EUA pressionam países africanos
Os Estados Unidos da América e aliados multiplicam pressões sobre países africanos procurando levá-los a mudar as suas posições de neutralidade face ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Em Maputo, na semana passada, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse «respeitar» a política externa de Moçambique mas insistiu que «não se pode ser neutro quando um país ataca outro, em particular quando esse país é membro do Conselho de Segurança da ONU», aludindo à Rússia.
«Não pedimos aos países para tomarem partido por um lado ou escolherem entre amigos, Moçambique é um país independente e toma as suas posições», reforçou a diplomata norte-americana.
Os EUA são o maior doador de ajuda humanitária a Moçambique e apoiam o treino de militares moçambicanos, no quadro da luta contra o terrorismo na província de Cabo Delgado.
Coincidindo com as declarações de Linda Thomas-Greenfield em Maputo, o cargueiro Greenwich, de bandeira britânica, fretado pelo Programa Alimentar Mundial, descarregava no porto moçambicano da Beira 20 mil toneladas de fertilizantes russos destinados ao vizinho Malawi. O carregamento foi o primeiro de uma série de doações, da Rússia a países africanos, de fertilizantes que estavam bloqueados em portos europeus devido às sanções impostas pelo «Ocidente» a Moscovo. A empresa russa Uralchem-Uralkali concordou em Novembro do ano passado em exportar para África 260 mil toneladas de fertilizantes que tinham sido bloqueados em armazéns na Bélgica, Países Baixos e Estónia e que só agora começam a chegar a África, neste caso ao Malawi através de Moçambique.
Moçambique que, como muitos outros países africanos, absteve-se nas votações de condenação da Rússia nas Nações Unidas, assumiu em princípios de Janeiro o mandato de membro não permanente do Conselho de Segurança. O presidente Filipe Nyusi garantiu que a orientação do seu país estará centrada na defesa e salvaguarda dos interesses de Moçambique, da África, dos países em desenvolvimento e do mundo na defesa da paz e segurança internacionais, visando a promoção da concórdia e do desenvolvimento sustentável dos povos. E lembrou, em defesa das posições do seu governo, que os moçambicanos «têm história e experiência na defesa de medidas de mitigação de conflitos e, acima de tudo, na promoção de soluções negociadas para a paz».
Também a União Europeia tenta condicionar as opções soberanas dos países africanos.
O alto representante do bloco europeu para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrel, deslocou-se por estes dias à África do Sul e apelou ao governo de Pretória para aproveitar «as boas relações com a Rússia» e convencer Moscovo a «parar» a guerra com a Ucrânia. «Estamos cientes da política de não alinhamento da África do Sul. É por isso que a União Europeia não está a pedir à África do Sul que escolha um lado. Pedimos-lhe simplesmente que cumpra a Carta das Nações Unidas. Nada mais. Mas também nada menos que isso», declarou na capital sul-africana, seguindo o guião de Washington e da NATO. Borrel referiu-se também às manobras navais conjuntas da África do Sul, Rússia e China, que vão decorrer de 17 a 27 em águas sul-africanas, considerando que os exercícios militares não são boas notícias para a União Europeia.