- Nº 2597 (2023/09/7)
Artes plásticas

A vitalidade das artes visuais na mais concorrida das Bienais

Festa do Avante!

As mais de trinta edições da Bienal de Artes Plásticas na Festa do Avante! tiveram o objectivo de ser lugar de encontro entre as artes visuais e um público maioritariamente não frequentador dos espaços onde normalizadamente estagiam e onde, numa evolução que se tem acentuado nos últimos decénios que não é um seu exclusivo mas o reflexo de um mau estar geral, há um processo de dissociação entre o valor atribuído aos objectos e as suas condições materiais e sociais de produção, com o valor de mercado a sobrepor-se ao valor de uso, o que anula a função social da arte, privilegiando os mediadores e os cálculos mercantis, o que acaba por secundarizar os artistas.

Os contornos dessa situação já se desenhavam quando se realizou a primeira exposição de artes plásticas na Festa do Avante!. Não foram o motor principal da decisão de a realizar. O motor de arranque foi contribuir para a ampliação da oferta multicultural diferenciada que a Festa é desde a sua primeira edição. A evidência maior das exposições, as bienais e as intercalares, é o sublinhar do valor de uso das artes visuais dando-as a ver, confrontando-as com públicos mais vastos e heterogéneos, no contexto diversificado das manifestações culturais que são desde sempre o cunho impressivo e personalizado da Festa que o PCP organiza, a mais das vezes ocultado pela comunicação social estipendiada.

A esta edição da Bienal de Artes Plásticas concorreram 160 artistas e 275 obras, um sinal da sua vitalidade, que foram submetidas a um júri que seleccionou as obras, correndo os riscos de qualquer júri: o de cometer injustiças para fazer justiça. Foram expostas 70 obras de mais de 50 artistas, algumas muito interessantes mas que seria improcedente aqui referir. O contexto e significado desta exposição procura dar continuidade à raiz plantada desde a sua primeira edição, a da afirmação que a alternativa à arte não são os múltiplos equívocos actualmente em voga nas suas práticas, legitimados por uns arremedos críticos sem qualquer espessura, mas o seu reinvestimento estético e político contra o deserto da estética-mercantil. Um caminho de pedras nem sempre fácil de percorrer, para a recuperação da sua autonomia relativa e da sua função social.