Muitos milhares no 1.º de Maio reafirmam compromisso de luta
Nas comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores, a CGTP-IN reafirmou o compromisso de «intensificar a luta nas empresas e serviços, em todos os sectores, público e privado, lutar pelos direitos, lutar pela melhoria das condições de trabalho, lutar pela elevação das condições de vida, lutar por uma vida melhor e pela construção de outro futuro».
Só um salto nos salários pode travar o assalto do grande capital ao poder de compra dos trabalhadores
As palavras de Isabel Camarinha, Secretária-geral da CGTP-IN, ditas da tribuna na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, ecoaram como ideia central nas iniciativas realizadas pela confederação noutras 32 localidades do Continente e das regiões autónomas, com a participação de muitos milhares de trabalhadores, comprovando a força das estruturas do movimento sindical unitário.
«Mais salários! Mais direitos! Melhores pensões! Contra o aumento do custo de vida! Combater a exploração» foi a consigna para as concentrações, manifestações, festas populares e outras iniciativas em Aveiro, Beja (e também Ervidel e Pias), Guimarães, Bragança, Castelo Branco (e ainda na Covilhã e Tortosendo), Coimbra (e Figueira da Foz), Évora, Faro, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal (também Grândola e Sines), Torres Vedras, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu (e também Lamego e Mangualde), Angra do Heroísmo, Horta, Ponta Delgada e Funchal.
Em Lisboa, com trabalhadores deste distrito e dos concelhos do Norte do distrito de Setúbal, a manifestação saiu do Martim Moniz, pouco depois das 15 horas, para subir a Avenida Almirante Reis, até à Alameda. Vencendo o calor, milhares de manifestantes, predominantemente organizados por sindicatos e concelhos, transportaram faixas, cartazes e bandeiras, e gritaram palavras de ordem. Muita gente saudava nos passeios a passagem da manifestação.
Cerca das 17 horas, com os membros da Comissão Executiva da CGTP-IN no palco, instalado sob o cenário da Fonte Luminosa, foi dada a palavra ao coordenador da Interjovem.
Dinis Lourenço assinalou que «a desigualdade aprofunda-se, com os jovens trabalhadores a sofrerem particularmente, no fundo da pirâmide», garantindo que «a luta vai continuar e contará com a força, a alegria e a confiança da juventude».
A Secretária-geral da CGTP-IN começou por saudar «todos os trabalhadores, os reformados e pensionistas» e «os jovens que hoje saem à rua em luta». Isabel Camarinha recordou ainda a «grandiosa manifestação de 18 de Março» e «as poderosas comemorações dos 49 anos da Revolução».
Remendos não resolvem
«Neste 1.º de Maio, dia de luta, combatemos a exploração, exigimos respostas aos problemas que se agravam» e «exigimos soluções para fazer face ao aumento do custo de vida», mas isto «não se resolve com remendos, com medidas pontuais, com actos avulsos, que podem acudir ao momento, mas perpetuam a situação».
Neste contexto, a dirigente considerou que as opções do Governo do PS – nas quais assinalou «a ausência de verdadeiras soluções para os problemas dos trabalhadores e do País» – «servem os interesses do grande capital e os objectivos da direita e da extrema-direita».
Destacou o exemplo da legislação do trabalho (a designada «agenda do trabalho digno», que entrou em vigor no dia 1), sublinhando que, «por opção do Governo, da maioria absoluta do PS na Assembleia da República e do frete feito ao capital e ao PSD, CDS, IL e Chega», as novas normas «mantêm a caducidade das convenções colectivas, não repõem o princípio do tratamento mais favorável, não reduzem o tempo de trabalho, não combatem a desregulação dos horários e não garantem que cada posto de trabalho permanente é ocupado por um trabalhador com vínculo efectivo».
Referiu ainda o que sucede com o aumento dos preços e com a habitação, para concluir que «precisamos de medidas de fundo, que rompam com o caminho de exploração e dependência a que a política de sucessivos governos conduziu o País».
Em alternativa, «o caminho de que os trabalhadores e o País precisam é o dos valores de Abril».
Para a CGTP-IN, «o aumento geral e significativo dos salários, de todos os salários, é a questão central deste momento». «Não há volta dar, não se pode continuar a adiar e a negar esta reivindicação dos trabalhadores», frisou Isabel Camarinha, reafirmando a exigência de «um aumento de 10 por cento, com um mínimo de 100 euros, com efeitos a Janeiro de 2023».
«É preciso dar um salto nos salários, para travar o assalto dos lucros e do grande capital ao poder de compra dos trabalhadores», enfatizou a Secretária-geral, detendo-se sobre outras das principais reivindicações, como o fim da precariedade, a redução do tempo de trabalho e regulação dos horários, a defesa dos serviços públicos.
Considerando que «o Serviço Nacional de Saúde está hoje numa situação insustentável», a CGTP-IN «convoca todos os trabalhadores, os jovens e os reformados, as populações, a juntarem-se à marcha “Mais SNS – Melhor Saúde” que, no próximo dia 20 de Maio, vamos realizar em Lisboa, Porto e Coimbra, em conjunto com muitas outras organizações».
Isabel Camarinha realçou que, «ao contrário do que é repetido pelo capital até à exaustão, a luta tem resultados». Citou, como efeito de «milhares de acções» promovidas pelos sindicatos, a conquista de aumentos salariais, a passagem a efectivos de trabalhadores que tinham vínculos precários, a redução de horários de trabalho. E lembrou que se conseguiu «forçar respostas, mesmo que insuficientes, do patronato e do Governo».
Cientes do valor da luta organizada, «o nosso compromisso, o compromisso de todos quantos aqui estão e que o têm de transportar para o seu local de trabalho» é «intensificar a luta nas empresas e serviços, em todos os sectores, público e privado, lutar pelos direitos, lutar pela melhoria das condições de trabalho, lutar pela elevação das condições de vida, lutar por uma vida melhor e pela construção de outro futuro», «com os valores de Abril», afirmou a Secretária-geral da Intersindical.
Contra uma injustiça brutal
«Esta mobilização extraordinária acontece porque os trabalhadores produzem a riqueza, criam a riqueza, põem a sociedade e a economia a funcionar, mas, depois, confrontamo-nos com uma injustiça brutal: os grupos económicos a concentrarem cada vez mais lucros, de forma até escandalosa, e para os trabalhadores sobram migalhas», afirmou aos jornalistas o Secretário-geral do PCP, a propósito da participação popular nas manifestações do 1.º de Maio.
Paulo Raimundo – que, com uma delegação do Partido, saudou a passagem da manifestação na Avenida Almirante Reis, próximo do Banco de Portugal – frisou que isto «não pode ser». Para o PCP, «o aumento geral dos salários é uma emergência nacional e é uma exigência justa destes trabalhadores», que reclamam «respeito, dignidade e aumento dos salários, fundamental para dar resposta aos problemas que enfrentam hoje».
«É justa a reivindicação destas pessoas, independentemente das idades», observou Paulo Raimundo, justificando assim que o 1.º de Maio tenha «esta dimensão toda». Destacou «a diversidade das idades e a forma como esta gente está: determinada e confiante».
«Maio está vivo, Maio tem força» e «esta força que está aqui, na rua, hoje, é uma força que vai continuar a exigir e reivindicar», concluiu o Secretário-geral do Partido.
Da delegação do PCP fizeram parte Francisco Lopes, João Frazão e Manuela Pinto Ângelo, dos organismos executivos do Comité Central do Partido; Antónia Lopes e Teresa Chaveiro, do Comité Central; Joana Carneiro, João Pereira e Jorge Feliciano, das direcções das organizações regionais de Lisboa e Setúbal.
Com a luta dos jovens
«O capital impõe horários de trabalho desregulados e ritmos de trabalho cada vez mais intensos. Apropriando-se dos avanços da ciência e da técnica, o patronato carrega os jovens trabalhadores com horários longos, com trabalho nocturno e por turnos, afastando os jovens do seu direito ao lazer, ao desporto, à cultura, a uma equilibrada conciliação entre a vida pessoal e laboral.
A precariedade normaliza-se e assume várias formas, mas sempre com o mesmo objectivo: isolar os jovens trabalhadores, atacar os seus direitos, embaratecer ainda mais o nosso trabalho.
É urgente rejeitar e erradicar a precariedade, e é com a luta que o faremos.»
Da intervenção de Dinis Lourenço,
coordenador da Interjovem
Vai intensificar-se a reivindicação nos locais de trabalho
Na resolução aprovada e aclamada no 1.º de Maio, afirma-se a determinação dos trabalhadores para «intensificação da acção e da luta reivindicativa nos locais de trabalho, empresas e serviços». Rejeitando «a política de agravamento da exploração e empobrecimento, enquanto o grande capital acumula milhões de euros em lucros, benefícios e isenções fiscais», declara-se «o compromisso de continuar a fazer convergir a luta para exigir a valorização do trabalho e dos trabalhadores e respostas aos problemas do povo e do País».
«O aumento dos salários é determinante para uma estratégia de desenvolvimento, a melhoria das condições de vida, o combate à pobreza, o aumento futuro das pensões de reforma, o estímulo à actividade económica e à produção nacional, o reforço da Segurança Social e do investimento nos serviços públicos», pelo que a CGTP-IN vai «intensificar o esclarecimento, a mobilização e a luta».