No próximo domingo, domingo de Páscoa, os supermercados da cadeia Lidl estarão fechados. Não por especial devoção religiosa nem por desapego da administração aos lucros que sempre consegue, mas porque a luta dos trabalhadores no ano passado assim obrigou. A greve de 2022 conquistou esta importante vitória em 2023.
Sem querer fazer futurologia, talvez não seja muito arriscado prever que desse encerramento não virá grande mal ao mundo: as famílias não ficarão sem comer, o Lidl não abrirá falência, a Terra continuará a girar. Os trabalhadores do Lidl é que terão um domingo para si, para fazerem o que bem entenderem dele – o que, nos dias que correm, não é vitória pequena.
Na manifestação nacional de 18 de Março, o CESP, o sindicato que representa os trabalhadores do comércio, lançou uma iniciativa legislativa de cidadãos para propor à Assembleia da República a redução do horário do comércio: até às 22 horas de segunda-feira a sábado, e encerrando aos domingos e feriados, naturalmente sem perda salarial.
A questão é muito sentida pelos trabalhadores do sector: longuíssimos e desregulados horários de trabalho, todos os dias da semana, praticamente todos os dias do ano, tornam a vida um inferno, com dificuldades em descansar, ter tempo para o lazer e para a vida privada, ou até de ter transporte à noite para ir para casa.
Mas também é sentida pelo comércio tradicional e de rua, esmagado com a concorrência tantas vezes desleal das grandes superfícies, dos centros comerciais e das grandes multinacionais, e de todos os outros sectores arrastados por estes horários loucos, da logística à segurança, passando pela limpeza.
Este é um exemplo de como a luta dos trabalhadores pelos seus interesses – salários, horários, vínculos – é na verdade uma luta que faz caminho para uma outra sociedade, organizada com outros princípios que não o da busca incessante de lucro e mais lucro. Uma sociedade onde o trabalho faz parte da realização pessoal de cada um, onde há tempo para viver, onde os recursos são usados de forma racional. Uma luta que continua!