1842/1843 – Os Mistérios de Paris

«Les Mystères de Paris», de Eugène Sue, romance em capítulos publicado em Le Journal des Débats, são um fenómeno ímpar de sucesso mundial. Relato das aventuras de Rodolphe, a obra, pioneira do romance urbano e popular, descreve o mundo das «classes perigosas», o mundo subterrâneo dos que habitam a selva urbana de Paris, ignorada pela burguesia dominante. O herói mostra a luta dos pobres pela sobrevivência, os seus dramas, enquanto combate o crime e denuncia as desigualdades sociais, antecipando as bandeiras da Revolução de 1848. A maestria da publicação em fascículos alimenta o interesse. «Toda a gente devorou “Os Mistério de Paris”, até os que não sabiam ler», escreve Théophile Gautier. «Estes faziam-nos ler por algum erudito, que acedia de boa vontade... Durante mais de um ano, a França inteira ocupou-se primeiro das aventuras do príncipe Rodolphe antes de tratar dos seus póprios assuntos. Os doentes esperavam pelo fim dos Mistérios de Paris para morrer; o mágico “Continua amanhã” sustinha-os de dia para dia, e a morte compreendia que eles não ficariam tranquilos no outro mundo se não conhecessem o desfecho desta bizarra epopeia.» A obra teve versões em todo o mundo, incluindo Portugal, com «Os Mistérios de Lisboa», de Camilo Castelo Branco (1854).