O actor e encenador João Mota, com 81 anos, será a personalidade do mundo teatral homenageado este ano pelo 40.º Festival de Almada, que se realiza de 4 a 18 de Julho. Pedagogo, professor na Escola Superior de Teatro e Cinema durante três décadas e director artístico do Teatro Nacional D. Maria entre 2011 e 2015, João Mota fundou em 1972 a Comuna – Teatro de Pesquisa. «Recusámos sempre subsídios antes do 25 de Abril de 1974. Só depois, a muito custo, conseguimos algumas esmolas», recordou João Mota na apresentação da programação do Festival, que decorreu no passado dia 16, na Casa da Cerca. Perante uma «plateia» de actores, produtores, encenadores e outros profissionais do teatro, bem como de jornalistas e da presidente da Câmara Municipal de Almada, teceu fortes críticas ao actual momento: «Não há cultura sem educação» que «não anda muito bem, e não é só de agora». «Quando se faz uma homenagem, através do teatro, a uma pessoa que esteve ligada ao ensino, tenho um prazer interior muito grande de dizer: ainda vale a pena», uma vez que «o teatro, através dos tempos e da história, esteve sempre mal. É isso que nos faz, cada vez mais, trabalhar, ir para a frente. Porque se estivesse tudo bem adormecíamos, como tanta gente neste País e no mundo», salientou.

No dia 8 de Julho, após a sua homenagem, sobe ao palco a penúltima encenação de João Mota: Não andes nua pela casa, de Georges Feydeau.

Vinte espectáculos
No total são 20 espectáculos de teatro, dança e novo circo (oito portugueses, doze estrangeiros), que serão apresentados em nove palcos de Almada (Teatro Municipal Joaquim Benite, Escola D. António da Costa, Fórum Romeu Correia, Incrível Almadense, Academia Almadense) e Lisboa (Centro Cultural de Belém).

A programação de 2023 conta com criações dirigidas por alguns encenadores já conhecidos do Festival, como é o caso do alemão Peter Stein (O aniversário), ou do inglês Declan Donnellan (A vida é sonho), que abordam dois textos basilares da dramaturgia universal.

Também de regresso está Schaubühne de Berlin, desta vez com uma encenação do suíço Milo Rau (Everywoman), ao passo que a Batsheva Dança Company (pela primeira vez no Festival) apresenta uma peça do seu coreógrafo residente: o israelita Ohad Naharin (MOMO). Também pela primeira vez em Almada estarão os coreógrafos Martin Zimmermann (Eins zwei) e Younn Bourgeois (Minuit), da Suíça e de França, respectivamente, assim como o colectivo francês Galactik Ensemble (Optraken).

Entre as criações portuguesas, focadas na dramaturgia nacional contemporânea, contam-se duas estreias – pela Companhia de Teatro de Almada (Calvário, por Rodrigo Francisco), e pelo Teatro Griot/Artistas Unidos (Ventos do apocalipse, de Noé João) –, bem como peças do Teatro Nacional São João (Suécia), do Teatro Vestido (Aquilo que ouvimos), da Formiga Atómica (Montanha-russa) e de Rui M. Silva (A equipa). O Teatro Experimental de Cascais apresenta o Espectáculo de Honra 2023 (Eu sou a minha própria mulher, de Doug Wrigth, encenado por Carlos Avidez), votado pelo público na edição anterior para regressar este ano.

O Festival recebe ainda peças de criadores com raízes fora da Europa, como é o caso da encenadora e actriz libaneza Hanane Hajj Ali (Jogging), e do actor e encenador francês, de origem argelina, Abdelwaheb Sefsaf (Ulisses de Taourirt). Companhias como as dos catalães Els Joglars e dos belgas Raoul Collectif, assim como o criador galego Pablo Fidalgo, são também já conhecidas do público de Almada, regressando com novas criações.

Além das conversas com alguns dos criadores presentes em Almada, o Festival organiza um Encontro da Cerca dedicado ao tema «A inteligência artificial e a criação artística». Todos os dias, antes dos espectáculos da noite, haverá na Esplanada da Escola D. António da Costa concertos de músicas do mundo, com entrada livre.

As assinaturas – que dão entrada em todos os espectáculos – podem ser adquiridas em ctalmada.pt (onde pode conhecer mais pormenores da programação), no Teatro Municipal Josquim Benite e nas lojas FNAC.