a propósito o médico Belisário Penna(1868-1939): “a mulher encontrará a verdadeira esfera de acção, adequada ao sexo e aos seus deveres, no desempenho das funções do lar, da família, da escola e de tudo quanto tenha relação com esses fundamentos das sociedades moralizadas e sadias”. A historiadora faz ainda notar que, em todo o mundo, as mulheres tendem a ser afastadas dos desportos nacionais, citando exemplos como o futebol americano, nos EUA; o râguebi, na Austrália e na Nova Zelândia; ou o criquete, na Índia. A legislação foi abolida em 1979. Os preconceitos mantêm-se.