Greve na Teleperformance evidencia descontentamento e revolta
Durante a greve de segunda-feira, dia 26, na Teleperformance Portugal, realizou-se uma concentração com várias centenas de trabalhadores, no exterior da sede da empresa, exigindo melhores salários.
Com a «reestruturação» ficou patente a importância do salário certo
A sede, a que a filial portuguesa da multinacional de prestação de serviços de atendimento em vários canais chamou City Center (Edifício Marconi), é também um dos locais de maior concentração de trabalhadores. Os primeiros a chegar, ainda antes das 14 horas marcadas pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisuais (SINTTAV), foram ocupando a escadaria. Em meia hora, já a concentração se alargava para duas faixas da Rua Álvaro Pais.
Foram mais de 500, na estimativa da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS/CGTP-IN), num dia de elevada adesão à greve, para exigir melhores salários e condições de trabalho. Trata-se de «um dos maiores empregadores no sector, a nível mundial e também em Portugal, e com um poder económico incomparável ao dos seus concorrentes, tendo por isso condições mais que suficientes para praticar uma distribuição de riqueza muito mais justa».
A generalidade dos cerca de 14 mil trabalhadores em Portugal – de diversas nacionalidades, como na concentração foi bem evidente, pelos cartazes exibidos, em várias línguas – «possui elevadas qualificações profissionais, as quais são remuneradas através de salários a rondar o salário mínimo nacional». Esta situação, «de todo inadmissível», agravou-se neste início de ano. A pretexto do aumento do salário mínimo nacional, a Teleperformance aplicou uma «revisão da estrutura de compensação».
Para o sindicato, este «eufemismo» não funcionou. Nos plenários realizados no dia 7 «ficou claro o enorme descontentamento dos trabalhadores, que não mais aceitam ser literalmente roubados», pois a «reestruturação» apenas significa «cortes nos prémios de campanha, “staff”, bónus de língua, etc.». Foi ainda decidido avançar para a greve e a concentração, dia 26.
Numa reunião realizada na sexta-feira, dia 23, entre a administração da Teleperformance e o SINTTAV, que «durou mais de cinco horas», a parte patronal apenas aceitou que o pagamento do valor do subsídio de refeição pudesse ser em dinheiro ou em cartão, por opção do trabalhador, «mas dependendo de haver acordo para suspender a luta», relatou a FECTRANS. Todas as demais propostas sindicais foram rejeitadas.
A federação recordou o que é exigido pelos trabalhadores e pelo seu sindicato:
– Que nenhum salário seja inferior a 920 euros, com efeitos a 1 de Janeiro;
– Que nenhum trabalhador tenha um aumento inferior a 100 euros, com efeitos a 1 de Janeiro;
– Que a administração aceite para discutir com o SINTTAV o corte nos bónus, bem como os critérios e valores a aplicar no futuro;
– Que o pagamento do subsídio de refeição seja feito, por opção do trabalhador, com a retribuição ou através de cartão;
– Que todos as remunerações pagas indevidamente em Janeiro, com o valor de 760 euros, sejam corrigidas para o valor de 820 euros até que vigore outro valor.
«Estas reivindicações serão entregues à administração da Teleperformance e da resposta dependerá a continuação desta grande luta», explicou a FECTRANS.
Paulo Raimundo defende valorização dos salários
O Secretário-Geral do PCP compareceu no início da concentração, em solidariedade com a luta. Além de várias conversas com trabalhadores e dirigentes sindicais, Paulo Raimundo usou um megafone para transmitir «uma grande saudação a todos vós, pela vossa coragem e pela vossa determinação por estarem a lutar por aquilo a que têm direito, por estarem a lutar pelo vosso trabalho, pela vossa estabilidade e, acima de tudo, por uma coisa pela qual estamos a batalhar e que não vamos largar: o aumento dos salários».
«Não há nada que justifique que não haja aumento dos salários, não há nada que justifique estes milhões de lucros e a vida de cada um de nós cada vez mais apertada», afirmou o dirigente comunista. Realçou que, como trabalhadores, «precisamos de ser valorizados, respeitados e precisamos de ter uma coisa com a qual se paga as contas, a renda, a alimentação, que é o salário». «E salários não são bónus ou prémios, é aquilo que cai ao final do mês, de forma certa», sublinhou o dirigente comunista, reiterando apoio a tão «justíssima reivindicação».