A voz do trabalho soou forte no Dia Nacional de Luta

À hora do fecho desta edição do Avante!, o Dia Nacional de Luta da CGTP-IN (realizado ontem, 28) ainda ia a meio, mas era já evidente que se tratava de uma poderosa jornada em defesa dos salários e dos direitos, com expressão – como era, aliás, objectivo – «em todos os sectores e em todo País». Para a semana voltaremos ao assunto.

Centenas de greves, concentrações e manifestações em todo o País

Era imensa (e em constante actualização) a lista de acções convocadas para ontem, que atingia a ordem das centenas: plenários, paralisações, greves, concentrações e desfiles junto a empresas e serviços, em ruas, avenidas e praças de Norte a Sul de Portugal continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Para lá da exigência de resolução dos problemas concretos de cada empresa ou local de trabalho, uniu os trabalhadores em luta um conjunto de reivindicações comuns, uma mesma indignação face às desigualdades e injustiças que se agravam e um desejo partilhado de construir uma alternativa política «que distribua a riqueza de forma justa, que respeite e valorize o trabalho e os trabalhadores, que defenda e invista nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado», como se lê na nota divulgada pela CGTP-IN na antevéspera da jornada.

Estas exigências gerais seriam expressas nas várias acções convergentes, como as manifestações e desfiles realizados durante a manhã em Setúbal e Corroios e as que estavam marcadas para o início da tarde, já após o fecho desta edição do Avante!, no Funchal, em Braga, no Porto e em Lisboa, esta última com a presença da Secretária-geral da CGTP-IN.

 

Um grande dia de luta

Isabel Camarinha começou o Dia Nacional de Luta junto aos trabalhadores da unidade da Matutano no Carregado, que cumpriam uma greve de 24 horas e se concentraram junto à fábrica. Protestavam contra os baixos salários, os elevados ritmos de trabalho, o trabalho por turnos, a laboração contínua e a retirada do prémio de assiduidade, dois anos depois de ter sido criado. Denunciavam ainda a falta de resposta da administração às suas reivindicações.

Cerca das 8h30 da manhã, em declarações aos jornalistas presentes junto àquela empresa do sector alimentar, a Secretária-geral da CGTP-IN garantia não ser ainda possível, àquela hora, avançar com números de adesão às centenas de acções em curso, assegurando, porém, que estava a ser e seria um «grande dia nacional de luta»: pelo aumento dos salários, a garantia de direitos, contra o aumento o custo de vida, pelo direito à saúde, à habitação, «para exigir respostas aos problemas que os trabalhadores sentem todos os dias e que não estão a ter solução».

Isabel Camarinha esteve ainda com os trabalhadores em greve do sector da grande distribuição, onde os lucros obscenos alcançados pelos principais grupos convivem com a manutenção de salários baixos e elevados índices de precariedade. Com eles integrou a «Marcha pelos Direitos», realizada em Lisboa e também em Vila Nova de Gaia e Olhão. Os percursos uniram lojas de vários grupos do sector (Aldi, Auchan, Continente/ Sonae, Dia/ Minipreço, Fnac, Lidl, Mercadona, Pingo Doce/ Jerónimo Martins, Rádio Popular, etc.), percorrendo as ruas das respectivas cidades.

Exigiu-se aumentos salariais, horários dignos e o direito ao planeamento da vida familiar. No folheto de mobilização do CESP, lia-se: «Somos 144 mil trabalhadores, distribuídos por 4500 lojas, de norte a sul do país, a trabalhar com salários miseráveis e horários desregulados, em empresas de distribuição – e representamos cerca de 12,5% do PIB nacional. A união faz a força!».

 

Salários, direitos e respostas

Em greve de 24 horas estiveram os trabalhadores das várias empresas do grupo Altice, reivindicando aumentos salariais complementares, que compensem a elevada inflação, a valorização das carreiras, a anulação das alterações aos planos de Saúde introduzidos unilateralmente pela administração e a negociação de um Acordo de Empresa na Intelcia.

Com a greve no sector das conservas pretendia-se travar a retirada de direitos que o patronato quer impor: «Numa indústria em que a massa trabalhadora é composta quase exclusivamente por mulheres, maioritariamente mães trabalhadoras, estar a impor horários desregulados é uma posição absurda que sobrecarrega todos apenas em função do enriquecimento ainda mais rápido dos patrões», denuncia o SINTAB.

Na Carnes Nobre, em Rio Maior, a luta é já antiga – por aumentos salariais, contra a precariedade e pela negociação do contrato colectivo – e voltou a ter ontem uma forte expressão. Na Viroc, em Setúbal, os trabalhadores dos dois primeiros turnos aderiram massivamente à greve marcada para a primeira hora de cada um deles. Naquela empresa de madeira e cimento, exige-se «aumentos salariais dignos» e a melhoria das condições de trabalho.

Junto ao Hospital de São João, no Porto, estiveram concentrados trabalhadores da Opção Eleita, que assegura os serviços de bar e restaurante daquela unidade de Saúde. O aumento dos salários, que são hoje baixíssimos, é a principal reivindicação. Registaram-se ainda, da parte da manhã, greves ou concentrações no sector da hospitalização privada, desde logo no Hospital da CUF no Porto, na DHL da Azambuja, na FicoCables, na Preh, em unidades hoteleiras do grupo Marriott.

 

Sector público

No sector público também se fez sentir o Dia Nacional de Luta. Nos serviços de muitas câmaras municipais, juntas de freguesia e empresas municipais realizaram-se dezenas de plenários, paralisações, concentrações e outras acções promovidas pelo STAL. A mobilização começou logo às primeiras horas do dia, ainda não raiava o Sol, junto aos trabalhadores da higiene e limpeza urbanas de vários concelhos.

Os enfermeiros, que estiveram ontem em greve (à qual voltam amanhã), concentraram-se junto a diversos serviços de Saúde de todo o País. Protestam contra a degradação das condições de trabalho dos enfermeiros e a falta de resposta às suas reivindicações por parte do Governo, que apresenta o que chamam de «soluções pela metade».

Em greve estiveram também os trabalhadores da Cantina Velha da Universidade de Lisboa, pela contratação de mais trabalhadores, contra os «ritmos de trabalho desumanos», pela dignificação e valorização das suas funções. Os trabalhadores da IPSS Casa do Povo de Sesimbra concentraram-se junto ao Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal em defesa dos seus postos de trabalho.

 

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