Rodrigo, 9 anos, quer ser astronauta. Com um olhar vivo e comentários entusiasmados («é por causa da lei da gravidade!») está atento às demonstrações que Guilherme, 21 anos, mestrando no Instituto Superior Técnico, faz com mais um grupo de crianças («Por que será que estas duas bolas, sendo uma grande e outra pequena, chegam ao chão ao mesmo tempo, quando as largo da mesma altura?»).
É um dos monitores do Núcleo de Física do IST que assegura as actividades no Espaço Ciência da Festa do Avante!, onde sucessivos grupos descobrem o fascinante mundo da Ciência. «As crianças querem explorar tudo ao máximo», diz.
Nas tardes de sábado e de domingo, há lugar a debates no auditório do espaço. Neste ano, trataram do direito constitucional (artigo 79.º) «à cultura física e ao desporto, como meios de valorização humana».
«O acesso ao desporto é um instrumento de melhoria da qualidade de vida e de desenvolvimento integral», salientou a deputada Alma Rivera, no debate sobre políticas públicas e propostas do PCP, defendendo que «o financiamento deve estar assegurado no Orçamento do Estado e não dependente dos jogos sociais».
Destacou a criação de condições para o movimento associativo e a redução do IVA para o material desportivo e denunciou os efeitos do novo regime dos acidentes, que fez subir os valores dos prémios dos seguros, para aumentar os lucros das seguradoras.
Bruno Santos, vereador da Câmara do Seixal (maioria CDU), salientou a atenção do PCP ao desporto – do escolar ao de alta competição, passando pelo desporto adaptado e à participação das colectividades na definição das políticas locais.
O segundo debate abordou a alta competição e a comunicação social, sobressaindo a falta de meios das modalidades. João Miguel (Paquito), 72 anos, foi o único pugilista olímpico português (Moscovo, 1980), travou 250 combates dos quais perdeu cinco. Sempre trabalhou para viver e pagar do seu bolso viagens, alojamento e alimentação. Ainda é assim com os atletas que treina.
João Duarte, 20 anos, esperança olímpica, é canoista de alta competição desde os 16. Faz um esforço colossal para treinar duas vezes por dia e responder às exigências das competições e da licenciatura. Apesar dos bons resultados, o financiamento da modalidade é escasso.
«Não há alta competição em Portugal; o que há é atletas que atingiram certos patamares, porque não há um programa que estruture o sistema», observou, na plateia, o dirigente desportivo Rogério Mota. E, na comunicação social, «não temos programas de desporto, mas alienação do povo à volta da indústria do futebol».
Há causas. «Nas redacções, há jornalistas com muita informação sobre muitas modalidades, mas não têm espaço», notou Luís Cristóvão, jornalista, outro orador. «Não são eles quem decide, mas a empresa». Tem a ver com a «financeirização do desporto», o retorno em publicidade face aos custos dos direitos de transmissão e às audiências, explicara antes.
Mesmo quanto ao futebol, «o que se debate e gera audiências não é a componente desportiva, mas as polémicas em torno das arbitragens, das transferências de jogadores… Nas outras modalidade não há polémicas». Até nos meios digitais «se não há polémica que gere cliques, não interessa».