BRICS admitem seis novos membros e reforçam papel no plano internacional
No final da 15.ª Cimeira do BRICS, que decorreu em Joanesburgo, de 22 a 24 deste mês, o grupo anunciou um já esperado alargamento. A Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul juntam-se, a partir de 2024, mais seis países – Argentina, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Irão, Egipto e Eritreia.
A Cimeira do BRICS apelou à utilização das moedas nacionais nas transações financeiras
Em 25 páginas, na declaração final da sua 15.ª Cimeira, os países do grupo BRICS abordaram praticamente todas as exigências das nações do chamado «Sul Global», em particular com um apelo à promoção do «multilateralismo inclusivo».
Reunidos na cidade sul-africana de Joanesburgo, entre 22 e 24 de Agosto, os cinco membros do BRICS foram acompanhados por mais de 60 dirigentes de vários países e organizações internacionais convidados para a Cimeira e para os eventos paralelos «Diálogo BRICS Plus» e «BRICS África Outreach», além de um fórum económico.
No documento, o BRICS reitera o seu compromisso com o «multilateralismo inclusivo» e a defesa do direito internacional, incluindo os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, assim como sobre o papel central da ONU num sistema internacional em que os Estados soberanos cooperem para manter a paz e a segurança. E também para promover o desenvolvimento sustentável, garantir a promoção e protecção da democracia, os direitos humanos e as liberdades fundamentais para todos e a cooperação baseada no espírito de solidariedade, respeito mútuo justiça e igualdade.
Reclamou ainda uma maior representação dos países emergentes e em desenvolvimento nas organizações internacionais e nos fóruns multilaterais, que desempenham um papel importante.
No texto, os cinco países pronunciaram-se por uma reforma integral da ONU, incluindo o Conselho de Segurança, tendo em vista torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente. E aumentar a representação dos países em desenvolvimento entre os membros do Conselho de Segurança, para que este órgão possa responder adequadamente aos desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento de África, América Latina e Ásia.
Apelaram ainda à promoção, protecção e cumprimento dos direitos humanos de maneira não selectiva, não politizada, construtiva e sem critérios duplos.
Alargamento do BRICS
e seus efeitos
Foi sublinhado que um dos mais importantes resultados da Cimeira com possíveis efeitos a curto prazo e de uma amplitude difícil de prever neste momento, foi o anúncio de que, a partir de 1 de Janeiro de 2024, o grupo alargar-se-à formalmente com a incorporação da Argentina, Egipto, Etiópia, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos e Irão.
O alargamento do BRICS é um elemento a ter em conta, sobretudo porque das mais de duas dezenas de países que tinham solicitado formalmente a incorporação no grupo (lista que não foi tornada pública), boa parte dos que o integram neste momento são grandes produtores de petróleo.
A esse aspecto relevante junta-se o apelo ao uso de moedas nacionais no comércio internacional e nas transações financeiras entre os membros do BRICS, assim como nas suas trocas comerciais com os parceiros, também países em desenvolvimento. «Cremos que isto melhorará ainda mais a cooperação entre os BRICS», considera a declaração, que incentiva ainda a um maior diálogo sobre as modalidades de pagamento para facilitar o comércio e os fluxos de investimento.
A concretizarem-se tais propósitos, parte considerável do volume de hidrocarbonetos (petróleo, gás natural) no mundo deixará de se comercializar em dólares norte-americanos, passando a ser feito em moedas locais.
Pela paz e o desenvolvimento mundiais
O presidente da República Popular da China, Xi Jinping, ressaltou que os países BRICS assumem importantes responsabilidades pela paz e o desenvolvimento. Destacando que a expansão do grupo é histórica, expressou que esta demonstra o compromisso dos Estados que o integram em cooperar em unidade com todos os países em desenvolvimento, servindo interesses comuns.
Expressando confiança nas potencialidades do trabalho em conjunto dos países BRICS, Xi Jinping apelou a que todos se unissem para escrever um novo capítulo sobre os países em desenvolvimento que buscam o desenvolvimento através da solidariedade e da cooperação.
Maior integração com África
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu que muitas das soluções para um futuro menos desigual e mais inclusivo se podem encontrar em África e propôs uma maior integração do BRICS com esse continente. O mundo, como um todo, retrocedeu nos últimos anos, garantiu o presidente brasileiro, considerando necessário encontrar novos caminhos. «Vamos retomar a nossa vocação universal e reconstruir os nossos vínculos históricos com os países em desenvolvimento. A prosperidade só é plena quando é compartida», assegurou.
Favorecer o multilateralismo
Presente na África do Sul, o presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, na sua qualidade de presidente temporário do Grupo dos 77+China, expressou o seu apoio à caminhada para o «multilateralismo inclusivo», plasmada na declaração final da Cimeira dos BRICS.
«Somos 134 países, lembrou, dois terços dos membros da ONU, e onde vivem quase 80 por cento da população do planeta, enfrentando os desafios colossais de um mundo cada dia mais desigual, em que se multiplicaram a exclusão e a pobreza após dois anos de pandemia, seguidos de dramáticos conflitos».
O G77+China e o BRICS «têm a responsabilidade e a possibilidade de actuar por uma mudança da actual injusta ordem mundial. Não é uma opção: é a única alternativa», ressaltou.