A propósito da cimeira da NATO de Vilnius
A cimeira da NATO, realizada em Vilnius, na Lituânia, nos dias 11 e 12 de Julho, reafirmou e insistiu na continuação e aprofundamento da política de militarismo, confrontação e guerra que integra as causas do agravamento da situação na Europa e no mundo.
A NATO é e sempre foi um instrumento dos EUA
Apesar de evidentes contradições, não só adoptou decisões que apontam para o reforço da sua estrutura belicista no Leste da Europa, visando particularmente a Rússia, como reafirmou a ampliação da sua acção belicista à região Ásia-Pacífico, visando particularmente a China. Os EUA promovem a militarização da Ásia-Pacífico, como o fizeram durante décadas na Europa.
A cimeira da NATO demonstrou que este bloco político-militar não é, nem nunca foi, um instrumento de paz. Pelo contrário, é e sempre foi um instrumento belicista, de agressão, ao serviço da principal potência imperialista, os Estados Unidos da América.
***
Desde a sua fundação em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) teve por missão impor a hegemonia do imperialismo norte-americano no continente europeu, a pretexto do combate contra a União Soviética e os países socialistas surgidos após a Segunda Guerra Mundial. Uma missão que passava por impedir quaisquer laivos de autonomia dos países capitalistas europeus, como se comprova pela turbulenta relação da França de De Gaulle com a NATO.
As proclamações da NATO sobre «democracia» e «liberdade» não passam de um embuste que encobre objectivos bem agressivos, como ficou demonstrado pela participação do Portugal fascista de Salazar na fundação da NATO, bem como pelo apoio militar que os países da NATO deram à guerra colonial do regime fascista contra os povos africanos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Ficou também patente na reciclagem de altos responsáveis militares da Alemanha nazi para destacados cargos na NATO, como foi o caso do presidente do Comité Militar da NATO (1961-1964), General Heusinger, que chegou a ser Chefe de Estado Maior do Exército de Hitler, em 1944. A NATO sempre serviu de cobertura para numerosas organizações do tipo «Stay behind», com fortes ligações a meios fascistas e associadas a acções terroristas e golpistas, da qual a Gladio em Itália é o exemplo mais conhecido.
***
Que o papel da NATO ia para além da «contenção da União Soviética» é evidenciado pelo facto de o desaparecimento da URSS e do Tratado de Varsóvia no final do século XX, longe de dar lugar à dissolução da NATO, ter aberto caminho a um salto qualitativo, quer da sua composição, quer da sua intervenção. A primeira agressão aberta sob a égide da NATO foi contra a Jugoslávia de 1999 que, em violação flagrante do direito internacional, trouxe de novo a guerra ao continente europeu pela primeira vez depois de 1945. Não foi casual que os bombardeamentos da Jugoslávia pela NATO tenham coincidido com o primeiro alargamento dessa organização a países ex-socialistas (Polónia, Hungria e República Checa) e com a cimeira de Washington que aprovou o novo Conceito Estratégico, alargando de forma discricionária a missão e âmbito de actuação ofensiva da NATO.
Nas décadas seguintes, numerosas foram as guerras de agressão, desencadeadas de forma ilegal, abertamente sob a égide da NATO (Líbia) ou pelas suas principais potências militares (Afeganistão, Iraque, Síria). Ao mesmo tempo, prosseguiu a expansão para o Leste da Europa, bem como a cada vez mais flagrante ingerência e subversão, integrada numa estratégia de confrontação com a Federação Russa, de que são exemplos cimeiros o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia e a violação dos acordos de Minsk de 2014-2015 que, apesar de transformados em Resolução do Conselho de Segurança da ONU, foram abertamente sabotados para preparar a Ucrânia para a guerra, como foi já confessado pelos mais altos dirigentes da França e Alemanha. Em simultâneo, intensificou-se a submissão por múltiplas formas da União Europeia, assumidamente transformada no «pilar europeu da NATO».
***
A guerra na Ucrânia é um produto desta estratégia de crescente belicismo, que conta com o alinhamento e a subserviência do Governo português. A aposta da NATO na escalada permanente desta guerra e a inviabilização de qualquer solução negocial, mostram bem os perigos representados pelos sectores mais belicistas no seio das potências imperialistas. Perigos que são acompanhados por pesados custos para os trabalhadores e os povos. O militarismo anda sempre acompanhado pelo reforço do autoritarismo e da exploração.
Os sectores mais aventureiristas no seio da NATO já mostraram a sua total falta de escrúpulos em encenar provocações que conduzam, sob o efeito de intensas campanhas de propaganda, a um ainda maior envolvimento directo da NATO na guerra, que podem conduzir a Humanidade para uma conflagração de proporções catastróficas. Tanto mais quanto se assiste a campanhas para banalizar a utilização de armas nucleares.
***
É da maior importância reforçar a luta das forças amantes da paz em defesa da Humanidade e do planeta, rompendo com os planos de guerra de que a NATO é expressão e travando o passo à escalada para o desastre que os seus sectores mais aventureiristas do imperialismo advogam de forma cada vez mais aberta.