- Nº 2598 (2023/09/14)

Pôr a vida nos eixos!

Opinião

Não há uma, eu repito, não há uma das medidas dirigidas à juventude anunciadas com visível entusiasmo por António Costa na quarta-feira, 6 de Setembro, pela qual se possa meter as mãos no fogo, sem se sair mais chamuscadinho que mafarrico a arder em terras do demo.

Nem falamos do que o Primeiro-ministro não disse e que constitui o coração dos problemas mais candentes dos jovens portugueses, no emprego, na habitação ou no alojamento estudantil que, hoje mesmo, trazem milhares de jovens com o credo na boca. Nem das aldrabices lançadas por dirigentes socialistas, anunciando o que Costa não disse, como por exemplo o Secretário-Geral da JS que escreveu que «a propina acabou», quando sabe que todos os estudantes este ano lectivo e, em todos os próximos, até que a opção política seja de facto acabar com elas, terão que pagar propinas, que nos mestrados e doutoramentos podem chegar a milhares de euros, e que apenas alguns receberão uma parte, algures no futuro.

Do que falamos é de o Secretário-Geral do PS ter atirado para o ar umas coisas gerais, entre viagens de comboio, férias à borla e passes gratuitos que chumbou há um ano, sem dizer como se concretizam, mas pelas quais foi muito aplaudido pelas suas hostes.

Apenas para exemplificar, façamos as contas à promessa de uma semana de férias a todos os jovens que acabem o 12.º ano. Por ano há mais de 100 mil jovens que concluem o secundário (este ano foram 103.260). Se todos tentarem usar a semana de férias, estamos a falar de 720 mil noites em Pousadas da Juventude. Sucede que as 51 Pousadas da Juventude tinham em 2022 apenas 5557 camas. como algumas deles têm já uma parte das camas utilizadas por estudantes do Ensino Superior durante o ano lectivo, e admitindo que o Governo não pensa tirar as Pousadas de Juventude do mercado, basta fazer as contas para perceber que o que António Costa fez não foi o anúncio de medidas para melhorar a vida da juventude.

Antes se aventurou num passe de mágica, tentando que o coelho de umas quantas viagens de comboio à borla em tempo de férias esconda que, para a maioria, o comboio vai continuar a não passar a horas para pôr as suas vidas nos eixos.


João Frazão