O PCP acusa o Governo de manter o «modelo assente em baixos salários», que impede a melhoria das condições de vida de quem trabalha, ao mesmo tempo que é um «mãos largas» para os grupos económicos, cujos interesses recusa afrontar.
«Quem acumula lucros e enche os bolsos são os grupos económicos, em particular na banca, na distribuição, no sector energético, segurador e nas comunicações», criticou a presidente do Grupo Parlamentar do PCP, dirigindo-se ao primeiro-ministro no debate sobre política geral, que ocupou no dia 24 a totalidade da sessão plenária na Assembleia da República.
Com a generalidade das forças políticas a explorarem matérias que a projecção mediática tem vindo a insuflar, independentemente do grau de gravidade das mesmas e da necessidade que há do seu apuramento nas sedes próprias, havia que recentrar o debate e confrontar o chefe do Governo com os problemas concretos que marcam o quotidiano dos trabalhadores e do povo.
Foi o que fez Paula Santos ao abordar desde logo a questão dos salários vs lucros, para perguntar a António Costa como explica que, estando, como diz o Governo, os dados da economia melhores, por que razão não tem isso tradução na vida das pessoas.
«Se a economia vai de vento em popa, mas se os trabalhadores e as famílias estão a empobrecer a trabalhar, alguém se está a apropriar dessa riqueza», sublinhou, mostrando-se ciente de que não são seguramente os trabalhadores, já que «vivem cada vez com mais dificuldades».
Daí a censura que fez ao Governo por este impor a perda do poder de compra dos trabalhadores e reformados e recusar qualquer reposição do mesmo, ao mesmo tempo que «favorece a acumulação de lucros dos grupos económicos». E dessa forma, acusou, estar a fomentar a «pobreza e a agravar as desigualdades e injustiças».
A deputada do PCP insistiu por isso na necessidade de romper com este caminho, lembrando que «não há desenvolvimento e progresso sem a valorização do trabalho e sem a valorização dos salários e das reformas e pensões».
Na resposta, o primeiro-ministro afirmou que a «economia está a crescer» e invocou decisões tomadas pelo Governo para assegurar que este «está a tomar medidas para proteger as famílias», dando o exemplo do IVA zero, que, segundo ele, terá feito baixar os preços dos bens alimentares entre sete a oito por cento.
«As medidas do Governo, no essencial, não tocam nem enfrentam os interesses dos grupos económicos, que estão a aproveitar-se e a ganhar, e muito, à custa dos salários e pensões», contrapôs Paula Santos, defendendo que os trabalhadores e reformados o que exigem são «respostas estruturais e não medidas pontuais e avulsas como as que têm sido adoptadas». E aludindo à redução de preços nalguns produtos alimentares, anotou ser manifestamente insuficiente perante aumentos verificados de 20 e 30 por cento na maior parte deles. E tudo, acusou, porque o «Governo recusa controlar e reduzir os preços de bens essenciais».
No decurso das duas rondas de perguntas a líder parlamentar do PCP levou ainda a debate outros temas igualmente importantes, como o «crime económico» que é - assim o qualificou – a privatização da TAP; o agravamento das taxas de juro e a falta de medidas para proteger a habitação das famílias; os problemas no acesso aos cuidados de saúde e a ausência de respostas às reivindicações dos professores e às necessidades da Escola Pública.