- Nº 2626 (2024/03/28)

DESENVOLVER A LUTA RUMO A ABRIL

Editorial

Estamos hoje perante um novo quadro político. Como o PCP tem vindo a alertar, os resultados eleitorais criaram uma situação ainda mais favorável ao grande capital. Mas tem sublinhado também que o conteúdo e a mobilização da campanha da CDU se projecta muito para lá das eleições: projecta-se na luta que continua e no reforço e iniciativa do PCP pelas respostas às exigências da situação que vivemos. Uma situação económica e social marcada pelo agravamento do custo de vida, pela erosão dos salários e das pensões, pela degradação dos serviços públicos – em particular o SNS –, pelas dificuldades no acesso à habitação. E, em simultâneo, pelos lucros multimilionários dos principais grupos económicos.

Entretanto, na semana passada, o Presidente da República indigitou o primeiro ministro. Anteontem tomaram posse os 230 deputados da AR e teve início a XVI legislatura, cuja primeira sessão foi marcada pela turbulência em torno da eleição do presidente da Assembleia da República. Os lamentáveis acontecimentos que envolveram este processo são expressão e responsabilidade directa do que a maioria de direita saída das eleições representa. Desviam a preocupação dos problemas dos trabalhadores, do povo e do País, que devem ser o centro das atenções e não iludem a identificação de objectivos que une PSD, CDS, Chega e IL e a sua convergência ao serviço do capital monopolista. No mesmo sentido, o PCP demarca-se de toda uma construção que visa, em nome do combate à direita, abrir espaço a convergências e acordos entre PS e PSD que só ampliam a base de apoio político e institucional à política de direita e aos seus objectivos. O PCP intervirá sempre, com frontalidade, honestidade e seriedade em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores e do povo e pela resposta aos problemas do País.

Hoje mesmo, deverá ser anunciada a composição do Governo PSD/CDS que, como já foi divulgado, contará, desde a primeira hora, com a firme oposição do PCP à sua política anti-social e antinacional, com todos os meios ao seu dispor.

Efectivamente, o PCP anunciou que apresentará uma moção de rejeição ao programa do Governo, dando assim um forte sinal político, num momento que será, certamente, de clarificação.

O PCP não tem nem alimenta nenhuma ilusão sobre o que aí vem. Sabe bem o que esperar da direita e da sua política e não terá a mínima tolerância pelo projecto reaccionário de exploração e retrocesso social que PSD e CDS (com o apoio do Chega e IL, com manobras e aparentes divergências) há muito ambicionavam poder retomar.

Os trabalhadores e o povo precisam de uma mudança a sério com respostas aos seus problemas e não podem continuar a ser enganados. Os trabalhadores e o povo, hoje como sempre, é com o PCP que podem contar.

Respeitando os seus compromissos, o PCP cá estará a intervir, entre tantas outras matérias, pelo aumento geral dos salários; pelo aumento extraordinário das reformas e das pensões; pela valorização do trabalho e dos trabalhadores; pela defesa do SNS com a fixação de profissionais; para repor o tempo de serviço aos professores e pôr fim à precariedade nas escolas; para cumprir com as forças de segurança, os profissionais da justiça, os militares e tantos outros; para garantir uma rede pública de creches; fixar os preços de bens alimentares; garantir o direito à habitação.

Foi honrando estes compromissos que, no mesmo dia em que se dava início à nova Legislatura, o PCP apresentou as primeiras dez iniciativas legislativas, a que outras se seguirão.


São também estas opções que vão estar em confronto nas eleições para o Parlamento Europeu, onde, ao contrário dos outras forças políticas, o PCP, com a coragem de sempre, se apresenta de forma clara, pela soberania e a independência nacional, pelo direito do povo a decidir do seu caminho, a deixar de se submeter às ordens de Bruxelas e ditames da União Europeia, cada vez mais vergada aos interesses do capital monopolista.

O PCP é a força de Abril, da soberania e da independência nacional, da democracia, do desenvolvimento e do progresso social. A força da paz, da solidariedade e da cooperação. É a força dos trabalhadores e do povo, a sua voz no Parlamento Europeu.


Entretanto, desenvolve-se a luta de massas, como no sábado passado se viu na manifestação nacional de mulheres, em Lisboa, convocada pelo MDM. Uma acção que, no seguimento das comemorações do 8 de Março, demonstrou que há muita força e determinação para lutar pela igualdade na lei e na vida e não permitir retrocessos no que foi conquistado. Viu-se também na luta dos estudantes e, ontem, na manifestação da juventude trabalhadora convocada pela CGTP-IN, e vê-se na acção reivindicativa que prossegue nas empresas, sectores e locais de trabalho.

Aproximam-se as comemorações populares dos 50 anos do 25 de Abril. Abril que é mais futuro e exige uma grande participação para uma forte afirmação dos seus valores. Avança igualmente a preparação do 1.º de Maio, dessa poderosa jornada de luta que está colocada a todos os trabalhadores como grande momento de afirmação das suas justas reivindicações, a partir das empresas e locais de trabalho.


Após as eleições legislativas, as circunstâncias de intervenção face aos resultados eleitorais são necessariamente mais exigentes. Mas a juventude, os democratas, os patriotas, todos o que cá vivem e trabalham sabem que contarão sempre com o PCP. E que, para defender direitos, rejeitar a política de direita e abrir caminho à alternativa inspirada nos valores de Abril, a luta dos trabalhadores e do povo, sejam quais forem as circunstâncias, será sempre o factor decisivo.