Está nas mãos do povo a chave para um País mais justo
O PS faz tudo para parecer que o País está na rota certa. Há porém um senão: nada na narrativa bate certo com a realidade concreta da vida dos portugueses, como o PCP demonstrou no dia 4 em interpelação ao Governo no Parlamento.
É hora de romper com este caminho e mudar de política
Esse desfasamento entre, por um lado, o discurso do PS e do seu Governo e, por outro, o quadro de dificuldades que enfrenta a generalidade dos portugueses – muito em particular os trabalhadores e reformados - foi um traço forte que perpassou neste debate centrado na «degradação do poder de compra dos trabalhadores e dos reformados, o agravamento das desigualdades e a injusta distribuição da riqueza».
Pela voz dos deputados comunistas foi levado a plenário o relato pormenorizado dos problemas reais sentidos por quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira. Problemas, exemplificou a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, como o do «salário ou pensão que não dá até ao final do mês», ou o de quem «não consegue aquecer a sua casa», «não consegue comprar os medicamentos de que se necessita», «não consegue encontrar casa para viver».
Logo a abrir o debate foi desse país que «não aparece nas notícias, que está muito longe da “agenda mediática”», «feito de gente de carne e osso, que trabalha e cria riqueza, que faz isto andar para a frente com o suor de cada dia», que falou o deputado Bruno Dias, concluindo que «o que falta é salário, faltam condições de vida, falta uma vida justa».
Dificuldades que conhecem um significativo agravamento com a avalanche de novos aumentos de preços em todas as áreas nesta entrada do novo ano.
Iludir os factos
Foi esta realidade que os deputados do PS e os membros do Governo procuraram iludir, ignorando simultaneamente o contexto geral de agravamento das desigualdades, de degradação acentuada dos serviços públicos (e em particular da saúde e da Escola Pública), de escalada dos preços da habitação.
Ora, perante este quadro, não basta, como se ouviu da ministra Ana Mendes Godinho, fazer elogios ao «chamado «acordo de rendimentos», dizer que «muito foi feito», que houve «redução da taxa de pobreza». E pouco sério é atribuir as dificuldades a factores externos, seja a inflação ou a guerra, como fez o líder parlamentar do PS, Brilhante Dias, ou considerar que há «pessimismo» e «dramatismo» na avaliação das oposições, segundo o ministro da Economia e do Mar.
O que a vida mostra e as estatísticas comprovam é uma realidade bem diversa. E que foi exposta com clareza pelo deputado Alfredo Maia, com base em dados do INE de 2023: são mais de dois milhões e cem mil as pessoas em risco de pobreza ou exclusão social; a taxa de privação material e social é de 12%; 4,9% da população encontra-se em privação material e social severa».
Para o PCP é assim evidente que a vida está pior e que esse é o legado que o PS deixa ao País: mais injustiças, mais desigualdades, degradação dos serviços públicos, dificuldades no acesso à saúde e à habitação. O legado de uma política de direita protagonizada pelo PS em defesa dos grandes grupos económicos e que, nos momentos cruciais, teve o apoio da IL, do Chega e do CDS.
E por isso desta interpelação do PCP ao Governo saiu reforçada a ideia da urgência de romper com esta política e abrir caminho a uma outra política, uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que valorize o trabalho e os trabalhadores, as carreiras e profissões, os salários e pensões, que invista no SNS, na Escola Publica, garanta o direito à habitação, combata as injustiças e desigualdade, combata a especulação, como sumariou Paula Santos.
A opção do PS pelos poderosos
A interpelação do PCP ao Governo confirmou-se como oportuna e esclarecedora. Desde logo, pela escolha do tema: nesta recta final de legislatura, enquanto PS e direita preferem ocupar-se com temas como o lobbying, esse expediente para legalizar o tráfico de influências, o PCP dá voz à vida das pessoas e aos seus problemas.
Mas foi um debate sobretudo clarificador quanto às opções fundamentais do PS e que determinam a sua política. Falamos da sua opção em favor dos poderosos, em detrimento dos interesses das classes e camadas antimonopolistas. É aí que reside a explicação para o acentuar das assimetrias e desigualdades sociais, com os cinco por cento mais ricos a possuírem 42% da riqueza produzida, enquanto um quinto da população está em risco de pobreza ou de exclusão social.
Significativo, ainda a este respeito – não é demais repeti-lo – são os lucros fabulosos que os grandes grupos económicos acumulam, à razão de 25 milhões de euros por dia, em absoluto contraste com o brutal aumento do custo de vida, que agravou as dificuldades da grande maioria da população.
«O Governo não rompeu com a política de baixos salários e pensões, num país em que cerca três milhões de trabalhadores recebem menos de mil euros mensais e cerca de 75% dos reformados têm reformas inferiores ao limiar da pobreza.»
Paula Santos
«O que o novo ano trouxe, mais uma vez, foram novos aumentos de preços. O que essa tal “inflação mais baixa” significa, afinal, é que os preços aumentam mais devagar agora… mas não param de aumentar, em cima dos aumentos que já tiveram.»
Bruno Dias
«O Governo permitiu uma concentração ainda maior da riqueza e piorou as condições de vida da população – e é isso que também estará em jogo em 10 de Março.»
Duarte Alves
«Não estamos condenados a viver na miséria e na pobreza. Estamos é mal governados.»
João Dias
«Sabemos a ligação entre a precariedade e os baixos salários. Quem tem vínculo precário recebe 20 a 30% menos do que os restantes trabalhadores.»
Alma Rivera