Prosseguem os ataques israelitas na Faixa de Gaza, agora no sul do território, onde se concentram já mais um milhão e meio de deslocados. Ao mesmo tempo, cresce a repressão e violência israelita na Cisjordânia e alguns países, como os EUA, suspendem os fundos à agência da ONU que apoia os refugiados palestinianos.
A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) advertiu para as catastróficas repercussões de uma ofensiva israelita contra a cidade de Rafah, onde estão refugiados mais de um milhão e meio de pessoas, dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza.
A ANP criticou, numa nota, a incapacidade da «comunidade internacional» de parar a guerra e obrigar Telavive a permitir a entrada de ajuda humanitária em quantidade suficiente, de modo a fazer face à muito grave situação em que a população se encontra.
Denunciou que, apesar das crescentes advertências das Nações Unidas e de muitos países e organizações sobre a situação no território, o governo israelita, de extrema-direita, continua «as suas campanhas de distorção e desinformação para ganhar mais tempo com o objectivo de prolongar a guerra, completar os massacres, a destruição e a deslocação forçada contínua da população». E alertou para as declarações de dirigentes israelitas sobre o iminente assalto a Rafah, após o fim do ataque à cidade Khan Yunis, também no sul da Faixa de Gaza. O governo de Telavive planeia «iniciar um novo ciclo de genocídio na cidade e região de Rafah, pondo em grave e real perigo de vida mais de um milhão e meio de palestinianos», sublinha a nota.
Não cessa, entretanto, de subir o número de vítimas palestinianas, após 120 dias de brutal agressão israelita à Faixa de Gaza: mais de 27 mil mortos e de 66 mil feridos, para além de milhares de desaparecidos, na sua maioria crianças e mulheres.
Violência dos colonos na Cisjordânia
As Nações Unidas revelaram que desde o recrudescimento da violência nos territórios ocupados, em Outubro de 2023, foram reportados 447 ataques de colonos israelitas contra a população palestiniana na Cisjordânia.
Num relatório sobre a situação na Palestina, o Gabinete da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) precisou que em 48 desses incidentes houve vítimas entre os palestinianos. Noutros 372 foram danificados bens de propriedade palestiniana e em 57 casos houve vítimas e prejuízos materiais. Nestes quatro meses, um terço dos ataques dos colonos israelitas foram perpetrados com disparos de armas de fogo. Em quase metade dos incidentes, as forças de segurança israelitas apoiaram os colonos.
Segundo a OCHA, em 2023 verificaram-se 1229 ataques de colonos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.
A violência de israelitas dos colonatos ilegais contra os palestinianos é outro método que o Estado israelita utiliza para controlar o território da Margem Ocidental.
Os colonos executam uma variedade de acções, tais como agressões físicas, lançamento de pedras, ameaças e assédio, destruição de árvores e plantações, vandalização de automóveis, bloqueio de estradas e disparos com munição real.
Mais de 751 mil colonos israelitas vivem ilegalmente na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental.
EUA e aliados cortam fundos para UNRWA
Organizações não-governamentais (ONG) condenaram a decisão de várias potências ocidentais, com os EUA à cabeça, de suspender o financiamento à agência da ONU encarregada de ajudar humanitariamente os refugiados palestinianos. A agência, UNRWA, é o principal provedor de ajuda para milhões de palestinianos nos territórios ocupados e em países vizinhos, lembram. «Como organizadores da ajuda, estamos profundamente preocupados e indignados», sublinharam.
A suspensão afectará a assistência vital a dois milhões de palestinianos, mais de metade dos quais são menores de idade, alertam as ONG, acrescentando que a população da Faixa de Gaza enfrenta uma fome iminente e surtos de doenças devido aos «contínuos bombardeamentos indiscriminados e à privação deliberada de ajuda» por parte dos israelitas.
Recorda o texto que 152 membros do pessoal da UNRWA foram mortos e que 145 das suas instalações foram danificadas durante os ataques israelitas destes quatro meses.
O governo israelita acusou 12 pessoas, das 13 mil que trabalham na UNRWA na Faixa de Gaza, de participar na incursão armada do Hamas contra Israel. Embora tanto a agência como a ONU tenham anunciado uma rápida investigação para determinar a veracidade dessas afirmações, diversos países, incluindo EUA, Reino Unido, Alemanha e França, suspenderam de imediato e de forma criminosa a entrega de fundos à UNRWA.
TIJ é esperança de protecção da população palestiniana
A decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, representa uma esperança para a protecção da população palestiniana da Faixa de Gaza, refere um comunicado, do dia 1, subscrito pelos relatores de direitos humanos da ONU.
A sentença, anunciada a 26 de Janeiro, é um feito significativo na luta de décadas do povo palestiniano por justiça, afirmam os peritos sobre as medidas provisórias ordenadas pelo tribunal supremo das Nações Unidas.
Embora o TIJ não tenha determinado um cessar-fogo, como seria necessário e se impunha, as suas disposições ordenaram a Israel a adopção de todas as acções para impedir actos genocidas, entre elas prevenir e castigar a incitação ao genocídio, garantir que a ajuda e os serviços (médicos e outros) chegam aos civis cercados na Faixa de Gaza e preservar as provas dos crimes.
Os relatores reconheceram o sentido de urgência demonstrado pelo TIJ na sua rápida deliberação, adoptada em duas semanas, já que centenas de habitantes da Faixa de Gaza, principalmente mulheres e crianças, estão a ser assassinados pelas forças israelitas em cada dia que passa.
«A ordem judicial é urgentemente necessária para proteger a existência do povo palestiniano das acções potencialmente genocidas que o TIJ ordenou a Israel que cesse e impeça», disseram. «Face à grave situação no terreno e à cuidadosa redacção do Tribunal, cremos que a forma mais eficaz de aplicar as medidas provisórias é mediante um cessar-fogo imediato», reconheceram os relatores.
O processo perante o TIJ apresentado pela África do Sul acusa Telavive de violar, com o assalto militar à Faixa de Gaza, as suas obrigações como subscritor da Convenção para a Prevenção do Delito de Genocídio.