Qual o «Estado da União»?
Foi no passado dia 13 que assistimos, como anualmente, ao chamado discurso sobre o Estado da União. Durante a sua presença no Parlamento Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, apresentou aos deputados o balanço do trabalho realizado no ano transacto e as linhas orientadores para o futuro próximo.
Sem grandes surpresas, esta foi uma alocução de continuidade.
Um discurso que insistiu na política de confrontação e da guerra, onde houve loas ao caminho da militarização, que é para continuar, nem uma palavra relativamente à paz e à necessidade de facilitar uma solução negociada que a garanta.
Um discurso que insistiu na necessidade de facilitar «a forma de fazer negócio», na competitividade, na confrontação comercial com outros países do mundo, mas onde nem foi dedicada uma frase aos lucros obscenos atingidos pelos grandes grupos económicos de várias áreas e sectores.
Um discurso sem referências aos problemas dos trabalhadores e dos povos, ao brutal aumento do custo de vida, aos serviços públicos, aos problemas com que se confrontam os jovens, às tremendas dificuldades no acesso à habitação.
Mesmo quando se referiu à inflação foi para dizer que estamos melhores. Mesmo quando se referiu aos brutais aumentos das taxas de juro decididos pelo BCE, e que têm nefastas consequências para milhares de famílias, particularmente nalguns países, como Portugal, foi para considerar que “Christine Lagarde e o Banco Central Europeu estão a trabalhar arduamente para manter a inflação sob controlo”.
Mesmo quando referiu a necessidade de conciliação entre a vida profissional e familiar, fê-lo porque considera que é «um dos estrangulamentos mais significativos para a nossa competitividade».
Qual é, então, o «Estado da União»?
Se olharmos do prisma dos grandes grupos económicos, das multinacionais do armamento e da indústria da guerra, das grandes empresas energéticas ou financeiras, da grande distribuição, dos fundos imobiliários, então a UE está boa e recomenda-se.
No entanto, se formos olhar na perspectiva dos trabalhadores e dos povos, dos micro, pequenos e médios empresários, dos pequenos agricultores ou pescadores, podemos afirmar que, se a situação já está muito difícil, não se espera – se é que alguma vez se esperou – que as resposta aos seus problemas venha da UE.
Perante um coro mais ou menos afinado, com esta ou aquela nuance, esta ou aquela crítica (para disfarçar a convergência no essencial), foram os deputados do PCP os únicos deputados portugueses a denunciar o completo alinhamento deste discurso com os interesses dos grandes grupos económicos que a Comissão Europeia tem vindo a servir e, por outro lado, completamente alheado da dura realidade com que são confrontados os trabalhadores e os povos.