Paulo Raimundo apela a uma grande acção de contacto e de mobilização
Nas acções realizadas em Coimbra, Ovar, Viseu, Olhão e Faro, no âmbito da campanha «É hora de mudar de política», afirmou-se o PCP e a CDU como a força indispensável e insubstituível na luta por um Portugal com futuro. Paulo Raimundo, Secretário-Geral do Partido, frisou que as eleições de 10 de Março são «uma oportunidade»para romper com a política de direita, de que o PS é «fiel protagonista».
«Mudar de política. Soluções para as nossas vidas»
O périplo dos últimos dias pelo País iniciou-se em Coimbra, numa sessão pública na sala polivalente da Casa Municipal da Cultura, em que participaram cerca de duas centenas de pessoas, muitos jovens, não fosse aquela a cidade dos estudantes, do Ensino Superior, que encontram neste Partido um aliado contra as propinas e os custos de frequência, pela construção de mais e melhores residências públicas, em defesa das repúblicas, pelo reforço dos Serviços da Acção Social e do financiamento público para as faculdades e politécnicos.
Por coincidência, a entrada do Secretário-Geral do PCP, Paulo Raimundo, deu-se ao som ambiente do poema «A Bandeira comunista», de José Carlos Ary dos Santos. Com ele, na mesa, João Pires, do Comité Central (CC), que apresentou a sessão, Beatriz Bernardo, da JCP, e Vladimiro Vale, da Comissão Política do CC. Na plateia, entre outros, esteve Alexandre Araújo, do Secretariado do Partido, e Francisco Queirós, vereador eleito nas listas da CDU à Câmara Municipal de Coimbra.
Numa intervenção muito aplaudida e sob a palavra de ordem «Mudar de Política. Soluções para a vida das pessoas», impressa a vermelho forte na faixa que enquadrava a mesa, Paulo Raimundo começou por salientar que a queda do Governo «é inseparável do desgaste da sua política e da falta de respostas aos problemas que a maioria da população e o País enfrentam, ao mesmo tempo que escancara as portas ao aumento dos lucros e à concentração da riqueza nos grupos económicos e financeiros».
«A vida desmentiu a ilusão que levou muitos a pensar que dar força ao PS seria um seguro de vida, mas, como sempre, a realidade impõe-se e o PS, não só não foi obstáculo à política de direita, como foi, por sua única opção, seu fiel protagonista e, pior, passou dois anos de forma descarada a alimentar e alimentar-se das forças mais reaccionárias», que «são apresentadas contra o sistema, mas são o pior que o sistema capitalista produz», acusou o dirigente comunista.
Mais adiante, o Secretário-Geral do PCP desafiou a presidente do Banco Central Europeu (BCE), que há dias disse que a culpa da inflação está nos salários, a explicar «este fenómeno tão português», que passa pela inflação baixar ao mesmo tempo que o «custo do cabaz económico sobe, outra vez». «Isto tem um nome: especulação e roubo de quem trabalha todos os dias», frisou.
Também por isto, as eleições de 10 de Março são «uma oportunidade para reforçar o PCP e a CDU». «O voto pode valer e fazer-se valer se todos os que se sentem justamente injustiçados, todos os que enfrentem dificuldades, todos os que desacreditarem, todos os que, por esta ou aquela razão, deixaram de votar, o voto de todos e de cada um, pode valer ainda mais se for entregue à CDU, o voto do trabalho, o voto do protesto e da indignação, o voto da construção e das soluções, o voto da esperança», apelou Paulo Raimundo.
Defender o SNS
Antes, Vladimiro Vale elencou um conjunto de problemas que o Serviço Nacional de Saúde enfrenta no distrito de Coimbra, nomeadamente os «mais de sete mil utentes sem acompanhamento de saúde em Oliveira do Hospital» ou «a falta de enfermeiros na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados do Centro de Saúde de Arganil», que «se prolonga há meses».
Também criticou a recente assinatura, entre o Governo e a Câmara de Coimbra, do auto de transferência de competências na área da saúde para o município, o que «constitui mais um grave ataque no acesso aos cuidados básicos, bem como a consolidação do processo de desresponsabilização do Estado das suas funções sociais», bem como a criação da Unidade Local de Saúde de Coimbra, que levará a uma «mega fusão» das várias unidades do distrito.
Como sublinhou Vladimiro Vale, o PCP entende que é preciso criar verdadeiros sistemas locais de saúde, com competências efectivas na articulação e distribuição dos recursos sem a participação de privados e da área social; reverter a fusão dos hospitais de Coimbra; valorizar a remuneração e carreiras dos profissionais de saúde; acabar com o favorecimento do negócio privado da saúde.
Intervir junto da juventude
Beatriz Bernardo deu conta de uma «presença assídua» da JCP junto dos jovens, «percebendo e acompanhando os seus problemas» e, acima de tudo, «intervindo ao seu lado na luta pela resolução dos mesmos». «Enquanto se escondem os milhões de euros de lucros diários dos bancos e das grandes empresas, continua a chover dentro das escolas, permanecem e agravam-se as barreiras no acesso à educação e ao Ensino Superior, aumentam os preços dos passes e degradam-se os transportes públicos, limita-se o acesso à cultura, à saúde e ao desporto, promove-se a guerra e a violência, os salários dos jovens trabalhadores são cada vez mais curtos, as rendas e as contas cada vez mais altas», lamentou a jovem comunista. Entre muitos outros, relatou o caso da Escola Secundária José Falcão, onde «há buracos no chão e nas paredes» e «muitos estudantes têm aulas de educação física nos corredores». No Ensino Superior a situação não é melhor, quando, por exemplo, «nos bares e nas cantinas, particularmente as que têm a oferta da refeição social, se pode, diariamente, encontrar filas longas e difíceis de acompanhar, sobretudo tendo em conta os reduzidos horários de almoço».
Nos contactos realizados pela JCP, os jovens trabalhadores «identificam a urgência do aumento dos salários, do combate à precariedade, à desregulação dos horários e a instabilidade na vida, do encerramento dos centros comerciais aos domingos e feriados, da segurança no trabalho e do tempo para viver».
É hora de aumentar salários
«Estamos a caminho de transformar este grande almoço, num grande comício do Partido. Isso só é possível por duas razões: pelo grande número de participantes e pela forma, pela alegria e pela confiança que aqui se respira», foi assim, saudando militantes e apoiantes, que Paulo Raimundo escolheu o início da sua intervenção num almoço, em Ovar, na sede do Grupo Folclórico «Os Moliceiros», dois dias depois de ter participado na sessão pública de Coimbra. A necessidade de valorizar quem trabalha e a recusa dos protagonistas da política de direita em alterar as leis laborais foram, porém, os temas que estiveram mais em destaque na intervenção do Secretário-Geral.
«É hora de aumentar salários. E não venham com a conversa de que não há dinheiro. A riqueza é criada, os lucros estão aí e os salários pesam apenas 14 por cento nos custos das empresas», constatou, argumentando que «há dinheiro» e o que falta é «distribui-lo melhor pelos trabalhadores, que são quem põe o País e a economia a funcionar».
O dirigente deixou ainda um desafio a todos aqueles que acham necessário manter as leis laborais tal como elas estão: «vão trabalhar à hora ou ao dia, vão trabalhar a falsos recibos verdes, nas plataformas digitais ou nos centros de contacto, vão trabalhar por turnos e vão trabalhar hoje sem saber se amanhã ainda têm emprego»; «vão trabalhar ao domingo, em dois ou três trabalhos diferentes para conseguirem sobreviver, vão deixar os vossos filhos às 7 horas da manhã na cresce para ir buscá-los às 19 horas da noite, vão trabalhar cinco, seis e, por vezes, sete dias por semana, vão trabalhar sem serem valorizados e respeitados». E concluiu: «vão fazer essa experiência, que é a experiência de milhões de trabalhadores no nosso País, e verão que o vosso pedido de estabilidade nas leis laborais é uma afronta para a estabilidade dos milhões que cá vivem e trabalham».
Hora de assegurar direito à habitação
«É hora de, uma vez por todas, assegurar o direito constitucional à habitação, garantir investimento público e regular este que é o sector mais liberalizado da economia», exigiu, no dia 2, Paulo Raimundo. Continuando a viagem que realizou pelo País ao longo dos últimos dias, o Secretário-Geral escolheu dedicar parte da sua intervenção, num jantar em Viseu, à questão da habitação: «Não se aguenta mais esta situação», sublinhou. «Na quinta-feira passada foi noticiado que a inflação baixou e que as taxas de juro mantêm-se muito elevadas. O pivô que apresentava o telejornal dizia com grande satisfação que as rendas iriam aumentar menos daquilo que se previa», contou o dirigente, para quem um aumento menor daquele que estava previsto não é solução quando o que se verifica são «aumentos em cima de aumentos». «Esse pivô não deverá ter problemas com a sua casa, com a sua renda ou prestação, porque se os tivesse, o entusiasmo não seria tanto», ironizou.
Para o PCP, afirmou Paulo Raimundo, a solução passa por «pôr a banca a suportar, com os seus 12 milhões de euros de lucros por dia, os brutais aumentos das taxas de juro e travar a especulação e o aumento das rendas».
Sobre os problemas da habitação e as suas particulares consequências para a juventude falou também Mariana Rodrigues, que recordou a tribuna pública realizada em Tondela por ocasião do 44.º aniversário da JCP. Nela se ouviu o testemunho de vários jovens sobre problemas como a falta de um serviço de transportes público acessível e de qualidade, a sobrecarga horária e a falta de tempo para viver, a propina e as barreiras no acesso ao ensino, a falta de alojamento público, os baixos salários e a instabilidade.
Miguel Martins, membro do PEV, criticou, do ponto de vista ambiental, as erradas opções da maioria absoluta do PS que procuraram utilizar o ambiente como um meio para a formação de negócios e políticas ambientais para a arrecadação de receitas aos cidadãos.
Já Leonel Ferreira, da Direcção da Organização Regional de Viseu do PCP, deu conta dos vários problemas que, às mãos do PS, PSD e CDS, atingem o distrito: a desertificação, envelhecimento populacional, encerramento de serviços, o empobrecimento e a exploração. Deu igualmente conta das várias propostas do PCP, apresentadas em sede de Orçamento do Estado, para a região.
Combater a corrupção
No domingo, dia 3, Paulo Raimundo marcou presença no mercado mensal de Moncarapacho, no concelho de Olhão. Na acção, o Secretário-Geral foi acompanhado por dezenas de militantes num contacto que permitiu perceber as dificuldades da população e feirantes. Entre as várias preocupações auscultadas, o valor dos salários e das reformas foram as mais recorrentes. A estas pessoas o dirigente comunista garantiu que podem contar com o PCP.
No mesmo dia, Paulo Raimundo seguiu ainda até Faro para um almoço na Cooperativa de Consumo Popular, onde reagiu às intenções, anunciadas por vários partidos, de regulamentar o lobbying na próxima legislatura. «É notável que perante as negociatas, perante a promiscuidade, perante o tráfico de influências, aquilo que se quer fazer hoje é simplesmente legalizar todos e cada um destes crimes», considerou, apontando o dedo aos projectos de PS, PSD, IL e Chega.
Abordando ainda o tema da corrupção, o Secretário-Geral considerou «extraordinário» que não se ouça uma única palavra daqueles que «enchem a boca e o peito de combate à corrupção», sobre aquele que é o maior foco de corrupção no País: «as privatizações».
Paulo Raimundo acrescentou ainda que a resolução do problema da corrupção é indissociável do combate às desigualdades e injustiças.
No mesmo almoço, Celso Costa, da Direcção da Organização Regional do Algarve, fez o contraponto entre os lucros recordes de sectores como o da saúde privada ou do turismo na região, e as condições em que vivem os trabalhadores que as fazem funcionar.