Lucros dos grupos económicos em 2023 agravam injustiças
A esmagadora maioria destes grupos obteve lucros líquidos ainda superiores aos de 2022
Depois de um ano de 2022 em que o sector empresarial teve no nosso país, de lucros líquidos (lucros depois de pagar impostos), cerca de 45 mil milhões de euros, batendo todos os recordes em relação a anos anteriores, os dados já conhecidos apontam para um 2023 ainda melhor para as grandes empresas e, em particular, para os maiores grupos económicos.
No final do 1.º trimestre do ano, a quase totalidade dos resultados económico-financeiros dos principais grupos económicos de base nacional são inequívocos: a esmagadora maioria destes grupos obteve lucros líquidos ainda superiores aos de 2022.
Só os cinco principais bancos do nosso sector financeiro tiveram um aumento dos seus lucros em relação a 2022 de 72,3%, 12,2 milhões de euros de lucros líquidos por dia, enquanto os 18 maiores grupos económicos atingiram de lucros líquidos 25,2 milhões de euros por dia.
Para estes resultados muito contribuíram as elevadas subidas das taxas de juro dos empréstimos bancários e o seu reflexo no montante das margens financeiras dos bancos, a manutenção das comissões bancárias, as margens praticadas pelas grandes superfícies comerciais (que esmagam produtores e consumidores) e pelas empresas do sector energético, aproveitando-se e cavalgando as dificuldades de abastecimento internacional de bens alimentares e energéticos.
Sublinha-se que a dimensão dos lucros apresentados pelos principais grupos económicos de base nacional não envolve as multinacionais ou grandes empresas estrangeiras que operam em Portugal e cujo volume de lucros acompanha a mesma tendência de acumulação de capital, em contraste com os dificuldades sentidas pelos trabalhadores e reformados no nosso País. Dificuldades que se expressam todos os dias na vida de quem trabalha, e onde pesa a política de contenção salarial e de agravamento das taxas de juro (BCE) imposta em nome do combate à inflação, (a inflação acumulada em 2022 e 2023 foi de pelo menos 12,5%) contribuindo para o aprofundamento das injustiças e degradação das condições de vida.
Entretanto, o INE acabou de divulgar os resultados do Inquérito Trimestral ao Emprego referente ao 4.º Trimestre e ao ano de 2023, em que é disponibilizada informação sobre o rendimento médio mensal líquido da população empregada por conta de outrem nos últimos anos.
Segundo estes dados do INE, o rendimento médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, isto é, o salário médio que o trabalhador leva para casa retirados os descontos para a Segurança Social e os descontos para o IRS, subiu no ano passado 30 euros, para 1 041 euros, o que corresponde a um aumento de 2,97%, face ao salário médio de 1 011 euros de 2022, mas este valor não chega para compensar a inflação média de 4,3% registada em 2023. Para tal, esse aumento médio teria de ter sido de 43,5 euros.
Se juntarmos os dados de 2022, em que a inflação foi de 7,8%, concluiremos que, segundo estes dados do INE, a perda média de poder de compra nos últimos dois anos foi de 60 euros por mês.
Os dados – lucros e salários – aqui tratados confirmam o quadro de profundas injustiças e desigualdades que marcam a situação nacional.
Por todas estas razões a valorização dos salários constitui hoje imperativo nacional e por isso mesmo o PCP tem vindo a bater-se por um aumento mínimo dos salários de 15% e não inferior a 150 euros, pois só desta forma será possível repor muito do poder de compra perdido nos últimos anos, o que fez com que o peso ajustado dos salários no PIB (indicador do Eurostat) tenha baixado dos 60,1% em 1998 (ano de adesão ao euro) para os 52,9% em 2023 (menos 7,2 pontos percentuais). Portugal foi mesmo dos actuais vinte países que constituem a zona euro, um dos países onde esta quebra, desde a adesão ao euro foi maior.