- Nº 2615 (2024/01/11)

Palestina, um crime com nome

Opinião

Completam-se no próximo sábado 100 dias sobre a «guerra de Gaza». São mais de três meses de um autêntico inferno e de actos bárbaros de terrorismo de Estado contra todo o povo palestiniano. Em particular contra a população mártir da Faixa de Gaza, mas também da Cisjordânia ocupada, onde Israel tem vindo a intensificar os ataques, os bombardeamentos, as detenções e as provocações e onde já matou pelo menos 600 palestinianos.

Responsáveis da ONU afirmaram recentemente que a Faixa de Gaza é um território «simplesmente inabitável». Há muito tempo que assim é. Nestes três meses de inferno as bombas (incluindo armas proibidas como bombas de fósforo branco ou «de perfuração») e os ataques israelitas por ar, terra e mar assassinaram, segundo dados do passado domingo, 22.835 pessoas e feriram outras 58.416. Estes números não traduzem a totalidade da chacina. Cerca de 7 mil pessoas continuam desaparecidas por debaixo dos escombros dos mais de 100.000 edifícios ou residências danificados ou totalmente destruídos. As vítimas da barbárie israelita são maioritariamente civis. 70% são crianças e mulheres, estimando-se que em apenas 90 dias tenham sido mortas mais de 10.000 crianças, num tenebroso ritmo de mais de 100 por dia. Centenas de famílias palestinianas viram a totalidade dos seus membros serem mortos.

É difícil encontrar palavras para descrever com rigor o terror e a tenebrosa e fria metodologia de morte e expulsão que Israel leva a cabo na Faixa de Gaza. Nestes três meses o assassinato em massa foi acompanhado por um bloqueio que impede a entrada, em quantidades minimamente suficientes, de bens indispensáveis à sobrevivência, tais como alimentos, medicamentos, combustível, água, entre outros. Mais de 50% da população de Gaza sofre neste momento de fome e as doenças infecciosas atingem já cerca de 400.000 pessoas. Como se isso não bastasse, Israel destrói deliberada e sistematicamente as infra-estruturas civis que poderiam salvar vidas. Atacou à bomba 150 instituições médicas, colocando 30 hospitais e 53 centros de saúde fora de serviço; matou cerca de 350 profissionais de saúde; destruiu mais de 120 ambulâncias e continua a atacar os poucos hospitais que continuam em serviço no sul da Faixa de Gaza – o território para onde Israel ordenou a expulsão da população do norte e centro de Gaza.

Sublinhe-se: nenhum destes crimes é aleatório ou resulta de um qualquer «descontrolo» ou «erro», trata-se de uma operação programada de matança e de tentativa de expulsão de uma população pela força das armas, da fome, da doença e da negação das mais básicas condições de sobrevivência. Não há manipulação que esconda o óbvio: Israel está a levar a cabo actos intencionais, articulados entre si, que têm como objectivo destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, rácico ou religioso. Este crime tem um nome: genocídio. Está a ser cometido com a plena consciência das suas consequências e das reacções que pode suscitar.

Israel é um Estado pária, está a cometer inúmeros crimes e quer alargar a guerra a toda a região. Apoiado pelos EUA está a arrastar o Líbano, a Síria, o Iémen e o Irão para uma guerra que pode ter consequências terríveis. Essa é mais uma das razões pelas quais a manifestação do próximo domingo em Lisboa, pela paz e pelos direitos do povo palestiniano, é tão importante.


Ângelo Alves