Em 2022, o défice da balança comercial de mercadorias foi o maior de sempre
A balança de pagamentos do País foi deficitária em 2022, o que não acontecia há 11 anos
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou no passado mês de Fevereiro as primeiras estimativas sobre o comércio externo de mercadorias em 2022.
No conjunto do ano, as exportações e as importações cresceram 23,1% e 31,2%, respectivamente, em relação a 2021, tendo o défice comercial de mercadorias aumentado 11 256 milhões de euros, para 30 783 milhões de euros, um agravamento de 57,6%. Em percentagem do PIB o défice comercial de mercadorias atingiu os 12,9%.
Excluindo os combustíveis e lubrificantes, as exportações e as importações cresceram respectivamente 19,6% e 23,2% em 2022 e o défice da balança comercial de mercadorias situou-se em 19 205 milhões de euros, um agravamento de 39%.
Se é verdade que estes valores nominais das importações e exportações em 2022 são influenciados pelas elevadas subidas dos preços dos bens e serviços registadas ao longo do ano passado, os dados divulgados pelo INE permitem-nos concluir que mesmo em termos reais as importações de mercadorias cresceram a uma taxa superior à das exportações (9,8% e 8,7%), pelo que também desta forma o nosso défice comercial se agravou, atingindo mesmo o maior valor registado nos últimos quinze anos.
O forte crescimento em 2022 em termos reais das nossas exportações de bens (8,7%) e consumo final das famílias (5,8%), bem como a reduzida dimensão do crescimento do investimento (2,7%), expuseram de forma evidente a fragilidade do nosso aparelho produtivo e a sua incapacidade de responder a uma maior procura interna e a um maior volume de exportações.
Os sucessivos ataques desferidos contra o nosso aparelho produtivo ao longo das últimas décadas, fragilizando sectores estratégicos nacionais através do encerramento de grandes empresas ou da sua privatização, como o sector siderúrgico, a indústria de construção e reparação naval, a indústria cimenteira, da metalurgia de base, a indústria química entre outros, reduziram fortemente a capacidade produtiva nacional e consequentemente tornaram o nosso país cada vez mais dependente do exterior.
Dependência externa cada vez mais acentuada na satisfação das necessidades básicas do País, bem expressa no agravamento da nossa balança alimentar e balança energética, que atingiram a preços correntes cerca de 5,9 e 11,6 mil milhões de euros, respectivamente, e dependência externa bem visível no maior crescimento das importações, em grande parte induzido pelo crescimento das exportações. Dados da nossa economia referente a 2020, os últimos conhecidos, dizem-nos que por cada euro que exportamos necessitamos de importar hoje 43 cêntimos de bens intermédios ou de investimento.
Ora, se deve ser assinalado como positivo o crescimento do PIB em 2022, ter sido bem superior à média do crescimento económico que tem vindo a ser registado nas últimas décadas no nosso país (mesmo sabendo do efeito estatístico resultante da forte quebra registada em 2020), a análise desagregada deste crescimento mostra-nos para além do mais que ele foi conseguido à custa de um forte agravamento do défice externo da nossa balança comercial de mercadorias e por um forte agravamento da balança de rendimentos primários, resultado de uma elevada saída de capitais (dividendos e juros), como remuneração dos capitais estrangeiros que hoje dominam os grandes grupos económicos e financeiros nacionais.
A conjugação e agravamento de todas estas nossas debilidades levaram mesmo a que, pela primeira vez nos últimos onze anos, a nossa balança de pagamentos fosse também ela deficitária.
Estes elementos, não constituindo uma novidade, confirmam o quão necessário é uma política alternativa, que tenha na promoção da produção nacional uma opção sem qual não há futuro.