- Nº 2622 (2024/02/29)

Ode à guerra

Opinião

Como os centros de poder já nos habituaram, assinalou-se ao longo da última semana, de variadíssimas formas e até à exaustão, os dois anos do inicío da intervenção militar da Rússia na Ucrânia. Insistem na falácia de que a guerra começou com a entrada das tropas russas em território ucraniano, omitindo os 8 anos de guerra no Donbass que a antecederam e as mais de 15 mil vítimas. Omitem igualmente a estratégia de tensão e confrontação dos EUA e da UE com a Rússia, que passou pelo contínuo alargamento da NATO e o reforço da estrutura militar ofensiva junto às suas fronteiras. Uma guerra que podia ter sido evitada se esses mesmos centros de poder o quisessem.

Os desenvolvimentos verificados, incluindo com a escalada e prolongamento da guerra e a imposição de sanções, não só se saldaram em milhares de vitimas, como no aumento do custo de vida e das dificuldades sentidas pelos trabalhadores e os povos da Europa, que pagam o custo da confrontação e da guerra. No entanto, da parte dos EUA, NATO, UE e seus propagandistas, não surgem as palavras «cessar-fogo», «negociações», «resolução pacífica do conflito», «paz». A instigação da guerra ganha novo fôlego com mais «sanções», «ajuda financeira», «munições e mísseis», «reforço militar».

A União Europeia, mesmo com contradições no seu seio, joga em múltiplos planos no apoio à Ucrânia. Desbloqueado o veto da Hungria, vai gastar mais 50 mil milhões de euros na guerra, promete mais munições e mísseis, canaliza meios para o reforço da indústria militar e acena com a integração da Ucrânia na UE. Cavalgando na falácia do fim da ajuda dos EUA à Ucrânia e agitando com a dita «investida» russa contra o Ocidente, o presidente francês realizou na passada segunda-feira uma conferência de apoio à Ucrânia em Paris, para abrir caminho a um possível envio de tropas de países da NATO para a Ucrânia, o que assume a maior gravidade. As declarações de Macron evidenciam até onde estão dispostos a ir os círculos mais agressivos e militaristas do imperialismo para não perder a face, não excluindo o envolvimento directo na guerra pago com o sangue dos seus povos.

Uma perigosa fuga em frente que, entre outros aspectos, evidencia o falhanço das sanções aplicadas contra a Rússia, mas das quais os EUA têm beneficiado à custa da UE. Mesmo assim, EUA, UE e Reino Unido decidiram aprovar novos pacotes de sanções visando a Rússia, que, pasme-se, incluem a sua extensão a entidades e empresas de países terceiros, como da China, da Índia, entre outros países.

Na declaração saída do encontro virtual dos líderes do G7, realizado no passado sábado, de apoio à Ucrânia, não só se apontaram baterias à Rússia, mas também à China, ao Irão e à RPD da Coreia. O imperialismo norte-americano reafirma assim a sua estratégia global de imposição da sua hegemonia com a «ordem internacional baseada em regras», ameaçando todos o países que não aceitam subjugar-se aos seus interesses e que procuram desenvolver relações de cooperação mutuamente vantajosas, particularmente a China.

Uma semana marcada pela apologia à guerra, que é vergonhosamente acompanhada pelo Presidente da República e o Governo português. Neste caminho de abismo para o qual querem arrastar os povos, a luta pela paz é mais importante que nunca.


Cristina Cardoso