Sindicatos do sector e movimento de utentes convocam luta de todos pelo SNS
Defronte do Ministério da Saúde, a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública apelou à luta de «todos, mesmo todos os interessados no direito à Saúde, num Serviço Nacional de Saúde geral, universal e gratuito» e anunciou uma acção nacional de luta para 20 de Maio, «em defesa e pelo reforço do SNS».
O défice de 0,4% custou a degradação dos serviços e o desgaste dos trabalhadores
A concentração de representantes dos trabalhadores dos vários sub-sectores do SNS teve lugar ao fim da manhã de dia 6, para assinalar o Dia Mundial da Saúde (7 de Abril, este ano feriado de Sexta-feira Santa).
Com faixas, bandeiras e cartazes, destacaram-se sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (representando auxiliares de acção médica e outros profissionais), a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), dos Enfermeiros Portugueses, dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (STSS).
Do palco móvel, veio a informação de que estavam ali representantes de todas as estruturas da Frente Comum, logo frisando que a luta pela defesa do SNS e pela valorização dos seus profissionais «é de todos».
Foi assinalada a presença de activistas da Plataforma Lisboa em Defesa do SNS, que reúne organizações de trabalhadores, reformados e utentes.
Dirigentes da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do STSS, estruturas que não integram a Frente Comum, foram convidados a usar da palavra.
Esteve presente uma delegação do PCP, da qual fizeram parte Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central, Bernardino Soares, do Comité Central, João Dias, deputado, e Leonor Barão, da Direcção da Organização Regional de Lisboa. Manifestando «todo o apoio e solidariedade à luta que os trabalhadores do SNS travam», Jorge Pires realçou, em declarações à comunicação social, que se trata de uma luta «pela valorização salarial, por carreiras justas e melhores condições de trabalho», mas, «simultaneamente, pela defesa do SNS, instrumento de garantia do acesso à Saúde a todos os portugueses». Este objectivo «está posto em causa, devido às políticas de sucessivos governos, de desvalorização do SNS e dos seus profissionais», acusou.
Podem fazer muito mais
«Há condições para o Governo fazer muito mais e fazer muito melhor pelos serviços públicos e pelo SNS, em particular», afirmou o coordenador da Frente Comum. Sebastião Santana, o último dos oradores, assinalou que o Executivo «troca um défice de 0,4 por cento pela degradação dos serviços, pelo desgaste dos trabalhadores, pela falta de recursos».
Este é «o mesmo Governo que impõe salários de miséria a muitos milhares de trabalhadores, que se recusa a repor o poder de compra perdido nas últimas décadas, que encena negociações sem avanços e que, ao mesmo tempo que se demite de taxar lucros extraordinários, diz que não há dinheiro».
Para a Frente Comum de Sindicatos, «o Orçamento da Saúde é revelador desta falácia», uma vez que «quase metade das verbas atribuídas ao sector da Saúde não chega ao SNS», indo para aquisição de serviços. «Não são uns serviços quaisquer, são serviços que o Governo não quer que o SNS desenvolva, para assegurar o lucro dos prestadores privados», acusou Sebastião Santana.
«A luta pela defesa e reforço do SNS toma uma importância enorme», perante o actual quadro de degradação do serviço público (efeito de «políticas que visam a sua destruição»), sublinhou o dirigente, alertando: «Se não se interromper estas políticas de ataque aos direitos dos trabalhadores, se não se recusar compactuar com a agenda dos grandes grupos de saúde privados, se não se investir no SNS, podemos estar num caminho sem retorno» e «em causa, nesse cenário, estaria uma das mais belas conquistas de Abril, o direito à Saúde».
Neste contexto, «importa que se desenvolva a luta de todos, mesmo todos os interessados no direito à Saúde, num SNS geral, universal e gratuito», «todos os que se recusam a ver direitos, tão básicos e essenciais como o direito à Saúde, serem roubados em nome do lucro de meia dúzia de agiotas». No apelo, Sebastião Santana envolveu trabalhadores da Saúde, mas também de outras áreas, tanto da Administração Pública, como do sector privado, e ainda «utentes, associações profissionais e de doentes, reformados e pensionistas».
Garantindo que «esta luta não vai parar», o coordenador da Frente Comum adiantou que «muitas foram já as organizações sindicais e de utentes que decidiram participar, de forma empenhada, na realização de uma acção nacional de luta, em defesa e pelo reforço do SNS, no próximo dia 20 de Maio». Este será, em contornos a definir, «um dia de afirmação de uma das palavras de ordem que mais sentido fazem nos dias de hoje: o povo merece o SNS!».
Uma fonte de progresso
O SNS «tem-se mostrado ao longo dos anos como uma fonte de progresso social, contribuindo para a melhoria dos índices de saúde dos portugueses, e é fundamental que assim continue a ser», assinalou a CGTP-IN.
Dia 6, num comunicado a propósito do Dia Mundial da Saúde, a confederação observou que «os problemas do SNS e a degradação da sua capacidade de resposta decorrem do subfinanciamento crónico e da falta de investimento dos sucessivos governos». Isto «tem sido aproveitado pelos grupos económicos privados envolvidos no negócio da Saúde, para crescerem e se desenvolverem à sombra das insuficiências do sistema público».
A Intersindical Nacional reafirmou «a urgente necessidade de defender e reforçar o Serviço Nacional de Saúde público, universal e gratuito, conquista de Abril, tal como consagrado na Constituição».
Este é um dos objectivos que a CGTP-IN inscreve nos motivos de mobilização para as próximas comemorações do 1.º de Maio.
Muito rapidamente
«Temos de defender o SNS público, um SNS de serviços públicos, e não aquilo que está a acontecer: há um crescimento constante da aquisição de serviços privados, nomeadamente nas áreas de diagnóstico e terapêutica.
Temos de defender mais investimento para o SNS, mais serviços, mais trabalhadores e mais equipamentos, para podermos dar resposta.
Estamos aqui para lembrar ao ministro da Saúde, aos governantes e ao Governo a necessidade urgente de valorização das carreiras profissionais, como está previsto na Lei de Bases. Tem de haver respostas muito rapidamente.»
Luís Dupont, STSS
Falta concretizar
«O Governo PS anuncia medidas, mas a concretização fica sempre para outra oportunidade. O acordo colectivo de trabalho celebrado com a FNSTFPS em 2018 continua por concretizar na maioria dos hospitais. Os hospitais que em 2022 passaram para a esfera pública continuam a protelar a adesão ao ACT das carreiras gerais. A criação da carreira de técnico auxiliar de saúde continua muito no fundo da gaveta, apesar de o Governo ter colocado como meta o ano de 2023. A celebração do ACT das carreiras não revistas continua por fazer. Continua também por concretizar a correcta aplicação dos diplomas de revisão da carreira dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica. Continua também por realizar a revisão da carreira dos técnicos de emergência hospitalar. É uma lista imensa, que não se esgota nestes exemplos.»
Elisabete Gonçalves, FNSTFPS
Com impacto positivo
«Como médicos, somos testemunhas diárias do impacto positivo do SNS na vida das pessoas, especialmente das mais vulneráveis e em situação de carência económica.
O pilar fundamental do SNS são os profissionais de Saúde que nele trabalham.
Os médicos precisam de propostas concretas em algo que o próprio Governo anunciou como matéria de negociação, de forma a permitir rapidamente a possibilidade da dedicação exclusiva.
O ministro promove a exaustão dos seus colegas médicos, com uma política que valoriza o trabalho extraordinário além dos limites legais, e ao validar administrações que desrespeitam os médicos, impedindo a conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar.
Precisamos de continuar a lutar por um SNS público e de qualidade, que atenda todas as necessidades da população.»
Manuela Soares, FNAM
Prioridade ao investimento
«A melhor linha de defesa do SNS é exigir, reivindicar e lutar por mais e melhor investimento, desde logo nos recursos humanos, com a contratação de mais profissionais em todas as áreas e a regularização de vínculos precários.
É inadmissível que em 2022 haja 25 instituições que reduziram o número de enfermeiros e que permaneçam centenas de enfermeiros em vínculo precário.
A segunda linha de mais investimento no SNS passa pela Carta de Equipamentos, tendo à cabeça um plano de investimento na área dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica para os cuidados de saúde primários.
É uma vergonha a linha de tendência de contrabando de dinheiros públicos para o sector privado. O SNS deve ter condições para fazer exames e análises dentro dos hospitais.
Tal plano de investimentos esteve em dois ou três Orçamentos do Estado, mas o investido até agora é pouco mais que zero.»
José Carlos Martins, SEP