Não há defesa do ambiente sem justiça social

A um dia do previsto final da COP28, que se realizava no Dubai, dezenas de activistas da Juventude CDU afirmaram, anteontem, que o «capitalismo não é verde», numa tribuna pública junto à Reitoria da Universidade de Lisboa em que participou Paulo Raimundo.

O capitalismo nunca conseguirá enfrentar os desafios ambientais

O metropolitano foi a opção escolhida pelo Secretário-Geral do PCP para se deslocar até ao local onde decorreria a tribuna. Depois de uma curta viagem entre as estações de Campo Grande e Cidade Universitária, em que o dirigente comunista e os restantes membros da delegação do PCP contactaram com os passageiros, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) foi a primeira paragem. À espera, para o receber, estavam três «representantes do grande capital».

«Sr. Paulo Raimundo, estávamos mesmo à espera de o apanhar. Ouvi dizer que veio de metro. Não estava cheio? Não avariou? Nós viemos de BMW. Eléctrico, claro», afirmou um deles à chegada da delegação. «Sei que a CDU não gosta muito das COP e das nossas enormíssimas conquistas. Viemos portanto, para marcar este momento, trazer-vos umas lembranças para levarem para essa tribuna. Umas prendinhas do grande capital que vêm das várias COP», acrescentou, enquanto os outros dois entregavam ao Secretário-Geral do Partido embrulhos com etiquetas onde se lia «mercados de carbono» e «fundo verde para o clima».

Defesa ambiental não partirá do capital

Foi assim, de forma teatral e irónica, que os jovens da CDU deram início à sua tribuna. Já em frente à Reitoria, uma árvore de Natal estava enfeitada com várias etiquetas – com os símbolos da Shell, da BP e da Iberdrola e as inscrições «tanques», «guerra», «Acordo de Paris», «falta de água», «destruição de ecossistemas», entre outras.

Assim, mesmo antes de se iniciarem as intervenções, estavam já claros, para quem assistia ou por ali passava, quais eram os «presentes envenenados», ainda que disfarçados sob os grandes compromissos que dizem assumir pelo meio ambiente, oferecidos pelo grande capital aos povos de todo o mundo.

O mesmo atestaria Paulo Raimundo: «Não há defesa do ambiente sem justiça social e não é possível justiça social no quadro do sistema capitalista. As soluções para os problemas que enfrentamos não vêm, nem nunca poderão vir, daqueles que são os seus responsáveis».

O capitalismo, reafirmou, «não foi, não é e nunca será verde. Esta é que é a grande questão. A cor do capitalismo é a da procura desenfreada do lucro. Esse grande responsável pela maioria das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. A cor do capitalismo é a cor da desflorestação, da desertificação e da extinção de espécies», acrescentou.

Do discurso à prática

Na última de seis intervenções (ver caixa), Paulo Raimundo orientou parte da sua atenção para a COP28, cujas conclusões, garantiu, não surpreenderão. Entre contradições entre o que cada um promete e concretiza nas sucessivas conferências, a hipocrisia dos maiores responsáveis pelas emissões cumulativas de gases com efeitos de estufa (que tentam passar para outros países emergentes a responsabilidade dessa questão) e pela profunda falta de respeito pela vida humana, dos representantes do grande capital – desta vez, os reais – não virá nada que resolverá problemas com que se deparam milhares de pessoas.

«Podem pintar-se das cores que quiserem, podem avançar os mais belos e mais bem construídos discursos, que há uma questão central que não pode ser ultrapassada: não é possível enfrentar desafios ambientais no quadro da capitalismo», advertiu. Esse é o sistema que «condena milhões à pobreza, à fome e à doença», que «se está nas tintas para os dois biliões de pessoas que não têm acesso a água potável em casa», para os «3,6 mil milhões de pessoas que não têm acesso a serviços básicos de saneamento» ou para as «1300 crianças que morrem por dia por diarreia».

«É neste quadro de contradições que lá vamos de COP em COP e se vai adiando a resolução dos verdadeiros problemas e se vai mantendo tudo na mesma, ao gosto dos grandes senhores do capital e dos grandes países capitalistas», acusou

 

PCP presente na COP28

João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu, esteve presente na COP28. No arranque da conferência, saudou aqueles que «não deixam de associar a luta pela defesa do ambiente e da natureza, com uma luta mais ampla, social e política, pela mudança das políticas responsáveis pelos desafios ambientais com que estamos confrontados». Uma luta, prosseguiu, que rejeita a mercantilização da natureza, que exige o controlo público de sectores estratégicos como a energia, que defende a mudança de paradigma nos sectores produtivos promovendo a produção e consumo locais, que defende a paz, entre outros aspectos».

Ao longo da sua estadia no Dubai, onde se realizou a COP28, o deputado prestou uma série de declarações sobre temas como a constituição de um «fundo de perdas e danos»; medidas que, a pretexto da defesa do ambiente, agravam as desigualdades entre povos; a redução faseada da dependência de combustíveis fósseis; o paradigma da produção agro-alimentar; e quem deve beneficiar das políticas energéticas e do desenvolvimento das energias renováveis.

João Pimenta Lopes acompanhou ainda uma manifestação que teve lugar no recinto, pela mudança de políticas, encabeçada pela exigência de um cessar-fogo em Gaza. O deputado recordou que «a luta pela paz também é parte da luta pelo ambiente».

Já próximo do fim da conferência, afirmou faltarem compromissos e medidas concretas para atingir as «pretensas elevadas ambições» assumidas por vários participantes.

 

Destaques

«A CDU dá resposta aos principais problemas. Nós sabemos que, todos os dias, entram em Lisboa cerca de 370 mil carros. A CDU propõe o passe gratuito para estudantes e para pessoas com mais de 65 anos, maior oferta de comboios, com melhores horários e a renovação da frota dos comboios na linha de Oeiras e Cascais.

Sabemos que, hoje em dia, as 100 maiores empresas do mundo produzem cerca de 70 por cento da poluição total. A CDU propõe que se beneficie a produção local em detrimento da produção em larga escala e de longas cadeiras de produção e distribuição».

Nour Ribeiro, JCP


«Sou estudante deslocada. Sou do distrito de Castelo Branco, da Sertã. Temos a questão dos incêndios. Todos os verões essa preocupação começa cedo e só por volta de Setembro é que voltamos a ficar descansados. Este problema agravou-se desde que houve uma liberalização da plantação dos eucaliptos, em que vimos a paisagem a mudar dramaticamente. Já não voltaram a nascer pinheiros. Os eucaliptos e as acácias dominam agora praticamente toda a paisagem. São extremamente inflamáveis e fazem com que os incêndios sejam ainda mais violentos e os solos fiquem completamente esgotados.».

Carolina Santos, activista ambiental


«Enquanto a transição energética for feita a pensar na manutenção dos interesses económicos instalados e não no bem-estar das populações e do ambiente, os problemas além de se manterem, irão agravar-se. Estes são só alguns exemplos de como existe uma grande negligência e despreocupação com o meio ambiente, nomeadamente do PS, PSD e CDS, responsáveis por aplicarem políticas contra os interesses do País, destruindo e vendendo os nossos recursos.

Mariana Metelo, membro da Direcção da Associação de Estudantes da FLUL


«O imperialismo sempre fez da guerra e da confrontação instrumentos ao seu dispor para a dominação e exploração dos povos, guerras estas com impactos ambientais incalculáveis: As emissões da indústria do armamento, o impacto directo nos ecossistemas, (…) os impactos associados à necessidade da reconstrução face à destruição causada pela guerra. Mas mesmo perante toda esta evidência a que se soma o massacre e desalojamento dos povos, os EUA e a NATO visam a eternização dos conflitos face aos interesses económicos a estes subjacentes. A isto contrapõe-se a luta dos povos pela Paz, que não se dissocia da luta contra as alterações climáticas e a degradação dos ecossistemas».

Miguel Félix, JCP


«O OE para 2024 apresenta, como tem sido intrínseco nos governos PS, uma lógica de políticas ambientais associadas, sobretudo, a negócios indiferentes às necessidades da população e aos riscos para a biodiversidade. Disso tem sido exemplo a construção de parques eólicos offshore com a implicações sérias na biodiversidade e economia locais. Ou ainda o processo de prospecção e concessão da exploração do lítio contra a população, sem nunca incluir a mesma nos processos de decisão.

Consideramos que não podemos construir políticas ambientais, pensar num futuro mais ecologista, sustentável e socialmente justo sem incluir a população».

Raquel Coelho, Ecolojovem



«A todos aqueles que genuinamente se preocupam com o presente e o futuro lhes dizemos com toda a confiança: venham connosco e ajam com as vossas características próprias, com a vossa criatividade, forma de estar na vida e energia pela melhoria do ambiente, das condições de vida, por mais justiça social. Vamos, com essa força e determinação, construir um futuro verdadeiramente verde, sustentável e duradouro. Para cumprir esse objectivo, que é nosso e de milhões de pessoas, o caminho mais certo é o reforço do PCP e da CDU, abrindo caminho à política patriótica e de esquerda, ao projecto socialista e comunista. Esse sim, que apesar de vermelho é o verdadeiro projecto verde».

Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP