Razões de sobra para confiar na luta no Passeio das Mulheres da CDU do Porto

A CDU realizou, no dia 2, o emblemático Passeio das Mulheres CDU do Porto. A edição deste ano, amplamente participada, realizou-se na Praia Fluvial dos Olhos de Fervença, em Cantanhede, e contou com a participação do Secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo.

Passeio das Mulheres afirma direitos há 33 anos

Há 33 anos que dezenas e dezenas de mulheres – militantes comunistas, aliadas da CDU ou simplesmente amigas e simpatizantes destas forças – partem do Porto para o Passeio das Mulheres da CDU. Iniciativa que, como evidenciou a edição deste ano, já conquistou um lugar particular no seio da população portuense.

Como se deu a entender no início do momento político que coroaria a tarde de convívio, o Passeio do passado domingo teve, contudo, particular significado: para além de grande empenho e dedicação por parte do grupo de trabalho das mulheres da CDU, para a sua concretização foi preciso vencer várias dificuldades e limitações.

Do Passeio não estiveram ausentes aspectos políticos relevantes, engane-se quem pensar o contrário. Mais do que um excelente momento de convívio e alegria, a iniciativa foi uma acção de protesto pontuada por diversas exigências. Reclamou-se por respostas aos problemas que todos os dias o povo e, em particular, as mulheres enfrentam e exigiu-se ruptura com as opções da política de direita.

Tornou-se claro, ao longo de vários momentos, que para as mulheres da CDU, a resolução desses problemas só pode passar pela adopção de uma política alternativa que valorize o trabalho e os trabalhadores, promova a produção nacional, reforce o investimento nos serviços públicos e combata as desigualdades e as injustiças.

 

Partilha e convívio

À chegada do Avante!, depressa surgiram os convites para se juntar à mesa, revelando um sentimento de partilha, que foi marca da iniciativa.

Da música ao vivo e do imenso espaço verde tiraram proveito as muitas pessoas que escolheram a Praia Fluvial dos Olhos de Fervença para passar a tarde. O Passeio das Mulheres e tudo o que este comporta, como o momento político que se seguiria, foi assim partilhado com muitas outras pessoas que por lá passaram.

A comida, a bebida e a alegria serviram-se acompanhadas de uma infinidade de estórias e experiências – contadas por mulheres da CDU de todas as idades – que só foram mesmo interrompidas com a chegada do Secretário-geral do PCP ao local. Esse foi outro dos momentos altos do dia. Paulo Raimundo não passou por nenhuma das mesas, repletas de militantes e apoiantes, sem receber abraços e cumprimentos calorosos, pedidos de fotografias e ofertas de comida.

Entre os presentes, o espírito de camaradagem expressou-se de forma simples e clara: independentemente de muito ou pouco, o que há é para ser partilhado. No momento das intervenções políticas que se realizaram, explicá-lo-ia melhor Paulo Raimundo: «O nosso povo é um povo caloroso, amigo, amigo do amigo e muito solidário. As mulheres do Porto têm essas características. Isso vê-se aqui nesta nossa iniciativa. Com a expressão da sua alegria, na sua forma de estar, mas também com a sua determinação para a luta. E é isso que as mulheres fazem todos os dias, de Norte a Sul do País, labutam e lutam todos os dias».

 

Construir a alternativa

O momento político interrompeu a confraternização por alguns momentos. Ao palco subiram os membros do Grupo de Trabalho das Mulheres CDU, António Coelho e João Pires, ambos da Direcção Regional de Coimbra, Cristiano Castro, do Secretariado da Direcção Regional do Porto, Margarida Botelho, do Secretariado do Comité Central do PCP e Paulo Raimundo, Secretário-geral do PCP.

Nas duas intervenções proferidas no comício, apesar de adquirem centralidade as questões ligadas às mulheres, foram poucos os aspectos pertinentes que não foram abordados. Do Serviço Nacional de Saúde e do trabalho à habitação (ver página 12) e aos serviços públicos, muitas foram as questões da ordem do dia que ali foram colocadas.

«Esta é uma iniciativa de alegria, convívio e de determinação. Exemplo da forma como os comunistas e os seus amigos estão na vida e na luta: de forma confiante, determinada, de cara levantada e com um sorriso na cara, por mais difícil que seja a vida e sabemos bem que o é», depois de saudar todos os presentes, foi assim que Paulo Raimundo escolheu começar a sua intervenção. No entanto, para o Secretário-geral, a alegria daquele momento não esconde a realidade do País, onde brutais injustiças e profundas desigualdades se expressam todos os dias.

Nas palavras do dirigente, e tendo em conta essa realidade, são duas as principais questões que se levantam: «Há alguma razão pela qual estejamos destinados ao empobrecimento e a viver pior? Há algum mal que fizemos ao mundo que nos obriga a viver no caminho do empobrecimento?». As perguntas surgiram de forma retórica. «Não, não estamos destinados à pobreza, muito menos destinados a que nos ponham o pé em cima das costas todos os dias».

«Dizem-nos que vivemos no melhor dos mundos e que não há alternativa. Que a única solução que temos é a de baixar a cabeça e assistir e aguentar a mesma política de sempre», constatou. Paulo Raimundo referia-se à política que está ao «serviço dos grupo económicos», grupos esses que «se enchem à custa do sacrifício de milhares de pessoas». À política que «empurra, todos os dias, milhares de pessoas para a pobreza» e que nos «entra pela porta adentro, ora pela mão do PS, ora pela mão do PSD, do Chega e da Iniciativa Liberal, sempre com o CDS à espreita».

Segundo o Secretário-geral, os comunistas não baralham os partidos da política de direita e sabem que «não são todos iguais», mas também sabem que quando «toca a defender os interesses dos grupos económicos, a abrir caminho para a concentração dos lucros e apertar a vida de quem trabalha, estão todos unidos e alinhados como os astros».

 

Basta de viver apertado

«A vida está cada vez mais cara. Sobem os bens essenciais, os alimentos, as prestações da casa, as rendas. Sobe tudo menos os salários e as pensões», constatou Paulo Raimundo. «Dizem que a economia está melhor, que a inflação está a baixar, que é tudo bons resultados. Só que esses bons resultados, todos os dias anunciados, passam-nos entre os dedos das mãos e vão direitinhos para os bolsos de um pequeno punhado de gente», acrescentou. A realidade assim o comprova: o cabaz alimentar básico em Maio de 2023, já com o IVA Zero, era 5,7 por cento mais caro do que em Maio de 2022. É com estes aumentos que as grandes empresas da distribuição têm lucrado.

Para o PCP, as soluções para combater esta situação são claras: impor limites de preços máximos em bens essenciais, reduzir os preços dos alimentos e, sobretudo, aumentar os salários e pensões. Medida esta que se afirma como uma verdadeira «emergência nacional» e uma «grande resposta» à situação que se está a viver.

 

CDU é alternativa

Para Paulo Raimundo são duas as coisas que hoje são evidentes: «o caminho que está a ser percorrido pelo Governo do PS não está a resolver nenhum dos problemas que o País enfrenta. PSD, CDS-PP, Chega e IL discordam do PS, mas não na política de fundo. Nem uns, nem outros conseguem mudar a nossa vida». Por outro lado, «quando o PCP e a CDU se reforçam, os direitos e o País anda para a frente». Já quando «o PCP e a CDU recuam, significa que a vida de cada um de nós anda para trás», o que significa que o «caminho dos nossos interesses, de cada trabalhador, mulher, reformado, jovem e micro, pequeno e médio empresário passa pelo aumento e reforço do PCP e da CDU».

«Quando a enorme maioria, os trabalhadores e o povo, que são alvos da política de direita, perceberem a força da sua luta, da sua unidade e a força da sua força, então é mais do que certo que as coisas mudarão em função dos seus interesses», salientou por fim o dirigente.

 

Defender o SNS

«O SNS continua a braços com um grande desinvestimento e com uma operação em curso para o desmantelar», advertiu Paulo Raimundo, que deu particular ênfase aos problemas na Saúde durante a sua intervenção. Cada vez mais utentes sem médico de família, dezenas de problemas que se avolumam e «no meio destas dificuldades todas há o desplante de transferir 40 por cento do Orçamento do Estado para a Saúde para o negócio da doença do sector privado», acusou.

«Uma questão fundamental que se coloca hoje sobre a salvaguarda do SNS é o reconhecimento dos direitos dos seus profissionais. Que se pegue no dinheiro que se está a entregar aos privados e coloque-se nas mãos dos profissionais e dos serviços», apontou.

 

Promessas de igualdade não servem mulheres

«É neste ambiente de alegria e solidariedade que queremos projectar a nossa intervenção. Uma intervenção política, de olhos postos no futuro, no reforço da luta pela melhoria das condições de vida das mulheres, dos trabalhadores e do povo português», afirmou Fátima Almeida, que interveio antes de Paulo Raimundo.

Segundo a dirigente, a política de direita dos governos de PS e PSD, com as suas «promessas de igualdade», nada têm feito se não aprofundar o «fosso entre a lei e a vida» para as mulheres. Apesar de assinaláveis conquistas que surgiram após o 25 de Abril, cada vez mais as mulheres se vêem a par com o aprofundamento de problemas como a precariedade laboral, a desregulação de horários, salários baixos e discriminação salarial, a degradação do seu estatuto sócio-profissional ou a ineficácia das medidas de prevenção e combate à violência doméstica e dos mecanismos de protecção às mulheres prostituídas. Apesar de tudo isso, as mulheres, dinamizadas em parte pela CDU, continuam a lutar pelos direitos consagrados na Constituição da República.

Um apontamento foi ainda dedicado às mulheres que sofrem as «sanções e bloqueios» ditados pelo «imperialismo norte-americano, a União Europeia e seus aliados». «Manifestamos a nossa solidariedade à luta das mulheres nos países sujeitos a estas agressões como Venezuela, Síria, Sara Ocidental, mas também às mulheres ucranianas e russas», salientou por fim a dirigente.