Greves dão mais força à exigência de melhores salários
A necessidade de aumentos salariais significativos foi o principal motivo das greves realizadas nos últimos dias, abrangendo o período do Natal, com destaque para o comércio e as misericórdias, mas abrangendo igualmente autarquias locais e hotelaria, entre outros sectores. A mesma reivindicação destaca-se em várias lutas marcadas para o início do novo ano.
O aumento dos salários repõe o poder de compra e valoriza o trabalho
O ano que agora finda «foi de grandes dificuldades para os trabalhadores deste sector, enquanto os lucros dos patrões aumentaram exponencialmente, à custa do trabalho barato», recordou a presidente da direcção do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN).
Filipa Costa, que também integra a Comissão Executiva da CGTP-IN, saudou os trabalhadores do comércio em greve, no dia 24, numa mensagem gravada junto do piquete no supermercado Minipreço Express, na Rua de São Bento, em Lisboa. Referiu que a greve teve grande expressão, envolvendo milhares de trabalhadores, designadamente na grande distribuição, provocando o encerramento de lojas e secções e pondo serviços a funcionar a meio gás.
Em empresas onde os lucros se contam por milhões, ano após ano, a grande maioria dos trabalhadores recebe o salário mínimo nacional ou valores pouco acima deste, é «muito sentida a necessidade de aumento dos salários, exigência principal desta greve e das várias greves realizadas no sector ao longo de 2023», realçou Filipa Costa.
A dirigente sindical destacou igualmente os problemas dos horários de trabalho, num sector que funciona todo o ano, incluindo domingos e feriados. Como não são contratados trabalhadores, cada um, nas lojas, «trabalha por dois ou por três» e há «alterações constantes aos horários de trabalho, desrespeitando o contrato colectivo».
Com esta greve, os trabalhadores afirmaram que querem melhores condições de trabalho e de vida, aspiração que o sindicato continuará a defender em 2024. Filipa Costa admitiu que o ano «vai ser difícil». «Sabemos dessas dificuldades, mas está nas mãos dos trabalhadores ultrapassá-las: sindicalizarem-se, organizarem-se no seu local de trabalho e lutarem», apelou a dirigente.
O sindicato, nas informações que foi divulgando sobre a greve, deu conta de que encerraram diversas lojas DIA (Minipreço) na Área Metropolitana de Lisboa: no Lavradio (Barreiro), na Baixa da Banheira (Moita), em Odivelas, na Amadora (Avenida Elias Garcia e Centro Comercial Babilónia) e na capital (Rua de São Bento e Avenida Almirante Reis). Em Braga, ficaram fechados os postos da GALP no Minho Center e a loja CASA. Aqui a solidariedade do PCP e da CDU foi transmitida ao piquete por Sandra Cardoso, primeira candidata na lista da coligação naquele círculo eleitoral, e Carlos Almeida, da direcção regional do Partido.
Fecharam também os supermercados Pingo Doce em Celas (Coimbra) e Montenegro (Faro) e a loja da CEPSA em Gulpilhares (Vila Nova de Gaia).
A loja da CEX em Aveiro não abriu, no dia 23, quando se iniciou uma greve de dois dias, para exigir o cumprimento do contrato colectivo, em particular quanto a categorias profissionais, e ainda o pagamento da mobilidade funcional e de um prémio congelado. Protestaram igualmente pelo fim da pressão e repressão contra aqueles que lutam em defesa dos direitos.
Logística
No dia 22, fizeram greve os trabalhadores do Grupo DIA, na Base Logística dos Riachos (Torres Novas). Numa nota de imprensa, a Direcção da Organização Regional de Santarém do PCP acentua que a fusão com o Grupo AUCHAN não pode servir para encher ainda mais os bolsos dos accionistas, à custa da deterioração dos direitos e do aumento da exploração de quem trabalha.
Com o piquete de greve, em solidariedade, estiveram Bernardino Soares, do Comité Central do PCP, e Valter Cabral e João Saramago, da direcção regional do Partido.
Fizeram também greve, nos dias 22 e 23, os trabalhadores da base logística do DIA na Zibreira (Torres Novas), por falta de resposta patronal ao caderno reivindicativo, no qual sobressaem aumentos dos salários e do subsídio de refeição.
Nos pólos logísticos da DHL na Azambuja (SONAE) e em Vila Nova da Rainha (AUCHAN, no mesmo concelho), ocorreram greves nos dias 22 e 26. Os trabalhadores, organizados no CESP, exigem aumentos dos salários e valorização das carreiras profissionais, negociação dos acordos de empresa e melhores condições de segurança no trabalho.
Duarte Alves, deputado, e Marta Diniz, eleita na Assembleia Municipal da Azambuja, levaram a solidariedade do PCP ao piquete de greve, em Vila Nova da Rainha.
Com os trabalhadores em greve no centro logístico da SONAE, na Maia, no dia 22, esteve uma delegação do PCP, de que fez parte Jaime Toga, da Comissão Política do Comité Central do Partido.
Misericórdias têm de cumprir
Para exigir que as santas casas de misericórdia e a União das Misericórdias Portuguesas cumpram a portaria que, desde o final de Outubro de 2022, generalizou a todo o sector social a aplicação do contrato colectivo de trabalho (CCT) das IPSS, ocorreu no dia 21 uma greve nacional de 24 horas.
Organizados no CESP, os trabalhadores (na grande maioria, mulheres) querem aumentos de salários e que sejam reconhecidos direitos, como a semana de 35 horas, o pagamento de diuturnidades, a remuneração extra pelo trabalho em dias feriados e 25 dias úteis de férias anuais. A UMP pretende impor a aplicação de um contrato negociado com outra estrutura, mas o CESP exige a negociação de «um CCT que consagre os direitos já conquistados pela luta».
Durante a greve, que provocou o encerramento de creches e jardins de infância e levou a que lares ficassem reduzidos a serviços mínimos, trabalhadores e dirigentes sindicais realizaram piquetes no exterior de várias instituições e também na sede da UMP, em Lisboa.
A Comissão da CGTP-IN para a Igualdade entre Mulheres e Homens (CIMH/CGTP-IN) destacou a adesão de cem por cento na Santa Casa da Misericórdia do Machico, na RA da Madeira.
Nas ruas de Beja e Guarda
A União dos Sindicatos do Distrito de Beja promoveu uma acção de protesto nas ruas desta cidade, no dia 21, «contra o empobrecimento e as desigualdades sociais, por serviços públicos de qualidade». Com cerca de uma centena de trabalhadores, a iniciativa terminou com a instalação de uma «árvore de Natal dos direitos», decorada com as principais reivindicações para 2024.
Uma acção de protesto e luta teve lugar, também dia 21, na Guarda, junto das instalações da Segurança Social, por iniciativa da estrutura distrital da CGTP-IN.
Resíduos de Oeiras e da Maia
A greve dos trabalhadores da recolha nocturna de resíduos urbanos do município de Oeiras teve uma adesão de cerca de 95 por cento, nos três dias: 22, 23 e 26. A informação foi adiantada à agência Lusa, anteontem, por um dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL/CGTP-IN). Carlos Faia Fernandes explicou que é contestada uma alteração unilateral dos horários de trabalho e defendida a manutenção dos turnos fixos, de segunda a sexta-feira.
Ao anunciar a luta, o STAL relatou que a reestruturação dos horários foi aplicada em Abril, levando a que o trabalho ao sábado deixasse de ser remunerado com acréscimo. Os trabalhadores da recolha de resíduos urbanos que não trabalham em regime de turnos, mas exclusivamente no período nocturno, ficaram de fora das soluções encontradas ao longo destes meses.
O primeiro dia de greve na Maiambiente teve a adesão de 70 por cento dos trabalhadores, informou anteontem, dia 26, a Direcção Regional do Porto do STAL. A greve na empresa municipal de recolha de resíduos foi convocada para o período entre 25 de Dezembro e 1 de Janeiro, em defesa da liberdade de filiação sindical e para exigir aumentos salariais de 15 por cento (mínimo de 150 euros), subsídio de refeição de 10,50 euros, um horário semanal de 35 horas, a aplicação do suplemento de penosidade, insalubridade e risco e a negociação de um acordo de empresa.
Autarquias de Almada
Trabalhadores das autarquias (município, freguesias e SMAS) de Almada desfilaram, no dia 21, entre a Praça de São João Baptista e os Paços do Concelho. Organizados no STAL, deram assim força às reivindicações de aumento geral dos salários, revogação do SIADAP (sistema de avaliação da Administração Pública), aplicação da opção gestionária, suspensão da transferência de competências municipais, reposição e alargamento da creche e jardim de infância, efectivo reforço de pessoal e condições de trabalho dignas.
Apesar de uma audiência estar confirmada pelo gabinete da presidência da Câmara, não se concretizou nenhuma reunião de representantes dos trabalhadores com o Executivo, o que levou o sindicato a reafirmar que a luta vai prosseguir.