Linha circular: da opção errada ao seu remedeio

Francisco Asseiceiro

O PCP sempre se opôs à Linha Circular, que apenas serve a especulação imobiliária e a mono-actividade do turismo

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Na fase de discussão pública da Linha Circular (LC) do Metro, no centro de Lisboa, mais de 90% dos participantes expressaram-se contra o projecto, que consiste na união das linhas Amarela e Verde no Campo Grande e no Cais do Sodré.

Como o PCP então alertou, em 2019, a opção anunciada é contrária aos interesses da população da cidade e da AML, em particular da Margem Norte. Contra a população de Telheiras, prejudicada com o fim da sua ligação directa à Linha Verde. Contra a população de Odivelas, do Lumiar, da Ameixoeira, da Charneca, prejudicadas com o fim da sua ligação directa à Linha Amarela. Contra a população de Loures, que vê comprometida a expansão ao seu concelho. Contra a população de Alcântara, da Ajuda, de Belém, prejudicadas com o adiamento sine die da expansão para a Zona Ocidental da Cidade.

No amplo processo de mobilização, esclarecimento e luta com trabalhadores e utentes, o PCP apresentou na AR, durante a votação do OE 2020 a proposta – aprovada com votos contra do PS – de suspensão da construção da LC e de prioridade à expansão do Metro a Loures e a Alcântara e Zona Ocidental de Lisboa.

Em 2021 a CML aprova a moção do PCP – com votos contra do PS – manifestando viva oposição ao projecto da LC e instando o Governo à reavaliação imediata de todo o processo, incluindo a instrução ao Metro para não assinar a consignação da obra dos viadutos do Campo Grande.

Falaram mais alto os interesses especulativos e a perspectiva da valorização de um conjunto de projectos imobiliários na zona das duas novas estações. Falou mais alto a visão de uma capital do País submetida à mono-actividade do turismo.

Apesar de todos os alertas sobre o que devem ser as prioridades na expansão do Metro, as obras da LC aí estão, com o orçamento sempre a aumentar.

Em 2018 a obra foi estimada em 210 milhões de euros, em 2021 passou para 240 milhões de euros e em Dezembro de 2022 o custo foi revisto para 331.4 milhões de euros, quando ainda faltavam quase dois anos para a conclusão da obra... E no mês passado o Governo reconheceu uma derrapagem superior a 500 milhões de euros nas obras de expansão dos metros de Lisboa e do Porto.

Entretanto, a obra dos viadutos do Campo Grande, em curso, exigiu a interrupção da circulação entre Telheiras e Campo Grande (Linha Verde) e entre Campo Grande e Cidade Universitária (Linha Amarela) desde 2 de Maio até 7 de Julho. A estação de Telheiras está encerrada e as composições da Linha Verde reduzidas a três carruagens.

Na manifestação desta segunda-feira, a Comissão de Utentes dos Transportes Públicos de Lisboa exigiu medidas urgentes para resolver a situação caótica que se instalou nos movimentos pendulares afectando milhares de trabalhadores.

A prioridade à mobilidade e à transferência modal para o transporte colectivo nos movimentos pendulares aponta claramente para a expansão prioritária a Loures e a Alcântara, opção prévia que minimizaria também constrangimentos como os que se estão a verificar.

A derrapagem nos custos, o caos gerado nos transportes públicos e os protestos contra os transbordos durante as obras, que se tornariam definitivos caso se confirmasse a operação em LC, não deixarão de estar relacionados com a recente aceitação do Governo em abdicar da operação estritamente como LC, admitindo agora a linha «em laço», de Odivelas a Telheiras, percorrendo toda a cidade, opção já proposta em 2019.

Relativamente à operação como LC a principal diferença da operação «em laço» é não implicar a introdução da necessidade do transbordo no Campo Grande, aos utentes de Odivelas e de Telheiras, na sua ligação ao centro de Lisboa. Acresce que para a operação exclusivamente «em laço» nem seriam necessárias obras na infra-estrutura do Campo Grande.

Nestas circunstâncias, na semana passada o PCP apresentou na CML uma moção, aprovada – com votos contra do PS – reiterando que a criação de uma LC na rede do Metro é uma opção errada e referindo que as obras em curso para a sua concretização estão a afectar os utentes dos transportes públicos, porque se verifica uma inexplicável ausência de planeamento atempado que previsse as consequências, impactos e medidas que esta obra acarreta, requerendo ainda o PCP medidas urgentes para minimizar os constrangimentos nos transportes públicos e esclarecimentos sobre o futuro da operação no projecto da linha circular.

 



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