Paulo Raimundo defende em Alhandra que este é o momento de salvar o SNS
A saúde de cada um de nós não fica à espera quatro meses pelas eleições. E se assim é, esta é a hora de salvar o SNS dos negociantes da doença, de exigir a resolução urgente dos problemas, de reforçar a luta e a CDU para condicionar as soluções de futuro. Estas foram ideias-chave sublinhadas por Paulo Raimundo num encontro com a população de Alhandra, anteontem.
Esta é a hora de mudar de política
O Secretário-Geral do PCP interveio no encerramento de uma tribuna pública promovida pela Comissão Concelhia de Vila Franca de Xira, a meio da tarde de terça-feira, 21, junto ao Centro de Saúde. Em causa estão as carências, há muito identificadas, no acesso aos cuidados de saúde primários e hospitalares, problema de tal forma sentido pela população que, pelas 16h15, dava a sensação de que todos os que na vila não estavam a trabalhar, participaram na iniciativa. E no decurso desta, alguns saídos da labuta, ainda com roupa de trabalho, também se juntaram. No final, um fez mesmo questão de saudar Paulo Raimundo e o PCP por persistir na defesa de quem trabalha, o que não sendo invulgar, é de assinalar pelo que traduz de reconhecimento do papel dos comunistas portugueses, da sua conduta e forma de estar: sempre com os trabalhadores, na rua, sejam quais forem as condições.
Nos passeios, encostados aos beirais das portas, nos limites dos lancis com o alcatrão das estradas, a moldura humana envolveu a tribuna do Partido, numa disposição de comício-relâmpago, feito de força de vontade, razão e fusão com o povo, confirmando que Alhandra continua a ser nome debroado a glória na história da luta por direitos, pelo futuro com Abril. Foi neste ambiente que José João Oliveira, candidato independente nas listas autárquivas da CDU, chamou a usar da palavra Nuno Libório.
Situação limite
O vereador eleito pelo PCP-PEV na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não esteve com meias medidas e, assertivo, diagnosticou a situação e apontou responsáveis. No concelho, mais de 75 mil utentes não têm médico de família, 12 mil dos quais na união das freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz. E não foi por falta de chamadas de atenção por parte do PCP e dos utentes nem por ausência de iniciativas da CDU na autarquia que se chegou a este estado, explicou.
Ainda no final de 2022, prosseguiu Nuno Libório, alertou-se que o Hospital de Vila Franca de Xira não tinha condições para servir as populações do concelho e dos concelhos de Arruda dos Vinhos e Alenquer. Um hospital que, realçou e detalhou, ainda, representou um chorudo negócio para os privados – em rendas anuais a título de Parceria Público-Privado, em terreno cedido e acessos construídos.
Actualmente, a situação é ainda pior, já que na Póvoa de Santa Iria as 20 consultas disponibilizadas não chegam para as necessidades, obrigando os utentes a dirigirem-se de madrugada à unidade de saúde sem garantia de conseguirem consulta. A alternativa é… Benavente, disse também o eleito pela CDU, para quem, «quem permitiu tudo isto foi o PS. Mas não esteve sozinho», já que «PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal, com o seu voto ou com silêncio cúmplice», contribuíram e contribuem para degradar o SNS e deixá-lo sem capacidade de resposta, acusou.
É hora de mudar de política
Antes de Paulo Raimundo intervir na tribuna pública «Defender o SNS», três utentes deram o seu testemunho. Um recordou que no Centro de Saúde de Alhandra só se mantém um médico a atender grávidas e bebés e um outro para as demais solicitações porque a população se organizou, criou uma comissão e se encontra em luta. Outra relatou o seu caso – doente oncológica, vítima de AVC, com uma reforma de pouco mais de 300 euros, por isso incapaz de suportar custos na sector privado, aguarda há dois anos por uma consulta que lhe permita obter credencial para um exame que necessita fazer de seis em seis meses. Outro, ainda, sublinhou o carácter propositado das políticas que têm resultado na liquidação do SNS e, mais tarde, chamaria os presentes para nova acção de luta: dia 12 de Dezembro, envolvendo as comissões de utentes do Estuário do Tejo numa vigília, frente ao Centro de Saúde de Alverca.
O Secretário-Geral comunista, por seu lado, começou por destacar que «a realidade aqui no concelho e nesta freguesia é reveladora do estado a que chegou o SNS». Denunciou, igualmente, que o desmantelamento do SNS «está em curso pela mão do PS, com a cumplicidade do PSD, do CDS, do Chega e da Iniciativa Liberal».
«Um ataque que desrespeita todos os dias os profissionais e procura transferir serviços para o privado. E não venham com a ladainha de que não há dinheiro», disse Paulo Raimundo, uma vez que, «se não o houvesse, não transferiam oito mil milhões de euros, mais de metade do orçamento da Saúde, para o negócio da doença».
«Dinheiro que devia ser investido no SNS», fosse essa a opção, continuou Paulo Raimundo, que, lembrando a razão do Partido em considerar que é preciso salvar o serviço público de Saúde, alertou que «não podemos ficar à espera».
«A saúde de cada um de nós, os tratamentos, os medicamentos, as consultas de que precisamos não esperam quatro meses pelas eleições», pelo que «este é o momento de exigir a resolução urgente dos problemas». Mas é também a hora de, «com a nossa luta e persistência, condicionar as soluções de amanhã».
O dirigente comunista considerou, por isso, que «esta é a hora de mudar de política, de responder à questão central: a quem serve e para que serve a política».
«A política tem de estar ao serviço do desenvolvimento do País e da maioria dos que cá vivem e trabalham, ao serviço dos trabalhadores e do povo e não dos grupos económicos», os quais «encaixam 25 milhões de euros de lucros por dia» enquanto «mais de três milhões de trabalhadores ganham até mil euros brutos por mês», explicou.
«Enquanto cada um de nós está a enfrentar o drama da habitação, a fazer todo o esforço para aguentar o seu tecto, a banca a encaixa 12 milhões de lucros por dia», acrescentou o Secretário-Geral do PCP, antes de defender que, neste contexto, «as eleições estão aí e são uma oportunidade para, com o reforço do PCP e da CDU, abrir um caminho novo. Cada um de nós sabe por vida vivida, que quando a CDU se reforça, a vida de cada um anda para a frente. Então, se assim é, está na hora de mudar de política, reforçar a CDU e criar as condições para que se dê resposta à vida de cada um».
E «não nos deixemos enrolar nem distrair com os fait-divers que fazem parangonas dos jornais e dos telejornais», advertiu. «Os problemas estão aqui no centro de saúde que não tem médicos, na casa que não se consegue pagar, no salário com o qual não se consegue sair da pobreza, mesmo trabalhando todos os dias», concluiu.
O PCP não desiste
Em Alhandra, Paulo Raimundo terminou a sua intervenção assegurando que o PCP não vai desistir da luta em defesa do SNS, não vai permitir que destruam essa conquista de Abril. Expressou não apenas uma vontade, mas, sobretudo, uma prática.
Na quinta-feira, 16, o Secretário-Geral do PCP esteve, às primeiras horas da manhã, com utentes do Centro de Saúde de Coruche, que continuam a exigir a reabertura das urgências nocturnas do Serviço de Atendimento Permanente, encerrado há cerca de dois anos deixando a população sem alternativa de proximidade, já que, depois das 20h00, têm de se deslocar a Santarém ou a Vila Franca de Xira, denunciou Paulo Raimundo.
Em Coruche, população e Partido não abdicam, igualmente, da contratação de profissionais de saúde, dado o elevado número de utentes sem o médico e enfermeiro de família a que têm direito.
A falta de recursos humanos e materiais e a necessidade de a superar com investimentos substantivos no SNS foi, de resto, reivindicada pela Organização Concelhia de Santarém do PCP em iniciativa recente. Junto ao Hospital Distrital, foi colocada uma faixa com a consigna «Salvar o SNS - Garantir saúde a todos!» e, nos contactos com utentes, alertou-se para a carência de médicos, com consequências no funcionamento das urgências hospitalares e de vários centros e extensões de saúde, para os milhares de utentes na região em lista de espera para consultas de especialidade e cirurgia.
Ruptura evidente
Na quarta-feira, 15, a Comissão Concelhia de Alcácer do Sal do PCP acusou o Governo PS e a Junta de Freguesia do Torrão de pretenderem enganar a população de Rio de Moinhos. Em causa está a apresentação, dia 2 de Novembro, do Balcão SNS, que «nada resolve nas imensas necessidades de consultas médicas, marcação de cirurgias e acompanhamento em consultas de enfermagem para a população de Rio de Moinhos».
«Nem um só médico, nem uma só enfermeira se irão deslocar à aldeia com este Balcão», insistem os comunistas salacianos, antes de explicarem que «uma das médicas que dá consultas no Torrão só o faz porque é transportada três vezes por semana em viatura da Câmara Municipal de Alcácer do Sal», e de apelarem «a toda a população de Rio de Moinhos que não se deixe enganar».
Já na Madeira, o PCP reclama ao Governo Regional respostas imediatas para a «falta de espaços adequados ao acolhimento de doentes em situação de alta clínica». As «designadas “altas problemáticas” ou “internamentos inconvenientes”», referindo-se a utentes que «que permanecem nos hospitais ocupando camas de doentes agudos», explicam os comunistas madeirenses, que entregaram, dia 10 de Novembro, na Assembleia Legislativa Regional, uma resolução para que se tomem medidas concretas com a maior celeridade.
Nos cinco concelhos da Região Oeste de Lisboa, a CDU promoveu acções de contacto com utentes. As iniciativas de esclarecimento e mobilização em defesa do SNS envolveram autarcas e apoiantes do PCP-PEV do Cadaval, Torres Vedras, Sobral Monte Agraço, Mafra e Lourinhã.