- Nº 2625 (2024/03/21)

TOMAR A INICIATIVA POR ABRIL

Editorial

Num contexto em que os problemas se vão agravando, os resultados eleitorais de 10 de Março criaram uma situação ainda mais favorável ao grande capital e ao aprofundamento da política de direita.

De facto, os resultados eleitorais dos partidos de direita constituem um elemento negativo para os trabalhadores, o povo e o País. Foi um resultado conseguido pela demagogia, a mentira e a ilusão, que arrastou muitos milhares de portugueses para a falsa ideia da mudança. Uma mudança que de facto se exige, mas que, contrariamente ao que foi prometido, nunca virá pelas mãos de PSD, CDS, Chega e IL, donde, aliás, só pode vir mais favorecimento dos interesses dos grupos económicos, mais ataques aos serviços públicos, mais desmantelamento do SNS e da Escola Pública, mais ataques ao regime democrático.

O número de deputados ao serviço dos interesses dos grupos económicos aumentou no seguimento das eleições. E é nesta nova correlação de forças que se vai tentar ir ainda mais longe no aprofundamento da exploração, empobrecimento e declínio nacional, objectivos que unem PSD e CDS e os que deles saíram para formar o Chega e a IL.

Mas, em boa verdade, também se deve reconhecer que só chegámos a esta situação, em grande medida, por responsabilidade do PS, que, com tudo na mão, uma maioria, um Governo e condições financeiras, optou por não responder aos problemas centrais de quem cá vive e trabalha. E, ao não responder, ao mesmo tempo que concedia grandes apoios e benefícios aos grupos económicos, aumentou a justa indignação e sentimento de injustiça de milhões de trabalhadores,

Estamos agora perante um novo quadro político que iremos enfrentar, desde o primeiro minuto, a começar pela previsível formação de um Governo PSD/CDS.

O PCP intervirá com todos os meios nas instituições ou nas ruas, não abdicando de nenhum instrumento ao seu dispor. Neste sentido, já assumiu que, caso o Governo da AD seja formado, apresentará uma moção de rejeição. De facto, não é preciso esperar pela sua entrada em funções para se saber quais os projectos e objectivos desse Governo, donde só poderá vir mais exploração e injustiça.

Na actual situação e honrando os seus compromissos, o PCP intervirá pelo aumento geral dos salários; pelo aumento extraordinário das reformas e pensões; por respeitar e valorizar os trabalhadores; fixar profissionais no SNS; cumprir com as forças de segurança; repor o tempo de serviço dos professores e pôr fim à precariedade nas escolas; fixar preços de bens alimentares e baixar o IVA na electricidade, telecomunicações e gás; travar o aumento das rendas e pôr os lucros da banca a suportar os aumentos das taxas de juro; dar combate às privatizações, à corrupção e às injustiças; defender e fazer cumprir a Constituição da República.

O resultado eleitoral da CDU não torna menos legítimas nem menos urgentes, as opções que têm de ser feitas. Um resultado eleitoral que traduzindo um desenvolvimento negativo, é em si mesmo um sinal de resistência.

E, pelo seu grande significado, não deixamos de valorizar a campanha eleitoral que foi feita. Uma campanha de contacto levada a cabo por milhares de activistas, militantes do PCP, do PEV, com muita juventude e muitas pessoas sem filiação partidária que se juntaram e construíram a pulso o resultado da CDU. Trabalho que se vai reflectir no futuro e que vai ter, desde já, continuidade na jornada de contacto com os trabalhadores e a população, que o PCP vai realizar entre hoje e domingo.

Neste novo contexto político, desenvolveremos a luta contra a política de direita, enfrentando a ofensiva contra os direitos e condições de vida, conscientes de que será a luta a impor a ruptura com essa política e a concretização de uma política alternativa inspirada nos valores de Abril.

Lutas que estão a ter lugar um pouco por todo o País, em variadíssimos sectores e adoptando as mais diversas formas. Lutas em curso e em preparação de que são exemplo, as lutas dos professores, médicos, enfermeiros, jornalistas, trabalhadores da Administração Pública, das misericórdias, da distribuição, dos estudantes, da juventude, das mulheres e tantas e tantas outras. Luta que terá expressão na Manifestação Nacional de Mulheres convocada pelo MDM, no próximo sábado, em Lisboa e na Manifestação Nacional da Juventude Trabalhadora, convocada pela CGTP-IN para o dia 27, em Lisboa e no Porto.

E, neste contexto, impõe-se fazer umas grandes e massivas comemorações populares dos 50 anos do 25 de Abril. E, do mesmo modo, fazer do 1.º de Maio uma grande e poderosa jornada de luta, construída a partir da acção reivindicativa nas empresas e locais de trabalho.

Esta exigência de mudança, terá de ter também expressão nas eleições para o Parlamento Europeu, que devem ser vistas como uma oportunidade de, com o voto na CDU, afirmar o caminho necessário para o País e para a Europa. O caminho da melhoria das condições de vida, do desenvolvimento, progresso social, paz e cooperação entre os povos.

Exigência de mudança e construção da alternativa patriótica e de esquerda, que, envolvendo democratas, patriotas e a juventude, responda aos interesses dos trabalhadores e do povo e afronte os interesses do capital monopolista.