Aumentos de Portagens: crónica de uma chantagem anunciada

Pedro Massano

As empresas privatizadas deixam de servir o País e passam a servir-se do País

STORYSET ON FREEPIK

A vida está mais cara. Sobe o preço de tudo à medida da gula de lucro dos entronados «donos disto tudo». E, lamentavelmente, o Governo cedeu à chantagem das concessionárias das PPP das autoestradas e das pontes - e as portagens subiram também.

Os governos da política de direita entregaram as autoestradas às concessionárias privadas, que vêm amealhando as vantagens e a receita de portagens cobradas em infraestruturas construídas com dinheiros públicos. O Estado ainda lhes dá todos os anos milhões dos nossos euros porque os «compromissos» – os ruinosos contratos PPP – «são para cumprir». No quadro de inflação generalizada, as concessionárias poderiam, pelos tais «compromissos», impor brutais aumentos já em Janeiro. O Governo fingiu que negociou, mas cedeu. O povo paga.

Anunciado como vitória do Governo mais um aumento contra o País, importa relembrar toda a trama: o desfecho estava anunciado, a estória não é nova e até as personagens são as do costume.

Logo em Julho, Pires de Lima (ex-ministro do Governo PSD/CDS), presidente da Comissão Executiva da Brisa (outrora pública), releu os contratos renegociados pelo Governo de que fez parte com outros vizinhos da política de direita. Viu a oportunidade e clamou: «Se o Governo não fizer nada, o aumento [das portagens] será o que corresponder à inflação.» As outras concessionárias alinharam no jogo das PPP, incluindo a Lusoponte, e ameaçaram durante meses com os aumentos de 10%. Inevitáveis, segundo eles, apesar dos custos de manutenção das infraestruturas não terem aumentado 10%. Ou seja, anunciaram 10% porque podiam, pelos «compromissos», aumentar 10%. Se pudessem sugar 20% tinham anunciado 20%. O então ministro do PS, Pedro Nuno Santos, retorquiu com voz grossa que os aumentos de 10% não iam acontecer porque o Governo não ia deixar. Fazia até lembrar a prometida «lição à GALP» ou «o povo paga, mas o povo manda», sobre a TAP. Enfim, as patranhas do PS!

E o Governo, para disfarçar a sua cumplicidade e depois de ter piado fininho com os privados, fingindo não ver a chantagem, canta vitória porque o crime tem menos sangue do que se anunciava. As portagens não aumentaram 10, aumentaram, pelo menos, 7,8%! Nos pórticos já temos aumentos de 4,9% porque o resto o Governo vai «compensar» directamente com o nosso dinheiro (via Orçamento do Estado) as concessionárias. Uns 140 000 000 de euros assim, porque sim. É um roubo!

A chantagem e o crime estavam à vista de todos, mas só o PCP (o de sempre) denunciou o crime que estava a ser preparado. Questionou o Governo, apresentou propostas para o impedir na Assembleia da República, denunciou junto das populações.

Esta estória é a história da contra-revolução em Portugal, semelhante quando se fala da EDP, da GALP, da REN, dos CTT, da Banca ou da PT. História publicada em vários volumes contra Abril. No volume das autoestradas há nesmo um capítulo em que o Estado, através da Autoridade Tributária, até se transforma em «cobrador-do-fraque» ao serviço das concessionárias. Soa sempre absurda, mas é sempre a mesma estória: depois de privatizadas pelos suspeitos do costume – PS, PSD, CDS –, estas empresas estratégicas deixam de servir o povo e o País e acham-se no direito de chantagear para impor a sua vontade de lucro máximo.

Aos comunistas cabe o papel de organizar todas as vítimas destes aumentos e derrotar quem chantageia e quem, em nome do nosso povo, aceita com agrado ser chantageado. Organizemos, que é tempo de dar outro fim a todas estas estórias.




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