Abril está vivo e foi celebrado com luta

Em todo o País, ruas, praças, avenidas, parques, largos, auditórios,voltaram a encher-se de gente, de todas as gerações,muitos jovens, mostrando que os valores e o projecto de Abril estãovivos e dão todas as respostas que forem necessárias para o presente e o futuro do nosso País. Nos desfiles de Lisboa e do Porto, muitos milhares de pessoas ergueram bem alto reivindicações alcançadas com a Revolução, como o direito à educação, habitação, saúde, segurança social, direito à igualdade das mulheres no trabalho e direitos da juventude.

«25 de Abril sempre, fascismo nunca mais»

«Abril é mais futuro», lia-se num cartaz erguido por uma menina às cavalitas do seu pai, quando descia a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Na outra mão um cravo rubro, símbolo da Revolução, que tantos outros empunhavam ou traziam ao peito. Olhava estupefacta para a chaimite, que, ao som do hino do MFA, abria caminho para uma enorme faixa onde se lia «25 de Abril sempre». Ouviram-se e cantarolaram-se outros temas, como «Liberdade», de Sérgio Godinho, e «Grândola, Vila Morena», de Zeca Afonso.

Logo atrás os Pioneiros de Portugal desafiavam os participantes a «semear a liberdade», seguidosde uma onda vermelha de jovens comunistas «em luta pelo que é nosso: trabalho, igualdade, ambiente, escola pública», gritando, bem alto, palavras de ordem como «agora e sempre Abril está presente» e «é urgente e necessário o aumento do salário».

Quando «o custo de vida aumenta» e«o povo não aguenta», outras exigências marcharam naquela artéria, por exemplo, para «repor o poder de compra das pensões, envelhecer com qualidade de vida». Também se lutou, de olhos postos no 1.º de Maio, por «respeito pelo direito à greve» e «defesa da contratação colectiva», contra «a destruição das Funções Sociais do Estado» e «a desigualdade, a exploração e o empobrecimento», por «mais e melhores transportes e habitação» e «1% para a cultura», em «defesa do Serviço Nacional de Saúde». «Parar a guerra» e «dar uma oportunidade à paz» é um desejo de todos.

Destaque paraa promoção da Festa do Avante!, que este ano se vai realizar nos dias 1, 2 e 3 de Setembro, com uma vasta programação de música, desporto, artes plásticas, teatro, debates e exposições.


Força

Durante o percurso, o Secretário-geral do PCP frisou que «o 25 de Abril está vivo, tem muita força e milhares (de pessoas) para defendê-lo e cumpri-lo». No entanto, «falta» concretizar «um conjunto muito largo de situações da vida» como «nos salários, nas pensões, no aumento das condições de vida, nas questões da saúde, na habitação», às quais é necessário «dar resposta», tendo em conta que «Abril abriu esse caminho», disse Paulo Raimundo.

Quando se iniciaram as intervenções na Praça do Rossio – após a actuação do grupo «Zé Pinho & Amigos», com música dos que cantaram a Revolução – muitos ainda não tinham sequer arrancado do Marquês de Pombal.

«Para cumprir Abril é preciso combater a pobreza e o agravamento das desigualdades sociais. Nesse combate ocupa um lugar de destaque a valorização dos direitos laborais, pondo fim à precarização do trabalho e aos baixos salários. Também é preciso aumentar as reformas e pensões e garantir uma efectiva protecção dos grupos sociais mais vulneráveis e marginalizados», ouviu-se do palco.

Catarina Menor, do Movimento «Dar Voz aos Estudantes», salientou que a juventude de Abril, «herdeira da coragem e da irreverência dos jovens do passado, mas também da responsabilidade de garantir que não andamos para trás, luta hoje pelo que lhe prometeram há quase 50 anos: pelo fim da guerra, pelo direito à cultura acessível a todos, ao desporto e ao lazer, por uma escola e um ensino superior público e de qualidade, pelo direito ao trabalho com direitos, por uma vida digna e pelo direito a sonhar».

Em nome da Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril interveio Rodrigo de Sousa e Castro, que recordou os milhares de militares fardados, oficiais, sargentos e praças que há 49 anos, «numa acção militar exemplar, pelo rigor do seu planeamento e pela eficácia da sua condução, permitiu derrubar um regime ditatorial que oprimiu o povo português, cerceando-lhe as liberdades mais básicas e capturando a sua liberdade durante mais de quatro décadas».

Como diz o cantor e compositor, que agora recebeu o prémio Camões: «Foi bonita a festa, pá; Fiquei contente; Ainda guardo renitente; Um velho cravo para mim». Mas a luta continua!

 

Também no Porto, Abril é mais futuro

A poesia está na rua, nos cartazes e nas sementes de Abril que, nos 49 anos da Revolução, continuam a germinar. O Porto para turista ver fez-se um rio de gente em defesa de uma vida digna. Quem passeava, rendeu-se ao postal impressionante da luta democrática.

«Isto é tão bonito!» Denise não fala português. Canadiana, reformada, estava de passagem na cidade do Porto, na tarde em que Abril saiu à rua para comemorar os 49 anos da que o mundo inteiro recorda como Revolução dos Cravos. Meteu conversa porque não podia assistir calada àquela maré interminável, milhares de vozes a celebrar a conquista da liberdade, a reivindicar o direito a uma vida com dignidade para o qual Portugal acordou a 25 de Abril de 1974.

O actual contexto de ataque aos mais elementares direitos consagrados na Constituição traz Abril à flor da pele e, desde as instalações da extinta PIDE, onde foram homenageados os resistentes antifascistas, à sombra da memória de Virgínia Moura, imortalizada ali no Largo Soares dos Reis, o desfile popular ofereceu um retrato do País em luta democrática a desaguar nos Aliados, onde tudo começara, na véspera, ao som de Luta Livre, o mais recente projeto musical de Luís Varatojo, e do Coral de Letras da Universidade do Porto, que à meia-noite transbordou do palco: é sempre assim, quando se ouve Grândola.

Quem não soubesse que a organização definira um lema para as comemorações – «Contra o aumento do custo de vida: Abril é Paz, Pão, Habitação, Saúde e Educação» – poderia facilmente resumi-lo. Estava diante dos olhos o Portugal reivindicado por aquele rio de gente de todas as idades: professores, trabalhadores dos comboios, do sector rodoviário, das autarquias locais, médicos, reformados, bolseiros e muitos outros fizeram-se ouvir.

Denise, na margem, não saberia traduzir todas as mensagens, mas emocionou-se com o caudal de gente de todas as idades a fazer-se ouvir e com o apoio dos que, como ela, foram ver passar a luta democrática. Neste tempo de ataque cerrado aos valores de Abril, que convoca com urgência o combate ao fascismo, ao racismo, à xenofobia, ao discurso do ódio, a resistência fez-se com poesia, música, dança e ternura, desenhada no pedaço de cartão que um pau e uns pedaços de fita cola fizeram cartaz da caligrafia de seis anos de Sancho, num apelo que deixaria muitos adultos de cabelos em pé: guerra nunca mais. Uma ousadia do pequenito, sementinha no Porto inundado de gente a mostrar que a Revolução a caminho dos 50 anos não é só a nossa memória mais bonita: é o futuro.

 

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