Milhares de jovens rejeitam nas ruas empobrecer a trabalhar

A 28 de Março, em Lisboa e em Vila Nova de Gaia, a In­ter­jovem as­si­nalou o Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude com ma­ni­fes­ta­ções muito par­ti­ci­padas, mos­trando nas ruas o des­con­ten­ta­mento que se vive em em­presas, ser­viços, sec­tores e dis­tritos. Sob o lema «Basta de em­po­brecer a tra­ba­lhar! A pre­ca­ri­e­dade é para acabar!», foram de­nun­ci­ados os pro­blemas e exi­gidas so­lu­ções, a co­meçar pelo au­mento geral dos sa­lá­rios.

É ina­cei­tável a ge­ne­ra­li­zação da pre­ca­ri­e­dade, do de­sem­prego e dos baixos sa­lá­rios

A sul, a ma­ni­fes­tação saiu do Rossio, subiu a Rua do Carmo e desceu a Cal­çada do Combro, para ter­minar numa con­cen­tração, junto da As­sem­bleia da Re­pú­blica.

A Norte, os jo­vens e ou­tros tra­ba­lha­dores reu­niram-se em Vila Nova de Gaia, nas pro­xi­mi­dades do El Corte In­glés, des­fi­lando de­pois pela Ave­nida da Re­pú­blica, até ao Jardim do Morro. A Se­cre­tária-geral da CGTP-IN, Isabel Ca­ma­rinha, par­ti­cipou nesta acção e in­ter­veio, no final.

Os mo­tivos que trou­xeram à rua estes mi­lhares de jo­vens tra­ba­lha­dores, fi­caram pa­tentes nas pa­la­vras de ordem gri­tadas – como «O custo de vida au­menta, a ju­ven­tude não aguenta», «O au­mento do sa­lário é justo e ne­ces­sário», «Para os pa­trões são mi­lhões, para os sa­lá­rios nem tos­tões» – e nas faixas trans­por­tadas (al­gumas das quais iden­ti­fi­cavam grupos de ma­ni­fes­tantes e os seus mo­tivos es­pe­cí­ficos), mas também nos aplausos que mar­caram as in­ter­ven­ções dos di­ri­gentes e na re­so­lução apro­vada e acla­mada.

«São muitos os jo­vens que, em uni­dade com todos os tra­ba­lha­dores, no sector pri­vado, na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, no sector em­pre­sa­rial do Es­tado par­ti­cipam nos ple­ná­rios e na de­cisão das rei­vin­di­ca­ções, nas greves, pa­ra­li­sa­ções e ou­tras ac­ções e nas lutas con­ver­gentes, como bem vimos na gran­diosa ma­ni­fes­tação “Todos a Lisboa”, no pas­sado dia 18», co­meçou por as­si­nalar Isabel Ca­ma­rinha.

Para a CGTP-IN, «os jo­vens par­ti­cipam porque cresce a cons­ci­ência de como é ina­cei­tável que, num tempo de avanços ím­pares na ci­ência e na tec­no­logia, de de­sen­vol­vi­mento da força de tra­balho, à tal ge­ração mais qua­li­fi­cada de sempre se im­ponha a pre­ca­ri­e­dade como regra, o de­sem­prego como na­tural, os sa­lá­rios ainda mais baixos que os baixos sa­lá­rios pra­ti­cados no nosso País».

Pela voz da Se­cre­tária-geral – numa in­ter­venção que, em Lisboa, es­teve a cargo de Li­bério Do­min­gues, da Co­missão Exe­cu­tiva da CGTP-IN – a con­fe­de­ração con­si­derou esta si­tu­ação «ina­cei­tável», lem­brando que «re­sulta de opção po­lí­tica esta de­gra­dação das con­di­ções de tra­balho que se pro­longa du­rante dé­cadas, que im­pede a in­de­pen­dência e a eman­ci­pação dos jo­vens tra­ba­lha­dores, que rouba o di­reito de con­cre­tizar os pro­jectos de cada um e de viver e tra­ba­lhar no nosso País com uma pers­pec­tiva de fu­turo». Para a In­ter­sin­dical Na­ci­onal, «é uma po­lí­tica gasta e fa­lida, aquela que impõe aos fi­lhos con­di­ções ainda pi­ores que aquelas com que estão con­fron­tados os pais».

A ma­ni­fes­tação, no Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude, re­pre­sentou uma ho­me­nagem «aos par­ti­ci­pantes no acam­pa­mento em Bela Mandil, há sete dé­cadas, que a po­lícia fas­cista re­primiu», as­si­nalou-se na in­ter­venção cen­tral da In­ter­jovem, apre­sen­tada pelos seus di­ri­gentes Gon­çalo Paixão, em Lisboa, e Vítor Tei­xeira, em Gaia.

Na ca­rac­te­ri­zação das con­di­ções de vida e de tra­balho, a or­ga­ni­zação es­pe­cí­fica da CGTP-IN para a ju­ven­tude re­alçou os baixos sa­lá­rios, evi­den­ci­ando que dois terços dos jo­vens tra­ba­lha­dores «levam para casa menos de mil euros», sendo que «boa parte» deles re­cebe apenas o sa­lário mí­nimo na­ci­onal. Os pro­blemas agu­dizam-se mais com o au­mento do custo de vida, em es­pe­cial da ha­bi­tação.

Por com­pa­ração com ou­tros países, «somos dos que saem mais tarde de casa dos pais e dos que têm fi­lhos também mais tarde, mas não por es­colha». A grande ins­ta­bi­li­dade dos vín­culos la­bo­rais, os ho­rá­rios des­re­gu­lados, os ritmos in­tensos de tra­balho con­tri­buem para «o au­mento da ex­plo­ração», mas «o Go­verno do PS de­cide fazer ou­vidos moucos às rei­vin­di­ca­ções dos jo­vens tra­ba­lha­dores», en­quanto «o pa­tro­nato vai acu­mu­lando mais lu­cros».

Foram re­fe­ridos vá­rios exem­plos de com­bates la­bo­rais re­centes, com par­ti­ci­pação com­ba­tiva e em­pe­nhada de jo­vens, e foi re­a­fir­mado o apelo a que «a nossa luta, or­ga­ni­zada e em uni­dade», pros­siga, le­vando «com­ba­ti­vi­dade e ale­gria» às co­me­mo­ra­ções do 25 de Abril e do 1.º de Maio.

 

Exi­gência justas

Nas em­presas e ser­viços, bem como nas ac­ções con­ver­gentes, a rei­vin­di­cação de me­lhores con­di­ções de vida e de tra­balho con­cre­tiza-se nas exi­gên­cias re­a­fir­madas na re­so­lução deste 28 de Março, de­sig­na­da­mente: au­mento dos sa­lá­rios em, pelo menos, 10 por cento, e não in­fe­rior a 100 euros, para todos os tra­ba­lha­dores; va­lo­ri­zação das car­reiras e pro­fis­sões; sa­lário mí­nimo na­ci­onal de 850 euros, com re­fe­rência a Ja­neiro; se­mana de 35 horas para todos e com­bate à des­re­gu­lação dos ho­rá­rios; er­ra­di­cação da pre­ca­ri­e­dade e ga­rantia de que a um posto de tra­balho per­ma­nente cor­res­ponda um vín­culo de tra­balho efec­tivo; efec­ti­vação dos di­reitos, no­me­a­da­mente de ma­ter­ni­dade, pa­ter­ni­dade e de tra­ba­lhador-es­tu­dante; re­vo­gação das normas gra­vosas da le­gis­lação la­boral, como o pe­ríodo ex­pe­ri­mental alar­gado até 180 dias, para quem pro­cura o pri­meiro em­prego e a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva; re­forço dos ser­viços pú­blicos e fun­ções so­ciais do Es­tado; ga­rantia do di­reito à ha­bi­tação.

 

Com grande ale­gria e con­fi­ança

O Se­cre­tário-geral do PCP saudou a pas­sagem dos ma­ni­fes­tantes, no Largo Dr. An­tónio de Sousa Ma­cedo, in­te­grando-se de­pois no des­file. Em de­cla­ra­ções à co­mu­ni­cação so­cial, Paulo Rai­mundo ex­pressou «uma grande ale­gria» por «ver esta gente nova, com esta ca­pa­ci­dade e esta de­ter­mi­nação», «nesta gran­diosa ma­ni­fes­tação da ju­ven­tude tra­ba­lha­dora, desta ju­ven­tude que está a tomar nas suas mãos o des­tino das suas vidas» e «exige aquilo que me­rece, nada mais: sa­lá­rios, es­ta­bi­li­dade».

Estes jo­vens «são, sem dú­vida, o pre­sente e o fu­turo de Por­tugal», e «estão a co­me­morar de forma muito de­ter­mi­nada o Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude». «É com grande con­fi­ança que es­tamos aqui a mos­trar a nossa so­li­da­ri­e­dade», disse Paulo Rai­mundo.

Da de­le­gação do PCP fi­zeram ainda parte João Frazão e Mar­ga­rida Bo­telho, mem­bros dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do Co­mité Cen­tral, Alma Ri­vera, do CC e de­pu­tada, e Gon­çalo Fran­cisco, di­ri­gente da Ju­ven­tude Co­mu­nista Por­tu­guesa.

 



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